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TURBULÊNCIA À VISTA
Empresa manteria compartilhamento de vôos com a TAM, mas as administrações seriam separadas
Varig admite criar holding em vez de fusão
DA REPORTAGEM LOCAL
Novos tempos, novas medidas.
À espera, em 2003, do seu melhor
resultado operacional em sete
anos, a Varig mudou o discurso
em relação à fusão com a TAM e
espera que o governo reveja o
projeto de união entre as duas
empresas aéreas.
Para Luiz Martins, presidente
do conselho de curadores da Fundação Ruben Berta, controladora
da Varig, uma das possibilidades
é a constituição de uma holding
gerindo as duas empresas, que intensificaria o compartilhamento
de vôos vigente desde março. Mas
com administrações separadas, já
que "as filosofias operacionais e a
cultura das duas companhias são
muito diferentes".
Martins, que ressalva que ainda
não há uma alternativa definida,
falou à Folha em Varsóvia, na Polônia, durante evento da companhia polonesa LOT, que recentemente se tornou a 15ª empresa aérea da Star Alliance -acordo
operacional do qual a Varig faz
parte.
(MAELI PRADO)
Folha - Além da fusão com a TAM
estruturada pelo banco Fator existem outros caminhos para a Varig?
Luiz Martins - Esse modelo de fusão foi desenhado no início do
ano, em um momento extremamente ruim e com uma situação
de caixa crítica da companhia. Os
credores não tinham absolutamente confiança na Varig. De lá
para cá, houve o compartilhamento de vôos, que produziu benefícios para ambas as empresas e
reduzimos nossos custos. O mercado melhorou significativamente, o dólar baixou, nosso endividamento também, e vamos ter em
2003 o melhor resultado operacional em sete anos. Estamos em
dia com o Banco do Brasil, com a
BR Distribuidora e entramos no
Refis [programa do governo federal que permite o pagamento de
tributos em até 180 meses]. Afastamos quase cem pilotos que tinham salários mais altos. Desde o
início, a fusão foi ditada por uma
necessidade de ambas as companhias, de encontrar uma solução
para a guerra tarifária que o modelo de política aeronáutica permitiu acontecer. A constatação
agora é de que a Varig de hoje não
é a mesma Varig de março. E, naturalmente, o modelo tem de ser
diferente porque é uma outra
companhia.
Folha - Alguma alternativa já foi
discutida com o governo?
Martins - Não existe alternativa
ainda. Isso deverá surgir após
análise do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. Estamos dando toda a sinalização possível [para o
BNDES] de que a Varig de hoje é
diferente da do início do ano. E
acredito que o banco criará uma
nova percepção sobre a situação
atual da Varig.
Folha - Há a possibilidade de constituir uma holding ou de intensificar o compartilhamento de vôos?
Martins - A intensificação do
"code share", com as duas empresas sob uma holding, é a possibilidade mais plausível hoje, a exemplo do que aconteceu no México.
As companhias mantêm seus
clientes, suas alianças, seus programas de fidelidade mas trabalham sob um comitê de gestão
que administra a capacidade de
sinergia entre as empresas.
Folha - Dentro dessa possibilidade, haveria uma divisão entre as
empresas sobre os vôos nacionais e
internacionais?
Martins - A Varig tem tanto participação nacional como uma
marca no setor internacional. Isso
deve ser estudado tecnicamente.
Ainda é cedo para começar a estabelecer proporções, mas o conceito é de que se aproveite o que de
melhor cada companhia pode
dar. A TAM poderia, eventualmente, compartilhar os vôos internacionais com a Varig. Não haveria uma união societária entre
as duas empresas, mesmo porque
os grupos são diferentes, as filosofias operacionais e a cultura das
duas companhias são diferentes.
Folha - O governo é o principal incentivador da fusão. Essa percepção de que as duas companhias vivem um momento diferente é compartilhada pelo governo?
Martins - Vejo que o governo
tem alguma dificuldade para perceber isso. Esperamos que o
BNDES encontre uma fórmula diferente. O único credor que tem
nos ajudado é a Infraero [Empresa Brasileira de Infra-Estrutura
Aeroportuária], apesar de estarmos em dia com o BB e com a BR
Distribuidora. Essas entidades
deveriam nos dar crédito normal
em transações. A Varig não quer
dinheiro, quer crédito para poder
girar como um negócio.
Folha - O sistema de administração da Fundação Ruben Berta é criticado, encarado como um modelo
que privilegia interesses políticos
em detrimento de interesses financeiros. O sr. concorda com isso?
Martins - Um modelo onde o trabalhador tenha a prioridade do
negócio é muito mais complicado, mas muito mais legítimo. É
um modelo onde os funcionários
se sentem representados. Mas isso permite um instrumento de
auto-regulação que funcionou este ano. Trocamos toda a cúpula da
empresa porque não concordávamos com a forma como as coisas
estavam funcionando.
Folha - A Apvar (Associação dos Pilotos da Varig) está propondo uma
alternativa ao modelo de fusão.
Existiriam investidores interessados em entrar no capital da empresa. Essa seria uma opção?
Martins - A Apvar já comprou
várias bandeiras furadas. Hoje
congrega 400 sócios. Desses, 200
não concordam com a posição da
associação. Dos 200 que sobram,
60 foram demitidos da Varig. O
BNDES já disse, no passado, que é
um plano inconsistente, mas eles
continuam sustentando essa proposta através da mídia.
Folha - A qualidade do serviço
prestado pela Varig ao consumidor
piorou neste ano. Esse é o ônus da
reestruturação da empresa?
Martins - O serviço piorou em
todas as empresas por causa das
restrições econômicas. Isso não
aconteceu apenas na Varig. Todo
mundo está apertando o cinto.
Folha - Qual o impacto sobre o
mercado gerado pelas companhias
de baixo custo, como a Gol?
Martins - Tem de haver lugar para o "low cost", "low fare", mas
quem quer pagar menos [pelo bilhete] deve se sujeitar a outras
condições, como ir para aeroportos menores ou ter horários específicos para os vôos. É utopia vender filé mignon a preço de banana. Enfrentar uma companhia de
baixo custo operando no mercado mais rentável, como Cumbica
[SP], é um caso único no mundo.
A repórter MAELI PRADO viajou à Polônia a convite da Star Alliance
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