|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Empresas podres" fazem dinheiro minguar no Brasil
LEONARDO SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL
Transporte o Brasil para um daqueles filmes de suspense "noir".
A história é a seguinte: o Brasil é a
vítima no mercado internacional
de empréstimos para empresas. A
Argentina, a mais provável culpada de sua desgraça. Porém, no
meio da trama, surge um forte
suspeito, as "junk companies"
norte-americanas ("empresas podres").
Desde 97, a oferta de crédito no
mercado internacional está pequena para empresas de mercados emergentes. Primeiro foi a
crise asiática, em outubro daquele
ano. Depois, a crise russa, em
agosto de 98. Em janeiro de 99, a
crise cambial brasileira.
Muitos investidores perderam
bastante dinheiro durante esses
solavancos. Por isso, a aversão ao
risco de mercados emergentes
cresceu muito. Ou seja, menos
disposição para emprestar para
esses países.
Somado a isso, a bolha da nova
economia norte-americana estourou em maio deste ano. Ações
de empresas de Internet e dos setores de alta tecnologia despencaram. De 5.049 pontos em março, a
Nasdaq (principal índice de preços das ações da nova economia)
fechou na sexta-feira em 2.645
pontos (menos 47,6%).
Os bancos emprestaram muito
dinheiro a essas empresas e agora
não têm certeza de reaver tudo de
volta. Isto é, menos disponibilidade de recursos.
Muitos economistas acreditavam que as empresas brasileiras
teriam mais facilidade para obter
empréstimos nas bancas internacionais neste ano, pois a economia do país apresentou rápida recuperação após o susto da crise
cambial. Mas as portas para mercados emergentes pouco se abriram.
Um dos mecanismos mais utilizados pelas empresas para obter
empréstimos no exterior é a emissão de certificados que representam dívidas. São genericamente
conhecidos como bônus.
Os certificados emitidos por
empresas de mercados emergentes entram na classificação de "alta rentabilidade" ("high yield").
Esses bônus são considerados de
alto risco. Os investidores pedem
altas taxas para comprá-los.
Mas não são os únicos. As "junk
companies" lançam no mercado
seus títulos, os "junk bonds", que
também pagam altas taxas.
De acordo com a Thomson Financial Securities Data, em 98 foram emitidos US$ 1,462 trilhão
em papéis "high yield" em todo o
mundo. Em 99, o volume dessas
operações caiu para US$ 1,091 trilhão. Até novembro deste ano, foram US$ 744,927 bilhões.
Para contornar a dificuldade de
emitir títulos lá fora, os bancos e
empresas brasileiras passaram a
recorrer a outra modalidade de
crédito externo: os chamados empréstimos sindicalizados. Um
conjunto de bancos empresta o
dinheiro ao tomador e, assim, divide o risco.
Nos primeiros meses de 2000, as
condições eram animadoras. Em
janeiro, as empresas e os bancos
(principalmente) tomaram empréstimos de US$ 2,066 bilhões.
Passado o pior momento da crise nas Bolsas, a situação voltou a
ficar mais calma no exterior. Novos empréstimos externos voltaram a ser concedidos a empresas e
bancos brasileiros, principalmente entre junho e setembro.
Depois de muitos meses, algumas empresas brasileiras planejaram emitir títulos no exterior no
final do ano. Porém, entre outubro e novembro, as coisas pioraram lá fora, provocando o adiamento da maior parte das operações.
Para muitos, ficou claro que a
deterioração da economia argentina era o principal motivo das dificuldades para as empresas de
mercados emergentes captarem
dinheiro no exterior. Mas um dos
maiores obstáculos a essas emissões está na economia norte-americana. A queda das ações da nova
tecnologia deixou muitas empresas de terceira linha daquele país
em maus lençóis.
Segundo o Chase Manhattan, a
inadimplência nos empréstimos
às "junk companies" subiu de 3%,
entre 94 e 99, para 6%, neste ano.
O risco dessas empresas aumentou muito. Por isso, tiveram
que pagar mais para obter empréstimos. Os bônus dessas empresas passaram a pagar mais que
os títulos de companhias de mercados emergentes, o que atraiu
muitos investidores externos.
Texto Anterior: Greenspan vira "Grinch", o ladrão de Natal Próximo Texto: Tendências internacionais: Política monetária pode evitar recessão nos EUA Índice
|