São Paulo, quinta-feira, 03 de setembro de 2009

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Capitalização deve beneficiar fundos estrangeiros

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O pequeno investidor deverá ser o mais prejudicado na operação de aumento de capital que a Petrobras prepara. A tendência é que, com menos fôlego financeiro para comprar as novas ações, eles tenham sua fatia na empresa diminuída, dando mais espaço para a União e os investidores estrangeiros.
É o que preveem analistas de mercado. Com a oferta, todos os acionistas terão direito de comprar ações para manter a participação. Quem não o fizer encolherá na empresa -e passa a receber menos dividendos.
O governo já demonstrou, diversas vezes, desconforto com a presença maciça de estrangeiros no capital da Petrobras.
A oferta de ações que a Petrobras fará, em data ainda não definida, visa a obtenção de dinheiro para a empresa pagar ao governo pelas reservas que receberá da União no pré-sal.
"Dependendo do valor a ser atingido, o pequeno investidor brasileiro não terá recursos para comprar as ações. A tendência é que os estrangeiros entrem com mais força na oferta", diz Lucas Brendler, analista do banco Geração Futuro.
Se a cessão da União chegar ao limite de 5 bilhões de barris, a um preço estimado de US$ 5, a oferta poderá superar os R$ 150 bilhões, dos quais um terço será do governo.
Hoje os estrangeiros têm 37% do capital da Petrobras. Os brasileiros, pessoa física e jurídica -excluído o fundo de pensão do BB-, chegam a 19,7%.

Reservas certas
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, afirmou que "não há risco de volume" na cessão de reservas que a União fará em favor da empresa, de até 5 bilhões de barris.
"Se, depois de alguns anos, se comprovar que as áreas concedidas não chegam a 5 bilhões de reservas de óleo recuperável, a União vai procurar outras reservas para ceder até completar o valor", disse. Por outro lado, se ficar comprovado que as áreas cedidas têm mais de 5 bilhões de barris, as reservas excedentes serão devolvidas ou a Petrobras pagará a diferença.
Gabrielli não vê risco de a operação de capitalização e cessão de direitos das reservas ser contestada por suposta infração à Lei das Sociedades Anônimas. Especialistas advertem que o fato de envolver partes relacionadas - União e empresa, controladora e controlada- configura conflito de interesse.
"São duas operações distintas: a cessão de direitos e a capitalização. A cessão é uma operação comercial, e nessas operações minoritários não decidem. Na capitalização, todos os minoritários terão o direito de comprar as mesmas ações que serão ofertadas à União."

Fabricantes de máquinas
A Petrobras fez ontem a primeira reunião com o setor de bens de capital para dar início às negociações sobre o conteúdo nacional nos projetos para exploração do pré-sal.
Segundo José Velloso, primeiro vice-presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Industria de Máquinas e Equipamentos), a Petrobrás apresentou os planos de exploração do pré-sal e fez um alerta sobre o tamanho do desafio à indústria de bens de capital.
A estatal informou que pretende elevar a produção de petróleo dos atuais 1,9 milhão para 3,8 milhões de barris por dia até 2020, um esforço que exigirá equipamentos novos capazes de viabilizar o desenvolvimento dos campos. A conversa não evoluiu, segundo Velloso, para os índices de conteúdo nacional a serem estabelecidos.
"Isso ainda não sabemos. A Petrobras nos informou que isso ainda não está definido, mas, pelo que deu para observar, estamos sendo avisados sobre a mobilização que precisamos fazer para participar desse esforço industrial", afirmou.
A expectativa da indústria é contar com financiamento para aumentar sua participação no desenvolvimento do pré-sal.


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