São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2008

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Arrocho global no crédito ameaça investimentos na América Latina

DA BLOOMBERG

A mais rápida expansão econômica latino-americana em 30 anos pode estar chegando ao fim, enquanto o arrocho global do crédito prejudica os investimentos e reduz a demanda pelas commodities da região.
"Estamos numa crise econômica séria", disse o vice-presidente da Colômbia, Francisco Santos. "Os financiamentos vão se tornar cada vez mais difíceis, e isso significa que será difícil atrair investimentos."
O crescimento da região em 2009 pode cair para menos de 3,3%, contra 4,6% este ano, segundo economistas da Barclays Capital. Com a desaceleração, será difícil reduzir ainda mais a pobreza, que chegou a seu nível mais baixo desde antes da chamada "década perdida" dos anos 1980, na qual os países emprestaram mais dinheiro do que conseguiam pagar.
A crise vai pôr à prova o compromisso assumido pela América Latina nos últimos dez anos com a redução da dívida e os mercados abertos. Esta semana o México desistiu dos planos de privatizar um aeroporto, citando a crise americana, e o presidente costarriquenho, Oscar Arias, avisou que o crescimento do país pode cair pela metade, devido à queda nos investimentos. No Brasil, o crédito que possibilitou a maior expansão do país em mais de uma década está diminuindo muito, segundo Ricardo Espírito Santo, diretor da unidade brasileira do banco português Espírito Santo SA.
"Os últimos quatro ou cinco anos foram muito bons para a América Latina, mas esse ciclo vai terminar", disse Rodrigo Valdés, do Barclays Capital, em Nova York. "Estamos prevendo um desaquecimento em praticamente todas as economias."
O México, segunda maior economia latino-americana, estreitamente ligado aos EUA, pode crescer 2,5% em 2009, contra previsão anterior de 3%.
Nos últimos cinco anos a América Latina vem tendo crescimento de 5,5% ao ano, um ritmo não visto desde o período de 1970 a 1974.
À medida que as linhas de crédito estrangeiras vão secando, os bancos centrais vêm injetando liquidez.
"Os bancos locais tinham contrapartes no exterior que lhes forneciam dólares, mas esses bancos no exterior quebraram, foram adquiridos ou limitaram o crédito que oferecem", disse o chileno Ricardo Gomez.
Os preços de commodities como soja, ouro, cobre e petróleo, que ajudaram a financiar o boom da região, caíram 28% desde seu pico de 2 de julho, revela o Índice RJ/CRB de Preços de Commodities. Se os preços retornassem a sua média dos últimos dez anos, os orçamentos latino-americanos equilibrados retornariam rapidamente a um déficit de 4,1% do PIB, diz o Morgan Stanley.


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