São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2008

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Após cair 1,3%, indústria nacional já espera piora

Resultado de agosto, depois de dois meses de alta, supera mesmo período de 2007

Para analistas do setor, crédito mais caro deve ter efeito imediato e mais negativo sobre bens duráveis e exportação

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Após dois meses em alta, a produção da indústria caiu 1,3% de julho para agosto na comparação livre de influências sazonais, resultado que devolve em parte alta acumulada em junho e julho -4,3%. Em relação a agosto de 2007, houve aumento de 2% -o 26º consecutivo, segundo o IBGE.
Para Sílvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE, o fraco desempenho reflete o efeito calendário, pois agosto teve dois dias úteis a menos que julho e que agosto de 2007. Outro fator que afetou a indústria foi a parada por quase um mês de uma refinaria da Petrobras.
Com o resultado, a alta acumulada em 2008 ficou em 6%. Mas especialistas estimam perda de dinamismo do setor nos próximos meses diante da crise nos mercados financeiros e dos juros maiores no Brasil.
"Do lado real, a economia brasileira ainda não sentiu os efeitos da crise, mas o vendaval lá fora é muito forte. Certamente, não estamos imunes", diz Flávio Castelo Branco, economista da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Com o crédito mais caro e escasso, afirma, as indústrias mais afetadas serão as exportadoras e as de bens duráveis (veículos e eletrodomésticos), cuja demanda depende de financiamento. Diante de tal cenário, Castelo Branco prevê um PIB menor neste trimestre e em 2009, também sob impacto do aumento da Selic.
"Existem três canais de transmissão da crise para o Brasil: o crédito, que já está mais restrito e caro; o comércio exterior, com redução de volume e preço dos produtos exportados; e o empobrecimento de empresas e poupadores por causa da queda das Bolsas, o que mexe com a demanda", diz Luciana Sá, diretora do Departamento Econômico da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
Segundo ela, o efeito de restrição e do encarecimento do crédito é o mais intenso e imediato. A sorte, diz, é que a economia brasileira é mais dependente do mercado doméstico, o que reduz o impacto da crise.
Bráulio Borges, da LCA, afirma que a indústria já sofre com financiamentos mais caros. "Se o pacote não for aprovado e a crise de confiança se intensificar, a situação vai evoluir para uma grande depressão mundial, e o Brasil crescerá não mais que 2% em 2009."
Num cenário menos catastrófico, diz, o PIB brasileiro vai subir 3,7% em 2009, contra 5,4% estimados pela LCA para 2008. A Tendências projeta alta de 4,1% no ano que vem -são 5,4% previstos para 2008.
"O resultado de agosto não mostra ainda os reflexos da crise, que serão percebidos no último trimestre e, com mais força, em 2009", diz Cláudia Oshiro, da Tendências.
Dados da FGV já mostraram nesta semana que a indústria começa a repercutir a crise: o nível de estoque aumentou, a disposição para contratações caiu e a taxa de ocupação do parque produtivo baixou.
Além da crise, diz Oshiro, a indústria reduzirá seu ritmo de produção neste segundo semestre por conta de uma base mais elevada de comparação, pois registrara uma forte expansão no período de 2007.
Em agosto, os destaques negativos, por setores, ficaram com produtos químicos e refino de petróleo e álcool. A produção de alimentos caiu 3,1% ante agosto e 7,4% contra setembro de 2007 -o pior resultado em oito anos. Dentre as categorias, os piores resultados ficaram com bens intermediários e não-duráveis. Os duráveis cresceram 2,1%.


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