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Após cair 1,3%, indústria nacional já espera piora
Resultado de agosto, depois de dois meses de alta, supera mesmo período de 2007
Para analistas do setor,
crédito mais caro deve ter
efeito imediato e mais
negativo sobre bens
duráveis e exportação
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Após dois meses em alta, a
produção da indústria caiu
1,3% de julho para agosto na
comparação livre de influências sazonais, resultado que devolve em parte alta acumulada
em junho e julho -4,3%. Em
relação a agosto de 2007, houve
aumento de 2% -o 26º consecutivo, segundo o IBGE.
Para Sílvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE, o fraco desempenho reflete o efeito
calendário, pois agosto teve
dois dias úteis a menos que julho e que agosto de 2007. Outro
fator que afetou a indústria foi a
parada por quase um mês de
uma refinaria da Petrobras.
Com o resultado, a alta acumulada em 2008 ficou em 6%.
Mas especialistas estimam perda de dinamismo do setor nos
próximos meses diante da crise
nos mercados financeiros e dos
juros maiores no Brasil.
"Do lado real, a economia
brasileira ainda não sentiu os
efeitos da crise, mas o vendaval
lá fora é muito forte. Certamente, não estamos imunes",
diz Flávio Castelo Branco, economista da CNI (Confederação
Nacional da Indústria).
Com o crédito mais caro e escasso, afirma, as indústrias
mais afetadas serão as exportadoras e as de bens duráveis
(veículos e eletrodomésticos),
cuja demanda depende de financiamento. Diante de tal cenário, Castelo Branco prevê um
PIB menor neste trimestre e
em 2009, também sob impacto
do aumento da Selic.
"Existem três canais de
transmissão da crise para o
Brasil: o crédito, que já está
mais restrito e caro; o comércio
exterior, com redução de volume e preço dos produtos exportados; e o empobrecimento de
empresas e poupadores por
causa da queda das Bolsas, o
que mexe com a demanda", diz
Luciana Sá, diretora do Departamento Econômico da Firjan
(Federação das Indústrias do
Estado do Rio de Janeiro).
Segundo ela, o efeito de restrição e do encarecimento do
crédito é o mais intenso e imediato. A sorte, diz, é que a economia brasileira é mais dependente do mercado doméstico, o
que reduz o impacto da crise.
Bráulio Borges, da LCA, afirma que a indústria já sofre com
financiamentos mais caros. "Se
o pacote não for aprovado e a
crise de confiança se intensificar, a situação vai evoluir para
uma grande depressão mundial, e o Brasil crescerá não
mais que 2% em 2009."
Num cenário menos catastrófico, diz, o PIB brasileiro vai
subir 3,7% em 2009, contra
5,4% estimados pela LCA para
2008. A Tendências projeta alta de 4,1% no ano que vem -são
5,4% previstos para 2008.
"O resultado de agosto não
mostra ainda os reflexos da crise, que serão percebidos no último trimestre e, com mais força, em 2009", diz Cláudia Oshiro, da Tendências.
Dados da FGV já mostraram
nesta semana que a indústria
começa a repercutir a crise: o
nível de estoque aumentou, a
disposição para contratações
caiu e a taxa de ocupação do
parque produtivo baixou.
Além da crise, diz Oshiro, a
indústria reduzirá seu ritmo de
produção neste segundo semestre por conta de uma base
mais elevada de comparação,
pois registrara uma forte expansão no período de 2007.
Em agosto, os destaques negativos, por setores, ficaram
com produtos químicos e refino de petróleo e álcool. A produção de alimentos caiu 3,1%
ante agosto e 7,4% contra setembro de 2007 -o pior resultado em oito anos. Dentre as
categorias, os piores resultados
ficaram com bens intermediários e não-duráveis. Os duráveis cresceram 2,1%.
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