São Paulo, sábado, 03 de outubro de 2009

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Indústria recupera 50% das perdas na crise

Produção sobe oito meses seguidos e acumula perda de 10% desde setembro de 2008; no auge da turbulência, redução foi de 21%

Mercado interno move recuperação, que esbarra na fraca demanda global e na ociosidade das fábricas, o que retarda investimentos


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Embalada pelo mercado interno e por medidas de estímulo, a produção da indústria nacional sobe há oito meses seguidos e já "devolveu" metade das perdas registradas desde o início da crise, segundo o IBGE.
De julho para agosto, o setor cresceu 1,2% na taxa livre de efeitos sazonais, mas acumula ainda uma queda de 10,2% desde setembro de 2008. Tal retração, porém, chegou a 20,9% entre setembro e dezembro do ano passado, no auge da crise.
Desde janeiro, a indústria cresce sustentada pelo consumo de bens duráveis (veículos, em especial, estimulados pela redução do IPI) e não duráveis -categoria que inclui alimentos, bebidas e artigos de primeira necessidade, cujo consumo é mais resistente a crises.
Desde 2004, quando a indústria se recuperava rapidamente da recessão pós-eleição do PT, a produção não avançava por oito meses seguidos -algo que só havia ocorrido antes em 1994, na esteira do Real.
A atual fase de recuperação, dizem especialistas, esbarra, porém, em dois pontos: a fraca demanda global, que restringe as exportações brasileiras de manufaturados, e a elevada capacidade ociosa das linhas de produção das fábricas, o que retarda novos investimentos.
Diante desse cenário, a indústria registrou uma queda de 7,2% em agosto na comparação com agosto de 2008 -ritmo menor, porém, que o tombo no trimestre anterior, quando as perdas até superaram os 10%. De janeiro a agosto, amarga uma retração acumulada de 12,1% -o pior desempenho desde 1990 (8,2%) no período .
Para Isabela Nunes, gerente da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, o mercado interno sustenta a retomada da indústria desde janeiro, puxado tanto pela renda em alta como pelo corte de impostos promovido pelo governo para estimular alguns setores.
Entretanto, a falta de dinamismo do mercado externo e o retardo de novos investimentos restringem a reação e explicam o patamar mais baixo de produção em 2009. De todas as categorias de produtos, a de bens de capital (máquinas e equipamentos) é que registra o pior desempenho: queda de 23% de janeiro a agosto.
Esses dois fatores levarão a indústria a crescer menos no pós-crise, apesar da previsão de uma retomada forte em 2010, lastreada na fraca base de comparação, avalia Sérgio Vale, economista da MB Associados.
"O mercado interno vai continuar a crescer, mas não será capaz de absorver a queda da produção que seria voltada à exportação", diz Vale.
A reação, segundo Vale, vai se estagnar após esse repique inicial e deve se estabilizar em níveis inferiores à crise.
Na avaliação do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o atual ritmo de crescimento da produção industrial já não é "suficiente para uma rápida convergência para o nível equivalente ao período anterior à crise internacional".
Na visão da LCA, embora a indústria tenha desacelerado em relação a julho -quando o crescimento havia sido de 2,2%-, a produção "seguiu em bom ritmo de expansão."
Segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a atividade industrial paulista já caiu em agosto -0,8%-, pela primeira vez em seis meses.
Por outro lado, o emprego na indústria subiu 3,9% nas principais metrópoles e impediu uma alta da taxa de desemprego, de acordo com o IBGE.


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