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OPINIÃO ECONÔMICA
Companheiro Bush
BENJAMIN STEINBRUCH
Daqui a uma semana, o presidente eleito, Luiz Inácio
Lula da Silva, vai sentar-se diante
do presidente dos Estados Unidos,
George W. Bush. Sabemos que
Lula e o PT não morrem de amores pelos americanos, mas, como
Deus é grande, sempre há uma esperança de que, pelo seu temperamento e franqueza, Lula caia nas
graças do companheiro Bush, como o chamou durante a campanha eleitoral.
Em qualquer hipótese, não se
pode ter ilusões a respeito dos resultados imediatos da visita à Casa Branca. No máximo, deve-se
esperar que o presidente americano, mais esperto do que se pensa,
está longe de querer cultivar novas antipatias no maior país da
América Latina. Por isso, Lula deveria preparar-se para passar ao
presidente americano algumas
informações que ele decerto não
teve tempo de conhecer. Bush provavelmente não sabe quão graves
são os efeitos do conjunto de medidas protecionistas de seu governo em um país que precisa exportar cada vez mais para alcançar
seu objetivo central de crescimento econômico e criação de empregos.
Lula deveria ser muito objetivo
em sua conversa do dia 10 na Casa Branca. Para se preparar para
esse encontro, nem precisa sair de
casa. No site da Embaixada Brasileira em Washington há um trabalho de mais de 80 páginas, preparado e atualizado pelo eficiente
embaixador Rubens Barbosa, sobre o contencioso brasileiro com
os EUA.
Bush precisa saber que seu pacote de 5 de março, baixado para
proteger a siderurgia americana
com sobretaxas sobre a importação de vários tipos de aço, provoca pesadas perdas para o Brasil.
Desde que as medidas entraram
em vigor, as exportações brasileiras de aço tiveram queda média
de 41%. Em alguns tipos de aço,
como chapas grossas laminadas a
frio e galvanizadas, a queda chegou a quase 100%.
Bush certamente desconhece
que, além da siderurgia, outros
setores eficientes e competitivos
da agroindústria brasileira são
fortemente prejudicados por tarifas de importação impostas pelos
EUA. Para entrar no mercado
americano, o açúcar brasileiro
paga uma tarifa de US$ 338,70
por tonelada extra-cota. Sobre o
tabaco, há uma taxa de 350%,
também extra-cota. O etanol (álcool carburante) é taxado por alíquota de 2,5% mais US$ 0,52 por
galão. Os têxteis, 38% mais US$
0,48 por quilo.
Seria bom que Bush soubesse
que o "Farm Act", renovado neste
ano e que dará subsídios anuais
de US$ 17,5 bilhões durante seis
anos à produção agrícola americana, provoca enormes prejuízos
ao Brasil. Segundo estimativa da
Confederação Nacional da Agricultura, o país perderá US$ 2,4 bilhões por ano em exportações por
causa dessa lei americana. A força dos subsídios torna os produtos
dos EUA competitivos interna e
externamente e tira mercado dos
brasileiros.
Bush deveria saber que a carne
bovina brasileira, fresca ou congelada, está fora do mercado
americano por causa de injustas
barreiras sanitárias. Deveria saber que, mesmo sendo um dos
maiores exportadores mundiais
de frango, o Brasil não vende nenhum quilo do produto nos EUA,
também por conta de barreiras
sanitárias injustificadas.
Bush com certeza não sabe que
os 20 principais produtos de exportação brasileiros são taxados
nos EUA com alíquotas médias
de 39,1% e que, em contrapartida,
os 20 principais itens de exportação americana sofrem taxação
média de apenas 12,9% no Brasil.
A legislação protecionista americana foi montada, ao longo dos
anos, em função de poderosos
lobbies políticos para sustentar
produtos industriais e agrícolas
pouco eficientes dos EUA. Seria
ingênuo achar que 60 minutos de
conversa de Lula com Bush pudessem alterar qualquer vírgula
nessa legislação. De qualquer forma, Lula deveria aproveitar seu
tempo para deixar na cabeça do
presidente americano algumas
informações que, pelas pesadas
responsabilidades de chefe de Estado da nação mais poderosa do
mundo, Bush não tem tempo nem
obrigação de conhecer. No futuro,
gravadas pelo menos no subconsciente do companheiro Bush, elas
poderão ajudar o Brasil em casos
específicos.
Benjamin Steinbruch, 49, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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