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Indústria química pode ter gás mais barato, diz Petrobras
Empresa que usa gás natural como matéria-prima pode ter desconto, diz Foster
Proposta desagrada à indústria vidreira, que tem na cadeia do plástico, provável beneficiada, um dos maiores concorrentes
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Diretoria de Gás e Energia
da Petrobras quer criar um preço diferenciado do gás natural
para a indústria química. O setor utiliza o insumo como matéria-prima, não como fonte
energética. A informação é da
diretora Maria das Graças Foster. Entre as indústrias que podem ser beneficiadas, estão as
produtoras de fertilizantes e a
cadeia do plástico.
A indústria vidreira criticou a
medida. "Embora reconheçamos ser longa a cadeia do plástico, entendemos que uma política de diferenciação para esse
setor pode criar uma distorção
que atingirá a competitividade
da indústria vidreira que disputa embalagens com o setor do
plástico", diz Lucien Belmonte,
superintendente da Abividro
(Associação Brasileira da Indústria do Vidro).
A proposta de diferenciação
de preços para matéria-prima
foi entregue à Petrobras em
agosto de 2008, e o setor espera
uma resposta para este mês, diz
Luiz Antônio Mesquita, conselheiro da Abiquim (Associação
Brasileira da Indústria Química) e diretor de suprimento e
logística da Fosfertil.
Segundo Foster, a ideia é ancorar o preço do gás ao produto
final da indústria. Haverá condições para isso, antecipa.
"É preciso que seja um produto que tenha estabilidade internacional, que tenha lastro,
que tenha contrato", disse Foster. Assim, o preço do gás, mais
baixo, poderia flutuar como o
produto final.
Dezenove indústrias químicas instaladas no país têm engavetados US$ 3 bilhões em investimentos em razão da política de preços do insumo.
O consumo de gás natural como matéria-prima industrial é
mínimo -cerca de 2,5 milhões
de metros cúbicos por dia. A indústria tem planos para consumir mais 4,1 milhões de metros
cúbicos por dia.
A diretora da Petrobras concorda com as críticas da indústria de que o preço do gás natural no país está elevado e é um
dos mais caros do mundo, como mostra levantamento da
Abrace (Associação Brasileira
de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres).
Foster diz que a tendência é
de queda de preços, sobretudo
a partir de 2013, quando grandes volumes de gás entrarão no
mercado. Por enquanto, a diretora acha incorreta a comparação entre o Brasil e mercados
desenvolvidos. "Não se pode
comparar o preço do gás aqui
com outros mercados desenvolvidos, com risco de estarmos
comparando tangerina com
pneu de bicicleta."
Parcela fixa
Ela também negou à Folha
que tenha montado uma estrutura tarifária no gás nacional
para bancar antecipadamente
investimentos futuros.
A indústria acusa a Petrobras
de ter embutido na tarifa uma
parcela fixa que teria essa finalidade. A estatal afirma que toda a tarifa sustenta os investimentos na expansão da oferta.
A indústria mira a chamada
parcela fixa embutida na tarifa
do gás nacional. Diz que é uma
forma de a estatal arrecadar
antes para investimentos que
fará no futuro. Estima que o
custo de US$ 3 por milhão de
BTU já tenha rendido R$ 1,5 bilhão à estatal.
A Petrobras nega que esse
valor, considerado um custo
dispensável pela indústria, seja
um mecanismo para fazer caixa com vistas a custear os investimentos.
Segundo Foster, a parcela fixa amortece altas e baixas do
preço do petróleo, que, com o
óleo combustível, baliza o preço do gás. Ela diz que a parcela
já rendeu US$ 875 milhões à
empresa, e os investimentos na
produção e expansão da malha
de gasodutos já custaram US$
15,5 bilhões.
"Toda a tarifa banca o investimento, não só a parcela fixa",
diz Foster. Sobre o preço do gás
para a Petrobras, ela diz ser informação confidencial.
A indústria aponta falta de
transparência nesse ponto.
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