São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2000

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Política monetária pode evitar recessão nos EUA

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A julgar pelos relatos sobre o período que antecedeu a crise de 1929, a euforia na época era tanta que nem investidores nem autoridades foram capazes de mudar seus padrões de comportamento a tempo. Quando a reavaliação começou, ela veio de forma violenta e irreversível. Houve pânico.
Na economia dos EUA hoje se observa uma mudança de humor nos mercados e um medo cada vez maior de recessão. Mas, mesmo depois das quedas vertiginosas ocorridas nos mercados acionários neste ano, é evidente que não há pânico.
Ao contrário, os investidores individuais continuam injetando recursos nos fundos de ações (em outubro, a entrada líquida superou os US$ 19 bilhões).
Mas o fator decisivo, especialmente quando se avaliam os erros cometidos pelos governos na crise de 1929, que levaram a uma Grande Depressão, é a atuação do banco central.
Mais de 70 anos depois, a lição foi aprendida. Na medida em que os sinais de desaceleração da economia dos EUA ganham espaço, cresce a chance de o Fed (BC dos EUA) iniciar um ciclo de redução das taxas de juros.
Deixar a economia esfriar um pouco mais, antes de tomar essa decisão, no entanto, pode ser providencial. Especialmente quando se observa o mercado internacional de petróleo.
A combinação de juros altos e desaquecimento nos EUA pode ser fatal para os preços do petróleo no final do primeiro trimestre de 2001. O inverno vai passar e há quem antecipe uma queda nas cotações para menos de US$ 25 o barril. Muito menos.
Seria um choque positivo, uma importante garantia em favor da redução das taxas de juros norte-americanas, pois seriam drasticamente reduzidas as chances de uma alta na inflação.
É verdade que um componente importante do pessimismo atual resulta da frustração com os setores de tecnologia avançada, especialmente com as vendas de computadores e correlatos. A Internet também sofre.
No entanto, até agora ninguém conseguiu demonstrar que a queda nas cotações de empresas de alta tecnologia é fruto do esgotamento do ciclo de inovação. Continua igualmente provável a hipótese de que está em curso a correção de uma fase de exageros especulativos.
É importante compreender a especificidade do "boom" de investimento em computador que ocorreu nos EUA nos anos 90.
Em março foi publicado um estudo pelo próprio Fed demonstrando o fracasso estatístico dos modelos estatísticos convencionais de previsão do ciclo de investimentos. A falha foi não levar em conta as características do mercado de computadores.
Entre as peculiaridades desse investimento estão o ritmo mais acelerado de depreciação, associado a ciclos de redução de preços e inovação técnica.
Os modelos convencionais desconsideram esses fatores de queda de custo nas decisões das empresas. Até agora não surgiu nenhuma análise da economia dos EUA apontando para uma perda de dinamismo tecnológico ou capacidade de reduzir custos e aumentar a produtividade.
Claro que as vendas de computadores também responderão às flutuações na taxa de crescimento da economia. Mas há indícios de que está em curso mudança no padrão de informatização das sociedades, em que o computador de mesa perderá espaço para outros dispositivos.
Se não se trata de esgotamento da inovação tecnológica e o banco central pode agir para evitar o pior, o cenário mais provável seria mais racional, ainda que menos exuberante. O medo da recessão seria até mesmo saudável, mas não haveria pânico.


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