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Recuo na indústria atinge todos os setores
Produção cai 1,7% em outubro e analistas vêem quadro ainda pior pela frente com crise afetando consumo e investimento
Queda generalizada na produção industrial apontada pelo IBGE deve segurar expansão do PIB no último trimestre do ano
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A crise financeira internacional já bateu na indústria brasileira: a produção do setor caiu
1,7% de setembro para outubro,
na taxa livre de influências sazonais. É a maior queda desde
novembro de 2007 (-2,1%), e o
resultado mais do que devolve a
expansão de 1,5% registrada em
setembro, segundo o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Ante outubro de 2007, a indústria perdeu fôlego e cresceu
apenas 0,8%, a mais modesta
taxa desde dezembro de 2006
(0,3%). Em setembro, a expansão havia sido de 9,7%.
A freada da indústria já sinaliza uma contração do PIB no
último trimestre do ano. Diante da expectativa de uma nova
retração na produção em novembro (de 2%), a LCA prevê
uma queda de 0,5% do PIB no
quarto trimestre na comparação com o terceiro.
Para Sílvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE, as
empresas já reagiram ao cenário de crise em outubro e ajustaram a produção à "nova realidade". "Há evidências de que
em outubro já ocorreram os
primeiros impactos da crise."
Entre essas evidências, Sales
citou anúncios de férias coletivas e cortes de produção, medidas que sinalizam a cautela do
empresariado com a perspectiva de uma menor demanda.
Além da crise, o economista
disse que a paralisação pontual
da Revap (Refinaria do Vale do
Paraíba) também prejudicou o
desempenho de outubro.
Já para Bráulio Borges, da
LCA, o crédito ficou mais seletivo e caro, o que também contribuiu para a desaceleração da
indústria. Também pesou negativamente, diz, a menor disposição de empresários em investir e de consumidores em se
endividar no cenário de crise.
"Por enquanto, é difícil afirmar que a restrição do crédito
já afetou a indústria, mas há um
reflexo da crise, que mexeu
com a confiança dos empresários. Existe uma incerteza muito grande em relação ao comportamento da demanda. E as
empresas já cortaram preventivamente a produção", afirma
Cláudia Oshiro, economista da
Tendências.
Todos esses fatores, segundo
Borges, desembocaram numa
"retração generalizada" da produção industrial em outubro,
quando todas as categorias registraram queda. A mais acentuada foi a de bens duráveis
(-4,7% ante setembro), puxada
pela redução da produção de
veículos (-1,4%).
De setembro para outubro,
também caiu a produção de
bens intermediários (insumos
industriais, -3%); semi e não-duráveis (alimentos e roupas,
-2,2%) e bens de capital (máquinas e equipamentos, -0,5%).
Segundo Leonardo Carvalho,
do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), os efeitos da crise vieram mais fortes
do que se previa e o resultado
da indústria de outubro surpreendeu negativamente. Ele
diz que já era esperada uma desaceleração, mas não com tanta
intensidade.
O economista afirmou ainda
que as primeiras sinalizações
para novembro "não são as melhores". Muitos setores acumularam estoques, e exportadores
sofreram com o fechamento
das linhas de crédito, afirma.
"Em outubro, a indústria já
sentiu os efeitos da crise, mas o
pior ainda está por vir", diz Tomás Goulart, do banco Modal.
Oshiro, da Tendências, diz
que a projeção de crescimento
do PIB de 0,6% no quarto trimestre deve ser revista para
baixo por causa do fraco desempenho da indústria.
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