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Após guerra tarifária, passagem aérea sobe
Com a demanda do setor aéreo crescendo acima de 20% ao mês, companhias aéreas se preparam para reajustar tarifas
Aumento ocorre após dura disputa entre a TAM e a Gol
pela liderança em voos domésticos e sob a ameaça de empresas pequenas
MARIANA BARBOSA
DA REPORTAGEM LOCAL
O preço das passagens aéreas
no mercado doméstico atingiu
o menor nível do ano em setembro, aponta novo levantamento mensal feito pela Anac
(Agência Nacional de Aviação
Civil) obtido pela Folha e que
passará a ser divulgado mensalmente no site da agência.
A forte competição entre
TAM e Gol, e entre as duas líderes e as pequenas Azul, Oceanair e Webjet, foi a grande responsável pela guerra tarifária,
segundo analistas e executivos
do setor. A crise econômica,
que reduziu as viagens de negócios, também contribuiu para a
queda dos preços.
A má notícia é que, com a recuperação da demanda nos últimos três meses, as empresas
já começaram a reajustar.
Na última feira da Abav (Associação Brasileira das Agências de Viagem), há duas semanas, o presidente da Gol, Constantino de Oliveira Jr., declarou que as tarifas para o fim do
ano seriam reajustadas em
20%, num esforço de recomposição da margens de lucro. A
TAM também deu sinais nessa
direção e fala em recuperação
de 10% no preço das tarifas já
no terceiro trimestre.
"As passagens para viagens a
partir de 15 de dezembro,
quando começa a alta temporada, já estão 15% mais caras",
afirma o diretor da Abav, Lionel Rossi Junior. "E quanto
mais tarde a pessoa comprar,
mais caro vai ficar."
Para o diretor-executivo da
Oceanair, Renato Pascowitch,
a guerra tarifária "tem gerado
muito tráfego, mas muito pouca receita". Em outubro, a
Oceanair conseguiu recompor
em 5% o preço das tarifas. Para
novembro, a empresa, que detém 2,24% do mercado, deve
praticar preços 10% maiores.
A guerra tarifária ajudou a
estimular a demanda e a reverter o baixo nível de crescimento do setor desde outubro de
2008, quando estourou a crise.
Naquele mês, o mercado doméstico caiu 3,9%. Mas, desde
julho deste ano, ele vem crescendo acima de 20% ao mês.
Em setembro, subiu 29,9%. No
acumulado do ano até setembro, o setor cresceu 10,5%.
"O mercado está com excesso de oferta, e isso leva a uma
guerra de tarifas", diz o professor de transporte aéreo da
UFRJ, Respício do Espírito
Santo Jr."A crise puxou a demanda para baixo, mas as empresas nacionais não reduziram a oferta de assentos, como
fizeram as estrangeiras."
De janeiro a setembro, a
TAM aumentou a oferta de assentos em 9,72% no mercado
doméstico. A Gol, em 3,88%.
Para o diretor do Núcleo de
Economia dos Transportes do
ITA, Alessandro Oliveira, além
da crise financeira, a estreia da
Azul, em dezembro, e o crescimento das demais empresas
menores, ajudou a reduzir as
tarifas. "O temor de perder
mercado e não parecer competitivo fez as grandes se mexerem, mesmo em rotas em que a
Azul não está presente."
Para Oliveira, a última vez
em que o mercado se comportou assim foi com a chegada da
Gol, em 2001. Juntas, Webjet,
Azul e Oceanair alcançaram
11,68% do mercado em setembro. A TAM liderou com
44,15%, seguida da Gol, com
41,85%.
Com base em Campinas, a
Azul está gerando uma demanda nova para a aviação. De janeiro a junho deste ano, o aeroporto de Congonhas perdeu
500 mil passageiros, na comparação com o primeiro semestre
de 2008. Na mesma comparação, o aeroporto de Viracopos,
em Campinas, ganhou 800 mil
passageiros. "Os passageiros de
negócios de Congonhas não foram para Campinas. Congonhas sofreu os efeitos da crise
nas empresas, já Campinas está gerando demanda nova."
Com preços bastante competitivos desde sua estreia, a Azul
não se considera a detonadora
da guerra tarifária. "Nós nunca
provocamos a guerra de tarifas.
Se eu começo a voar com uma
tarifa um pouco mais baixa e
elas [TAM e Gol] abaixam ainda mais, não podemos ficar parados", afirma Adalberto Febeliano, diretor de relações institucionais da Azul.
Ele conta que a empresa conseguiu equilibrar as contas em
julho, sem reajustar tarifas,
mas que desde então a guerra
tarifária com TAM e Gol se
acirrou, prejudicando o balanço da empresa. "As duas entraram em uma guerra de preços
entre elas e sobrou para o nosso lado." Ele diz que a Azul vai
bater recorde de passageiros
transportados em outubro. "Os
preços estão estimulando o
mercado, mas a questão é: até
quando? Temos fôlego, vamos
ver quem quebra antes."
A reclamação de que a guerra
tarifária teria sido provocada
por TAM e Gol encontra eco
entre outras companhias pequenas, que preferem não falar
sobre isso publicamente. A
guerra teria sido detonada pela
ameaça de perda da liderança
da TAM para a Gol. Em julho, a
Gol encostou na TAM, com
42,88% de mercado contra
43,15%. Procuradas, TAM e
Gol não quiseram comentar.
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