São Paulo, quinta-feira, 04 de janeiro de 2007

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Entrada de dólares é recorde em 2006

Graças ao bom desempenho da balança comercial do país, fluxo líquido de divisas cresce 98% e atinge US$ 37 bilhões

BC compra US$ 34 bi e leva reservas a US$ 86 bi, outro recorde; analista acredita que entrada de dólares seguirá forte neste ano


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Graças ao resultado positivo da balança comercial, a entrada de capital estrangeiro no Brasil bateu recorde em 2006. Segundo o Banco Central, o fluxo líquido de divisas cresceu 98% em relação a 2005 e ficou em US$ 37,270 bilhões no ano, o maior saldo já registrado desde 1982, início da série do BC.
Entraram no país em 2006 US$ 339,758 bilhões, enquanto saíram US$ 302,488 bilhões. A entrada recorde de recursos externos valorizou o real e serviu para reforçar as reservas em moeda estrangeira do governo. Dos US$ 37,270 bilhões líquidos que o Brasil recebeu em 2006, cerca de US$ 34,5 bilhões foram comprados pelo BC por meio de intervenções no mercado de câmbio. O resto foi adquirido por bancos.
Dos recursos recebidos pelo país em 2006, US$ 57,598 bilhões se referem ao saldo financeiro da balança comercial -diferença entre o recebido por exportadores e as remessas dos importadores. Já as operações financeiras -captação de empréstimos, pagamento de dívidas e entrada de investimentos estrangeiros, por exemplo- responderam pela saída líquida de US$ 20,328 bilhões em 2006. Esse saldo costuma ficar negativo devido aos pagamentos da dívida externa pública e privada. Só em dezembro, operações financeiras foram responsáveis pela saída de US$ 11,3 bilhões do país.
Esse número, porém, foi influenciado pela antecipação do pagamento de parte dos empréstimos contraídos pela Vale do Rio Doce para financiar a compra da mineradora canadense Inco, numa operação de quase US$ 20 bilhões. Ao todo, o fluxo líquido de dólares do último mês de 2006 ficou negativo em US$ 3,5 bilhões.
Para o gerente de câmbio do banco Prosper, Jorge Knauer, a expectativa é que o ingresso de dólares continue forte em 2007. "Acredito que o fluxo vá continuar positivo. As importações devem crescer, mas as exportações continuam fortes. E os investimentos estrangeiros em Bolsa também devem se manter positivos", afirmou.
Mas Knauer ressalta que, apesar do otimismo em relação ao fluxo de dólares, a taxa de câmbio pode ser afetada por outros motivos, como o comportamento da economia mundial e a desconfiança do mercado sobre a intenção do governo de conter os gastos públicos.
De qualquer forma, o cenário positivo de 2006 permitiu que as reservas internacionais do país chegassem a US$ 85,8 bilhões, outro recorde. Essa alta se explica pela política do governo nos últimos anos: pagar seus compromissos com dólares comprados diretamente no mercado e depositar nas reservas o "excesso" da moeda que for encontrado no mercado.
A vantagem dessa política está na redução da chamada vulnerabilidade externa do país: com uma "poupança" em dólares maior, o país fica com o caixa mais reforçado para enfrentar eventuais crises externas.
Por outro lado, a acumulação de reservas tem alto custo fiscal. Para comprar dólares, o BC precisa obter reais por meio da venda de títulos no mercado. Em 2006, as intervenções no mercado de câmbio custaram R$ 74,4 bilhões ao BC. Corrigido pela atual taxa Selic, de 13,25% ao ano, teria um custo anual de quase R$ 10 bilhões.


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