São Paulo, quinta-feira, 03 de dezembro de 2009

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Indústria química pode ter gás mais barato, diz Petrobras

Empresa que usa gás natural como matéria-prima pode ter desconto, diz Foster

Proposta desagrada à indústria vidreira, que tem na cadeia do plástico, provável beneficiada, um dos maiores concorrentes

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Diretoria de Gás e Energia da Petrobras quer criar um preço diferenciado do gás natural para a indústria química. O setor utiliza o insumo como matéria-prima, não como fonte energética. A informação é da diretora Maria das Graças Foster. Entre as indústrias que podem ser beneficiadas, estão as produtoras de fertilizantes e a cadeia do plástico.
A indústria vidreira criticou a medida. "Embora reconheçamos ser longa a cadeia do plástico, entendemos que uma política de diferenciação para esse setor pode criar uma distorção que atingirá a competitividade da indústria vidreira que disputa embalagens com o setor do plástico", diz Lucien Belmonte, superintendente da Abividro (Associação Brasileira da Indústria do Vidro).
A proposta de diferenciação de preços para matéria-prima foi entregue à Petrobras em agosto de 2008, e o setor espera uma resposta para este mês, diz Luiz Antônio Mesquita, conselheiro da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química) e diretor de suprimento e logística da Fosfertil.
Segundo Foster, a ideia é ancorar o preço do gás ao produto final da indústria. Haverá condições para isso, antecipa.
"É preciso que seja um produto que tenha estabilidade internacional, que tenha lastro, que tenha contrato", disse Foster. Assim, o preço do gás, mais baixo, poderia flutuar como o produto final.
Dezenove indústrias químicas instaladas no país têm engavetados US$ 3 bilhões em investimentos em razão da política de preços do insumo.
O consumo de gás natural como matéria-prima industrial é mínimo -cerca de 2,5 milhões de metros cúbicos por dia. A indústria tem planos para consumir mais 4,1 milhões de metros cúbicos por dia.
A diretora da Petrobras concorda com as críticas da indústria de que o preço do gás natural no país está elevado e é um dos mais caros do mundo, como mostra levantamento da Abrace (Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres).
Foster diz que a tendência é de queda de preços, sobretudo a partir de 2013, quando grandes volumes de gás entrarão no mercado. Por enquanto, a diretora acha incorreta a comparação entre o Brasil e mercados desenvolvidos. "Não se pode comparar o preço do gás aqui com outros mercados desenvolvidos, com risco de estarmos comparando tangerina com pneu de bicicleta."

Parcela fixa
Ela também negou à Folha que tenha montado uma estrutura tarifária no gás nacional para bancar antecipadamente investimentos futuros.
A indústria acusa a Petrobras de ter embutido na tarifa uma parcela fixa que teria essa finalidade. A estatal afirma que toda a tarifa sustenta os investimentos na expansão da oferta.
A indústria mira a chamada parcela fixa embutida na tarifa do gás nacional. Diz que é uma forma de a estatal arrecadar antes para investimentos que fará no futuro. Estima que o custo de US$ 3 por milhão de BTU já tenha rendido R$ 1,5 bilhão à estatal.
A Petrobras nega que esse valor, considerado um custo dispensável pela indústria, seja um mecanismo para fazer caixa com vistas a custear os investimentos.
Segundo Foster, a parcela fixa amortece altas e baixas do preço do petróleo, que, com o óleo combustível, baliza o preço do gás. Ela diz que a parcela já rendeu US$ 875 milhões à empresa, e os investimentos na produção e expansão da malha de gasodutos já custaram US$ 15,5 bilhões.
"Toda a tarifa banca o investimento, não só a parcela fixa", diz Foster. Sobre o preço do gás para a Petrobras, ela diz ser informação confidencial.
A indústria aponta falta de transparência nesse ponto.


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