São Paulo, terça-feira, 03 de novembro de 2009

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Após guerra tarifária, passagem aérea sobe

Com a demanda do setor aéreo crescendo acima de 20% ao mês, companhias aéreas se preparam para reajustar tarifas

Aumento ocorre após dura disputa entre a TAM e a Gol pela liderança em voos domésticos e sob a ameaça de empresas pequenas

MARIANA BARBOSA
DA REPORTAGEM LOCAL

O preço das passagens aéreas no mercado doméstico atingiu o menor nível do ano em setembro, aponta novo levantamento mensal feito pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) obtido pela Folha e que passará a ser divulgado mensalmente no site da agência.
A forte competição entre TAM e Gol, e entre as duas líderes e as pequenas Azul, Oceanair e Webjet, foi a grande responsável pela guerra tarifária, segundo analistas e executivos do setor. A crise econômica, que reduziu as viagens de negócios, também contribuiu para a queda dos preços.
A má notícia é que, com a recuperação da demanda nos últimos três meses, as empresas já começaram a reajustar.
Na última feira da Abav (Associação Brasileira das Agências de Viagem), há duas semanas, o presidente da Gol, Constantino de Oliveira Jr., declarou que as tarifas para o fim do ano seriam reajustadas em 20%, num esforço de recomposição da margens de lucro. A TAM também deu sinais nessa direção e fala em recuperação de 10% no preço das tarifas já no terceiro trimestre.
"As passagens para viagens a partir de 15 de dezembro, quando começa a alta temporada, já estão 15% mais caras", afirma o diretor da Abav, Lionel Rossi Junior. "E quanto mais tarde a pessoa comprar, mais caro vai ficar."
Para o diretor-executivo da Oceanair, Renato Pascowitch, a guerra tarifária "tem gerado muito tráfego, mas muito pouca receita". Em outubro, a Oceanair conseguiu recompor em 5% o preço das tarifas. Para novembro, a empresa, que detém 2,24% do mercado, deve praticar preços 10% maiores.
A guerra tarifária ajudou a estimular a demanda e a reverter o baixo nível de crescimento do setor desde outubro de 2008, quando estourou a crise. Naquele mês, o mercado doméstico caiu 3,9%. Mas, desde julho deste ano, ele vem crescendo acima de 20% ao mês. Em setembro, subiu 29,9%. No acumulado do ano até setembro, o setor cresceu 10,5%.
"O mercado está com excesso de oferta, e isso leva a uma guerra de tarifas", diz o professor de transporte aéreo da UFRJ, Respício do Espírito Santo Jr."A crise puxou a demanda para baixo, mas as empresas nacionais não reduziram a oferta de assentos, como fizeram as estrangeiras."
De janeiro a setembro, a TAM aumentou a oferta de assentos em 9,72% no mercado doméstico. A Gol, em 3,88%.
Para o diretor do Núcleo de Economia dos Transportes do ITA, Alessandro Oliveira, além da crise financeira, a estreia da Azul, em dezembro, e o crescimento das demais empresas menores, ajudou a reduzir as tarifas. "O temor de perder mercado e não parecer competitivo fez as grandes se mexerem, mesmo em rotas em que a Azul não está presente."
Para Oliveira, a última vez em que o mercado se comportou assim foi com a chegada da Gol, em 2001. Juntas, Webjet, Azul e Oceanair alcançaram 11,68% do mercado em setembro. A TAM liderou com 44,15%, seguida da Gol, com 41,85%.
Com base em Campinas, a Azul está gerando uma demanda nova para a aviação. De janeiro a junho deste ano, o aeroporto de Congonhas perdeu 500 mil passageiros, na comparação com o primeiro semestre de 2008. Na mesma comparação, o aeroporto de Viracopos, em Campinas, ganhou 800 mil passageiros. "Os passageiros de negócios de Congonhas não foram para Campinas. Congonhas sofreu os efeitos da crise nas empresas, já Campinas está gerando demanda nova."
Com preços bastante competitivos desde sua estreia, a Azul não se considera a detonadora da guerra tarifária. "Nós nunca provocamos a guerra de tarifas. Se eu começo a voar com uma tarifa um pouco mais baixa e elas [TAM e Gol] abaixam ainda mais, não podemos ficar parados", afirma Adalberto Febeliano, diretor de relações institucionais da Azul.
Ele conta que a empresa conseguiu equilibrar as contas em julho, sem reajustar tarifas, mas que desde então a guerra tarifária com TAM e Gol se acirrou, prejudicando o balanço da empresa. "As duas entraram em uma guerra de preços entre elas e sobrou para o nosso lado." Ele diz que a Azul vai bater recorde de passageiros transportados em outubro. "Os preços estão estimulando o mercado, mas a questão é: até quando? Temos fôlego, vamos ver quem quebra antes."
A reclamação de que a guerra tarifária teria sido provocada por TAM e Gol encontra eco entre outras companhias pequenas, que preferem não falar sobre isso publicamente. A guerra teria sido detonada pela ameaça de perda da liderança da TAM para a Gol. Em julho, a Gol encostou na TAM, com 42,88% de mercado contra 43,15%. Procuradas, TAM e Gol não quiseram comentar.


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