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ANÁLISE
Combate à crise americana é missão não cumprida
Complacência que começa a se instalar em relação à economia dos EUA é tola e perigosa, e governo precisa fazer muito mais que o planejado para recuperá-la
Paul Richards - 17.set.09/France Presse
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Fila em feira de aconselhamento para obter emprego, em Baltimore (EUA); 263 mil postos de trabalho foram cortadas em setembro
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
As Bolsas estão em alta. Ben
Bernanke diz que a recessão
acabou. E percebo entre muitas
figuras influentes uma crescente disposição de declarar "missão cumprida", no que diz respeito ao combate à crise. Já ouvi muitas vezes que chegou a
hora de mudar de foco e deixar
de lado o estímulo econômico
em troca do combate ao deficit
orçamentário.
Não, não chegou. E a complacência que começa a se instalar
quanto à situação da economia
é tanto tola quanto perigosa.
Sim, o Federal Reserve (Fed,
o banco central dos EUA) e o
governo Obama nos tiraram da
"beira do abismo", aliás, o título
de um novo estudo de Christina Romer, a presidente do Conselho de Assessoria Econômica
da Casa Branca. Romer argumenta, convincentemente, que
a política expansiva nos salvou
de uma possível reprise da
Grande Depressão.
Mas, embora seja bom não
termos uma nova depressão,
tudo indica que, a menos que o
governo faça muito mais do que
o que está planejado atualmente para ajudar a economia a se
recuperar, o mercado de trabalho -que no momento conta
com seis vezes mais candidatos
do que vagas- continuará péssimo por muitos anos.
De fato, as projeções econômicas do governo americano
(as quais levam em conta os
empregos adicionais que, segundo a administração Obama,
suas políticas criarão) indicam
que o índice médio de desemprego, que ficava abaixo dos 5%
dois anos atrás, terá média de
9,8% no ano que vem, 8,6% em
2011 e 7,7% em 2012.
Esse desfecho não deveria
ser considerado aceitável. Para
começar, ele implica um grande sofrimento ao longo dos próximos anos. E, além disso, um
desemprego que se mantenha
tão elevado por prazo tão longo
causará sérias dúvidas quanto
ao futuro dos Estados Unidos.
Quem quer que acredite que
estamos fazendo o bastante para criar vagas deveria ler um
novo relatório de John Irons,
do Instituto de Política Econômica, que descreve as "cicatrizes" que serão causadas pela
persistência de um alto desemprego. Entre outras coisas, ele
aponta que desemprego sustentado na escala agora prevista resultaria em grande elevação na pobreza infantil e existem fortes indícios de que infâncias vividas na pobreza têm
alarmante probabilidade de
conduzir a vidas infortunadas.
Esses custos humanos deveriam ser a nossa principal preocupação, mas as projeções de
custo também são sombrias. As
projeções do Serviço Orçamentário do Congresso, por exemplo, implicam que, no período
de 2010 a 2013 -ou seja, sem
contar as perdas já sofridas-, a
"disparidade de produção" (a
diferença entre o volume que a
economia poderia ter produzido e o que ela estará efetivamente produzindo) será de
mais de US$ 2 trilhões. Isso significa que trilhões de dólares
em potencial produtivo estarão
sendo desperdiçados.
Mas espere. Há dados ainda
piores. Um novo relatório do
Fundo Monetário Internacional (FMI) demonstra que a espécie de recessão que vivemos,
uma recessão causada por crise
financeira, muitas vezes provoca prejuízo de longo prazo à
perspectiva de crescimento de
um país. "A trajetória da produção tende a se deprimir substancial e persistentemente depois de crises bancárias."
O mesmo relatório, porém,
sugere que esse desfecho não é
inevitável: "Concluímos que
uma resposta de política fiscal
mais forte em curto prazo"
-com isso, eles querem dizer
um aumento temporário nos
gastos do governo- "está associada de forma significativa a
uma perda menor de produção
em médio prazo."
Deveríamos estar fazendo
muito mais do que estamos para promover a recuperação
econômica, não só porque isso
reduziria as dores que sofremos atualmente mas também
porque melhoraria as nossas
perspectivas em longo prazo.
Mas será que podemos fazer
ainda mais: fornecer mais assistência aos Estados em crise e
aos desempregados, gastar
mais em infraestrutura, oferecer créditos tributários aos empregadores que criarem postos
de trabalho? Sim, podemos.
A ideia dominante é que tentar ajudar a economia americana agora produz ganhos no curto prazo à custa de dores no
longo prazo. Mas, como acabei
de indicar, do ponto de vista do
país como um todo não é assim
que as coisas funcionam. A crise está causando danos de longo prazo à nossa economia e sociedade e mitigá-la resultaria
em um futuro melhor.
O que é verdade é que gastar
mais na recuperação e na reconstrução agravaria a posição
fiscal do governo. Mas, mesmo
quanto a isso, as ideias dominantes tendem a exagerar demais os argumentos. Os verdadeiros custos fiscais das medidas de apoio à economia são
realmente pequenos.
A verdade é que gastar dinheiro agora significa uma economia mais forte em curto e em
longo prazos. E uma economia
mais forte significa mais arrecadação, o que compensa larga
parcela do custo inicial. Cálculos rápidos sugerem que essa
compensação não atinge os
100%, de modo que o estímulo
fiscal não sai de graça. Mas custa muito menos do que seria de
imaginar por quem acompanha
debates supostamente bem informados.
Sei que ampliar as medidas
de estímulo é uma proposta difícil de defender em termos políticos. Mas, mesmo assim, é
uma necessidade urgente. A
questão não deveria ser se podemos fazer mais para promover a recuperação e, sim, se podemos nos dar ao luxo de não
fazê-lo. E a resposta é não.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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