São Paulo, terça-feira, 03 de novembro de 2009

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Associação pede investigação de investimento da Telefônica

Engenheiros questionam gastos de R$ 2,34 bi no balanço da empresa de 2008

Associação de Engenheiros de Telecomunicações envia carta a órgão do mercado dos EUA dizendo haver "indícios de fraude'; Telefônica nega


ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

A Associação dos Engenheiros de Telecomunicações acusou a Telefônica perante a SEC (Securities & Exchange Commission, responsável por fiscalizar o mercado de ações nos Estados Unidos) de suposta fraude nos dados divulgados no balanço de 2008 sobre os investimentos para a modernização de sua rede em São Paulo.
Em carta enviada à presidente da SEC, Mary Schapiro, o engenheiro Ruy Bottesi, presidente da associação, contesta a informação do balanço de que a companhia investiu R$ 2,342 bilhões na rede no ano passado e afirma existirem ""fortes indícios de fraude" no dado.
A Telefônica não quis responder à acusação do presidente da AET. A empresa disse que não foi informada oficialmente sobre a queixa feita à SEC e que reafirma os dados de investimentos publicados no balanço do ano passado.
Na carta à SEC, Bottesi afirma que a associação consultou todos os fornecedores de equipamentos e de serviços de telecomunicações presentes no Brasil e que nenhum deles recebeu encomenda da Telefônica nem assinou contrato com a Telefônica. Entre as empresas consultadas, o presidente da associação cita Ericsson, Huawei, Motorola, Siemens, Lucent-Alcatel, Nortel e Nokia.
""Não conseguimos companhias que tenham fornecido serviços ou equipamentos [à Telefônica] em 2008. Não há registro de para onde os investimentos declarados foram, nenhum traço", diz a carta, que relata os colapsos no serviço de banda larga da Telefônica, o Speedy, em São Paulo, e diz que a empresa é campeã em reclamações dos consumidores.
No balanço de 2008, a Telesp (concessionária de telefonia fixa da Telefônica no Estado, que ainda mantém sua antiga razão social) informou ter gasto R$ 459,2 milhões no ano passado em desenvolvimento de sistemas e R$ 471,8 milhões em equipamentos de assinantes, entre outros investimentos.
A associação levantou suspeita de que a empresa tenha contabilizado pagamentos de serviços de tecnologia como se fossem investimentos, quando seriam despesas operacionais. ""Apenas uma pequena parte relativa à compra de software pode ser considerada investimento, mas, mesmo os softwares mais caros custam apenas algumas centenas de milhares de dólares, não milhões", diz a associação de engenheiros.
A associação compara o investimento em comunicação de dados declarado em 2008 pela Telefônica (R$ 559,8 milhões) com contratos de valor menor de outras empresas no exterior, e concluiu que o dado seria falso.
""Se eles realmente investiram em banda larga, os colapsos dramáticos da rede em 2008 e em 2009 não teriam acontecido", prossegue a associação na carta.
Outro dado do balanço questionado foi o investimento de R$ 471, 8 milhões em equipamentos de assinantes. Segundo a carta, não fica claro se o investimento se refere a aparelho telefônico ou a modem para banda larga e que, como os preços unitários desses dois itens são de cerca de R$ 30, significaria que a empresa teria substituído 9 milhões de aparelhos no ano, para uma base de 13 milhões de clientes.


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