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Dólar passa
de R$ 2, e risco cambial assusta
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Exatos 62 dias após descer
ao piso de R$ 1,559, o dólar
chegou ontem a R$ 2,023,
novo patamar do câmbio
brasileiro em meio à crise
nos mercados globais.
Só ontem, a moeda americana saltou 5,09% no Brasil,
seguindo a tendência internacional de valorização sobre as demais moedas -o dólar subiu 1,5% ante o euro.
Desde 1º de agosto, o dólar
já aumentou quase 30% no
país, tornando o risco cambial brasileiro um dos ativos
de maior volatilidade no
mundo. A variação do real já
é tão grande que inviabiliza o
planejamento financeiro de
empresas e pode imprimir
perdas consideráveis nos resultados de companhias como Sadia, Aracruz e CSN.
Segundo analistas, é difícil
saber se o dólar ficará nesse
patamar de R$ 2 nos próximos dias. Tudo dependerá
das incertezas sobre o rumo
da economia americana.
Para Nathan Blanche, especialista em câmbio da consultoria Tendências, não há
preço neste momento para o
dólar nem para os juros pagos pelas empresas brasileiras. "O câmbio volta [para
menos de R$ 2]. Tem fundamento para isso. Mas, se o
imobilismo continuar, poderá ir para R$ 3 e R$ 4. Não há
preço para taxa de câmbio e
juros neste momento. O barco está à deriva", disse.
Blanche afirma que o pior
que o governo pode fazer
num momento como este é
"passar a mão na cabeça" e
oferecer taxas subsidiadas
do BNDES para empresas e
exportadores. "Tem que deixar o mercado trabalhar. Se o
preço é alto, paga quem pode
e precisa do dinheiro. Não é
banco de desenvolvimento
que vai ajudar", disse.
Para Sidnei Nehme, da
corretora NGO, a alta do dólar se deve a um aumento
considerável nas apostas
contra o real na BM&F. Ele
vê a ação de bancos que apostaram mais de US$ 9 bilhões
na alta da moeda desde o fim
de agosto. Do outro lado,
afirma Nehme, estão estrangeiros que ganham mais com
a baixa e as empresas exportadoras, que buscaram se
proteger da variação do dólar
e tomaram prejuízos altos
com essa proteção.
"Agora, eles buscam desorganizadamente reverter essas posições para zerá-las e
estancar os prejuízos. Nesse
jogo, os vendidos [apostaram
na baixa] estão encurralados
pelos comprados, que provocam uma alta artificial do dólar e descolam o preço da mínima razoabilidade", disse.
Kelly Lima, da corretora
SLW, descarta a possibilidade de o mercado ter se adiantado a uma eventual saída
maior da Bolsa. "Está refletindo a crise. Há uma mudança mundial no câmbio."
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