|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPERAÇÃO SAGITÁRIO
Enquanto policiais chegavam ao Stand Center, comerciantes fechavam estabelecimentos, em "efeito-dominó"
Lojista monta esquema para evitar ação da PF
DA REPORTAGEM LOCAL
Um esquema de "segurança"
dos lojistas do Stand Center foi
acionado assim que parte dos 700
agentes do fisco e da Polícia Federal começou a chegar, por volta
das 10h de ontem, ao local, na avenida Paulista. Enquanto policiais
subiam as escadas para o segundo
andar do prédio, as portas-sanfona dos boxes eram fechadas como
num "efeito-dominó".
"Aqui é assim. Quando o primeiro box lá da ponta fecha, é como se uma sirene de perigo tivesse sido ligada. Todos têm de fechar", diz T.C., 27, funcionária do
local. "Quem não fecha dança."
Lacrados com cadeados, os boxes foram abertos, um a um, a
partir das 11h30, com o uso de alicates como os usados pela Eletropaulo para fazer reparos e cortar a
energia de inadimplentes. Equipes de fiscais da Fazenda de São
Paulo e da Receita Federal se revezavam na apreensão do material.
O clima nos dois andares do
Stand Center era de assombro.
"Nunca vi nada igual. Há uns três
meses os fiscais vieram, verificaram nossa documentação, mas
não fizeram apreensão de mercadorias", diz a dona de um box de
perfurmaria, que preferiu não se
identificar. Ela contou que estava
sem inscrição estadual porque a
administração não forneceu documentos necessários referentes
ao IPTU para abrir sua empresa.
"Empregamos nove pessoas em
dois boxes, pago R$ 6.000 para ter
a minha loja e agora vamos pagar
pelos erros dos outros? Isso não é
justo. A minha documentação estava em processo de regularização. Mas a minha mercadoria é
vendida com nota. É legal", disse a
comerciante, chorando, enquanto observava os fiscais apreenderem os produtos de seu box.
Na praça de alimentação do
centro comercial, vários estrangeiros -chineses, coreanos e alguns japoneses- carregavam
malas de mercadoria e tomavam
café, na tentativa de despistar os
fiscais. "Estou a passeio. Não falo
português", dizia um deles. Minutos mais tarde, a reportagem verificou que o suposto consumidor
era um lojista que vendia roupas
aparentemente falsificadas.
Um depósito de mercadorias
-com duas salas, de respectivamente seis metros quadrados e
dez metros quadrados- foi encontrado escondido no centro comercial. Nessa área, havia várias
caixas de uísque, monitores de
computadores e perfumes. Pertencia a uma lojista do Stand Center, que não quis se identificar.
"Tenho nota, tenho nota", gritava
a comerciante chinesa enquanto
os auditores verificavam a mercadoria. À Folha, os fiscais afirmaram que as notas apreendidas
eram aparentemente frias -adquiridas de empresas de fachada
para "esquentar" a mercadoria
contrabandeada e/ou pirateada.
A maior parte dos funcionários
dos boxes trabalha das 10h às 20h,
sem registro em carteira e tem salário entre R$ 350 e R$ 500. "Trabalho em uma loja de DVD há
quatro meses, mas sem registro.
Vendemos uma média de 30 a 40
cópias prensadas ou gravadas, piratas mesmo", diz R.S., 17. "Faz
sucesso por causa do preço." Um
jogo para o videogame PlayStation 2, com preço original de R$
250, custa R$ 10 no Stand Center.
No escritório da administração,
policiais conseguiram salvar arquivos dos computadores que estavam sendo apagados. O shopping era vigiado por um sistema
profissional de vigilância. Policiais disseram que mais de 50 câmeras monitoravam o local.
"A vigilância era eficiente, por
isso a ação da fiscalização e de policiais podia ser detectada tão facilmente e comunicada aos lojistas", disse Carlos Fernando Lopes
Abelha, delegado da PF.
Disfarce
A Folha apurou que agentes da
Fazenda de São Paulo visitaram
os 220 boxes do Stand Center durante 30 dias, como consumidores, para detectar as irregularidades praticadas no local.
Enquanto a polícia arrombava
os estandes, vários consumidores
tentavam entrar no local. "É a primeira vez que venho aqui e encontro essa bagunça? Se tem sonegação, tem de ter prisão. Pergunto: por que só aqui?", questionava o aposentado Pascoal, 76.
Funcionárias de uma empresa
de processamento de dados A.S.,
28, e T.M.A., 28, diziam que não se
importavam em comprar produtos falsos. "Tanto faz com nota ou
sem. O que importa é o preço."
(CLAUDIA ROLLI E FÁTIMA FERNANDES)
Texto Anterior: Operação Sagitário: Receita faz megablitz em shopping da Paulista Próximo Texto: Centro nasceu para "fabricar carros" Índice
|