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Desoneração obriga governo a cortar R$ 4 bi
Medidas para estimular crescimento da economia precisarão ser compensadas com redução de despesas no Orçamento de 2007
Mantega fala em benefícios de até R$ 12 bi a empresas, mas conta inclui valores que não entram efetivamente no caixa do governo federal
Sergio Lima - 27.nov.06/Folha Imagem
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O ministro Guido Mantega (Fazenda), que apresentará novas propostas a Lula amanhã |
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A equipe econômica terá que
cortar cerca de R$ 4 bilhões do
Orçamento de 2007 para financiar as medidas de desoneração
tributária que estão em estudo
no pacote de estímulo ao crescimento pedido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Amanhã, o ministro Guido
Mantega (Fazenda) se reúne
novamente com o presidente
para discutir, desta vez, as medidas de redução de despesas
que farão parte do pacote.
Além dos cortes, a equipe
econômica também levará propostas para conter alta dos gastos públicos. Entre elas, uma
regra para reajustar os salários
dos servidores, que não devem
ter ganhos acima da inflação, e
para gastos com o funcionamento da máquina pública.
O capítulo dos cortes de gastos será o último a ser discutido
pelo governo. Nas últimas duas
semanas, o presidente Lula se
concentrou na discussão das
obras de infra-estrutura que
deverão ser prioridade no segundo mandato e na desoneração tributária. A agenda fiscal
entra no debate num momento
em que o governo vem sendo
cobrado por só anunciar bondades e não tratar das medidas
de cortes de gastos.
O pacote de desoneração, segundo Mantega, garantirá entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões em benefícios para empresas. Mas na conta o governo
inclui os impostos de que estará abrindo mão, mas que não
entram efetivamente no caixa.
É o caso da redução no prazo
que as empresas têm para compensar créditos de PIS e Cofins
(contribuições que financiam a
seguridade social) que acumulam na compra de materiais de
construção para a ampliação ou
construção de uma nova fábrica. Hoje, essa compensação é
feita em 20 ou 25 anos. O governo já anunciou que vai reduzi-la para um ano ou um ano e
meio, mas o benefício só valerá
para novos investimentos.
Assim, a estimativa de um
impacto de R$ 2,3 bilhões em
conseqüência da medida é puramente virtual. Como os investimentos não existem ainda,
a Receita Federal também não
arrecada o PIS/Cofins na construção dessas novas fábricas.
Entre as desonerações que
terão que ser compensadas
com cortes no Orçamento, está
a ampliação do número de máquinas e equipamentos que não
pagam o IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados).
Atualmente, a lista inclui 800
produtos e deve ser ampliada
para 850. Nesse caso, a Receita
já recolhe o tributo sobre essas
máquinas e estará abrindo
mão, de fato, de recursos.
A mudança no prazo de recolhimento da contribuição patronal ao INSS e do PIS/Cofins
pode ter impacto na arrecadação, mas só se o governo ampliar em mais de um mês o pagamento. Se a data de recolhimento do PIS/Cofins, que hoje
é no dia 2 do mês, for feita até o
dia 30, não haverá impacto.
Crescimento
Além de isenções fiscais virtuais, a necessidade de cortes
diminui se houver crescimento
econômico. Para 2007, o projeto de Orçamento prevê aumento de 4,75% do PIB. Isso significa que, em valores absolutos, a
Receita também arrecadará
mais. Com isso, o governo cobre parte das bondades tributárias sem precisar cortar gastos.
A agenda que o governo retoma agora é muito parecida com
o que propôs o ex-ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda)
em 2005. Naquela época, quando falou num plano de ajuste de
longo prazo, que reduzisse as
despesas correntes, foi torpedeado pela ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil), que considerou o plano "rudimentar".
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