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TRABALHO
Vagas para o Natal devem crescer até 75% neste ano em relação a 2003
Lojas repõem emprego com temporários e renda menor
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O emprego temporário no comércio para atender a demanda
de final de ano crescerá de forma
significativa neste ano em relação
ao fraco ano passado por conta da
recuperação da economia. Nas lojas de shoppings, a expectativa é
de aumento de até 75%.
O que parece ser mais um bom
indicador econômico esconde,
entretanto, uma má notícia. As lojas reduziram muito os seus funcionários e agora precisam contratar temporários para repor os
empregos liqüidados. Foram extintos 40 mil postos de trabalho
na cidade de São Paulo nos últimos quatro anos, considerando o
mesmo número de lojas.
Para repor parte dessas demissões, os lojistas estão contratando
temporários que ganham menos
do que os funcionários com carteira e impondo jornadas de trabalho mais longas. Pior: eles não
têm planos para que os temporários sejam efetivados em 2005, segundo a Folha apurou.
Os comerciantes de São Paulo
devem contratar 35 mil temporários -8,5% do total de empregos
do comércio na cidade- neste final de ano no município de São
Paulo. Isso significa 75% a mais
do que em igual período do ano
passado, segundo levantamento
do Sindicato dos Empregados no
Comércio de São Paulo. A Casas
Bahia, por exemplo, abriu na semana passada 2.000 vagas para
temporários. O grupo Pão de
Açúcar, 6.000. O melhor ano para
o comércio de São Paulo foi 2000,
quando foram criadas 80 mil vagas temporárias no final de ano.
Os lojistas de shopping centers
estimam que serão abertas 70 mil
vagas temporárias em 58.630 lojas
espalhadas por 572 estabelecimentos do país. Em 2003, foram
criadas 40 mil vagas. Mas boa parte desse crescimento se deve à
abertura de 18 shopping centers
no país. "Essas vagas surgiram
mais em função dos novos estabelecimentos do que pela recuperação econômica", diz Nabil Sahyoun, presidente da Alshop (associação dos lojistas de shoppings).
Na tentativa de reduzir custos e
se tornar mais competitivo, o comércio trocou empregos com salários mais altos por mais baixos.
"No comércio, a maioria dos
demitidos está na faixa salarial de
R$ 1.100 a R$ 1.200. Já os contratados, na faixa de R$ 600 a R$ 700.
Isso ocorreu principalmente de
junho de 2003 até maio deste ano
em todos as funções. Essa tendência só foi interrompida porque o
frio mais intenso melhorou as
vendas neste ano", afirma Ricardo Patah, presidente do sindicato.
Segundo o sindicalista, a situação do emprego no comércio só
não é pior porque os supermercados abriram mais lojas e multinacionais entraram nas vendas de
materiais de construção e produtos de decoração e jardinagem.
Ganhando menos do que o trabalhador registrado e mais "precavido" com o dinheiro no bolso,
o empregado temporário vai usar
o salário para quitar dívidas e não
para consumir, segundo economistas consultados pela Folha.
"O temporário não vai fazer um
crediário nem torrar o salário em
um mês se já sabe que em janeiro
não tem mais emprego. Por isso, o
impacto dessas contratações para
a economia é muito pequeno",
afirma Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese.
"O emprego temporário não vai
se sustentar porque a recuperação
da renda do trabalhador e da
massa salarial [soma de todos os
salários dos trabalhadores] é tímida", diz o economista Claudio Dedecca, professor do Instituto de
Economia da Unicamp.
Ele cita como exemplo a massa
de rendimento dos trabalhadores
ocupados na Grande São Paulo.
Em janeiro deste ano foi de R$
6,13 bilhões. Em agosto foi de R$
6,39 bilhões -se manteve praticamente estável. Ou seja, apesar
do aumento do emprego, a massa
salarial pouco se alterou.
"Para que o emprego temporário do final do ano pudesse ser
mantido no início de 2005, seria
necessário que essa massa salarial
tivesse um crescimento de, no mínimo, 10% neste ano. A renda tem
de crescer em um ritmo maior do
que o do emprego. Mas hoje não é
isso o que ocorre", diz Dedecca.
Na indústria
As contratações de temporários
na indústria foram mais concentradas no início do segundo semestre, já que as empresas precisam se preparar antes para atender as encomendas do comércio.
A estimativa é que o aumento foi
de 4% a 5% sobre o ano passado.
"As vagas temporárias na indústria ocorreram principalmente nos setores sazonais, como bebidas e alimentos [produtos natalinos]", diz Claudio Vaz, presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
Contratos por tempo determinado também ocorreram em setores que tiveram bom desempenho por causa das exportações
-caso das indústrias de automóveis e agronegócios.
A DaimlerChrysler (Mercedes-Benz) anunciou na semana passada a contratação de 650 trabalhadores pelo prazo de um ano para a
fábrica de São Bernardo, onde
produz caminhões e ônibus.
No ABC paulista, a agência de
emprego Adecco recebeu nos últimos dois meses pedido das indústrias para contratar trabalhadores temporários para o setor de
cosméticos e de embalagens.
"São vagas com base na lei nš
6.019, que regula o trabalho temporário. O salário é de R$ 550. Por
dia, recebemos cerca de 40 candidatos interessados em uma vaga
temporária", diz Renato Frausto,
gerente de uma filial da Adecco.
A lei citada, de 1974, autoriza
admissão de temporários por aumento da produção e da demanda e em substituições legais (férias
e licença-maternidade).
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