São Paulo, quinta-feira, 03 de dezembro de 2009

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Euforia pode prejudicar Brasil, diz Krugman

Nobel diz que estuda se desfazer de investimentos em ativos do país e vê problemas na entrada excessiva de capital externo

"Pode ser o momento de o governo brasileiro dizer "não somos tão bons assim'", diz Krugman, que vê nova desaceleração nos EUA

PAULO DE ARAÚJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para o economista americano Paul Krugman, o fluxo excessivo de capitais ao Brasil é um dos maiores problemas que o país enfrentará daqui para a frente. Segundo o Nobel de Economia de 2008, o país tende a atrair capitais por conta dos juros baixos pelo mundo.
O economista afirmou que há uma euforia dos mercados em relação ao Brasil e que o excesso de otimismo pode ser prejudicial ao país.
Para Krugman, o governo brasileiro foi "prudente" ao taxar o capital externo destinado a operações com ações brasileiras, mas ressaltou que a medida pode não ser suficiente.
"Talvez seja o momento de as autoridades brasileiras dizerem: "Estamos melhores do que fomos, mas não somos tão bons assim, não amem tanto a gente'", disse ele em São Paulo.
O economista disse que estuda se desfazer de suas aplicações em títulos do Brasil por conta da sobrevalorização desses ativos com o aporte de capitais no país. "Estou pensando em sair [dessas aplicações] por conta do que está acontecendo", disse. "Não que eu veja crise, mas as pessoas estão gostando demais desse tipo de investimento."
Krugman disse que o Brasil entrou na crise global com um perfil econômico melhor do que nas ocasiões anteriores.
"O Brasil conseguiu, pela primeira vez, lidar bem com a crise porque seu endividamento estava menor, e a inflação, sob controle. Foi possível cortar juros no momento certo. O Brasil, então, pôde se comportar como um país mais avançado", disse Krugman, no Brasil para participar da 9ª edição da ExpoManagement, em São Paulo.
Krugman, porém, afirmou que os mercados depositam uma confiança irracional no país. "O Brasil se saiu muito bem nessa crise. Por isso, vocês estão com tudo. Mas isso não quer dizer que o Brasil vá virar uma superpotência no ano que vem, embora os mercados ajam como se fosse assim", disse.
Ele lembrou o que aconteceu no México antes do estouro da crise no país nos anos 1990.
"Eu me lembro de uma conferência da qual participei em 1993, em que o México estava em evidência. Os que criticavam eram desacreditados, passavam por bobos. Não que eu veja uma crise no Brasil, mas a história indica que não é bom estar sempre em destaque."
Para Krugman, a fase mais "apocalíptica" da crise foi superada, mas "é possível que haja novos choques, como o que vimos em Dubai recentemente".
Porém, para ele, o "maior medo" não é de um novo grande choque, mas sim de uma situação de baixo desempenho da economia global. "O maior temor é que haja uma década perdida parecida com a que houve no Japão, só que em dimensão global. Sob essa perspectiva, a crise não acabou."
Nos EUA, não é o deficit fiscal ou a inflação, mas a taxa de desemprego que mais provoca preocupações. Krugman disse que o princípio de reação econômica nos EUA deve-se mais a um ajuste de estoques e aos incentivos fiscais. "Foi isso que fomentou o crescimento econômico, mas é algo pontual, que não vai durar para sempre", disse, prevendo desaceleração em breve.


Com a Bloomberg


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