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Indústria recupera 50% das perdas na crise
Produção sobe oito meses seguidos e acumula perda de 10% desde setembro de 2008; no auge da turbulência, redução foi de 21%
Mercado interno move recuperação, que esbarra na fraca demanda global e na ociosidade das fábricas, o que retarda investimentos
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Embalada pelo mercado interno e por medidas de estímulo, a produção da indústria nacional sobe há oito meses seguidos e já "devolveu" metade
das perdas registradas desde o
início da crise, segundo o IBGE.
De julho para agosto, o setor
cresceu 1,2% na taxa livre de
efeitos sazonais, mas acumula
ainda uma queda de 10,2% desde setembro de 2008. Tal retração, porém, chegou a 20,9% entre setembro e dezembro do
ano passado, no auge da crise.
Desde janeiro, a indústria
cresce sustentada pelo consumo de bens duráveis (veículos,
em especial, estimulados pela
redução do IPI) e não duráveis
-categoria que inclui alimentos, bebidas e artigos de primeira necessidade, cujo consumo é
mais resistente a crises.
Desde 2004, quando a indústria se recuperava rapidamente
da recessão pós-eleição do PT,
a produção não avançava por
oito meses seguidos -algo que
só havia ocorrido antes em
1994, na esteira do Real.
A atual fase de recuperação,
dizem especialistas, esbarra,
porém, em dois pontos: a fraca
demanda global, que restringe
as exportações brasileiras de
manufaturados, e a elevada capacidade ociosa das linhas de
produção das fábricas, o que retarda novos investimentos.
Diante desse cenário, a indústria registrou uma queda de
7,2% em agosto na comparação
com agosto de 2008 -ritmo
menor, porém, que o tombo no
trimestre anterior, quando as
perdas até superaram os 10%.
De janeiro a agosto, amarga
uma retração acumulada de
12,1% -o pior desempenho
desde 1990 (8,2%) no período .
Para Isabela Nunes, gerente
da Pesquisa Industrial Mensal
do IBGE, o mercado interno
sustenta a retomada da indústria desde janeiro, puxado tanto pela renda em alta como pelo
corte de impostos promovido
pelo governo para estimular alguns setores.
Entretanto, a falta de dinamismo do mercado externo e o
retardo de novos investimentos restringem a reação e explicam o patamar mais baixo de
produção em 2009. De todas as
categorias de produtos, a de
bens de capital (máquinas e
equipamentos) é que registra o
pior desempenho: queda de
23% de janeiro a agosto.
Esses dois fatores levarão a
indústria a crescer menos no
pós-crise, apesar da previsão de
uma retomada forte em 2010,
lastreada na fraca base de comparação, avalia Sérgio Vale,
economista da MB Associados.
"O mercado interno vai continuar a crescer, mas não será
capaz de absorver a queda da
produção que seria voltada à
exportação", diz Vale.
A reação, segundo Vale, vai se
estagnar após esse repique inicial e deve se estabilizar em níveis inferiores à crise.
Na avaliação do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o atual ritmo de crescimento da produção industrial já não é "suficiente para uma rápida convergência para o nível equivalente
ao período anterior à crise internacional".
Na visão da LCA, embora a
indústria tenha desacelerado
em relação a julho -quando o
crescimento havia sido de
2,2%-, a produção "seguiu em
bom ritmo de expansão."
Segundo a Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo), a atividade industrial
paulista já caiu em agosto
-0,8%-, pela primeira vez em
seis meses.
Por outro lado, o emprego na
indústria subiu 3,9% nas principais metrópoles e impediu
uma alta da taxa de desemprego, de acordo com o IBGE.
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