São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2008

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Sob pressão, Congresso dos EUA vota pacote

Em meio a indecisão, Bolsa de NY tem forte queda; Bush pede aprovação e Pelosi diz que só haverá votação se vitória do "sim" for certa

Acréscimos aprovados pelo Senado na votação de anteontem podem alienar a base de democratas conservadores na Câmara

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A versão "vitaminada" do pacote proposto pelo governo Bush para ajudar o sistema financeiro do país, aprovada anteontem à noite pelo Senado, só será votada hoje pela Câmara dos Representantes (deputados) se os líderes tiverem certeza de que haverá votos suficientes para a aprovação, disse a presidente do Congresso, a democrata Nancy Pelosi.

"Não vamos colocar o projeto em votação sem termos os votos, mas estou otimista de que o colocaremos", disse a deputada. Pelosi quer evitar repetir o susto de segunda-feira, quando uma outra versão do pacote foi rejeitada numa revolta liderada por parte da base governista, principalmente os mais conservadores, e da fatia progressista da oposição democrata.

Por 12 votos, o pacote não passou então, e a Bolsa do país sofreu naquele dia perda de US$ 1,2 trilhão, na maior derrota política dos dois mandatos do republicano George W. Bush. O líder da minoria na Câmara, Steny Hoyer, disse que há "boa perspectiva" de os republicanos comparecerem com os votos que faltam hoje.

O problema agora parece ser os democratas fiscalmente conservadores, os chamados "blue dogs", que compareceram com 25 votos a favor na segunda-feira. Há o receio de que o grupo se rebele por conta de algumas das modificações feitas no Senado, especificamente o corte de impostos para a classe média e pequenas empresas, o que acrescentou US$ 150 bilhões aos US$ 700 bilhões pedidos pelo governo americano.

O dinheiro, que já era a maior intervenção do tipo na economia do país, virá da autorização do Congresso, embutida no plano, para que o governo eleve nesse montante a dívida pública, para US$ 11,3 trilhões. "Teremos de ignorar essa irresponsabilidade do Senado", disse Jim Cooper, um dos membros da Blue Dog Coalition que votou "sim" na segunda, referindo-se ao custo extra.

A principal medida acrescentada alivia o imposto de até 25 milhões de pessoas, mas centenas de "earmarks" (emendas introduzidas por parlamentares ou grupos de parlamentares que não têm a ver com a lei principal) causaram espécie ao longo do dia, entre elas descontos fiscais para "fabricantes de flechas de madeira usadas por crianças". "Queremos ver se ainda temos os 141 votos [democratas] que tivemos antes e pelo menos isso parece estar confirmado", disse Pelosi.

Na hora do almoço, Bush voltou a pedir a aprovação falando das conseqüências de nova rejeição na chamada "Main Street", a "rua principal", significando a economia não-financeira, em oposição aos bancos de Wall Street: "O crédito está congelado. As pessoas não estão conseguindo empréstimos de bancos, e os bancos não estão emprestando para as médias e pequenas empresas. Isso quer dizer que empregos estão em risco", disse o presidente.

A indecisão em relação ao voto de hoje, aliada à divulgação ontem de índices que sugerem que a crise financeira atingiu a chamada "economia real", derrubou o índice industrial Dow Jones, o mais importante da Bolsa de Nova York, que fechou em queda de 3,22%.

Entre os resultados que influenciaram o pregão, a queda de 4% nos pedidos industriais e o aumento no número de pedidos de seguro-desemprego nos EUA para a maior taxa desde setembro de 2001, após os ataques terroristas a Nova York.


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