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São Paulo, terça-feira, 04 de fevereiro de 2003

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ALTO-MAR

Exploração predatória e quantidade limitada de cardumes de alto valor comercial ameaçam atividade no Brasil

Pesca oceânica está no limite, diz estudo

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A possibilidade de aumento da produção de pescado oceânico (de profundidade e em alto-mar) na costa brasileira é mínima.
A exploração predatória dos recursos marítimos da ZEE (Zona Econômica Exclusiva), aliada à pouca quantidade de cardumes de peixe de alto valor comercial nas águas brasileiras, é a principal ameaça à pesca oceânica.
As afirmações partem de dados do Revizee (Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva).
Apesar de os dados do projeto ainda serem preliminares, o mapeamento da ZEE brasileira até o momento revela que o potencial da pesca nessa região está aquém do esperado. Prova disso é que espécies que foram recentemente descobertas para a exploração comercial já estão em declínio.
Um exemplo é o peixe-sapo (Lophius gastrophysus). Por ser considerado uma iguaria em restaurantes europeus, a exploração da espécie tornou-se a vedete do setor pesqueiro. Em 2001, somando-se os desempenhos das costas Sul e Central, foram desembarcadas 8.800 toneladas. Em 2002, porém, a produção declinou 50%.
Um dos principais motivos é o ciclo de vida longo do peixe, que leva cerca de 20 anos para atingir o peso ideal para o comércio. "Com um esforço de pesca muito concentrado nessa espécie, a tendência é a queda da produção de ano a ano", diz Alessandro Athiê, pesquisador do Instituto Oceanográfico da USP.
O caranguejo-de-profundidade também sofre a mesma ameaça. A espécie, que pode pesar até 1,5 kg, também é apreciada pelo mercado internacional. Dados do Instituto Oceanográfico da USP revelam que em 1999 -primeiro ano da exploração com a utilização de apenas um barco- capturaram-se 468 toneladas. No ano seguinte, o volume capturado saltou para 1.770 toneladas. Em 2001, o número de embarcações triplicou. No ano seguinte, porém, a produção caiu pela metade na costa do extremo sul do Brasil.
A situação de superexploração não é diferente em outros pontos do litoral. Na Costa Central -do Cabo de São Tomé a Salvador-, o levantamento do Revizee indica que espécies típicas de costões e alto-mar, como a cioba, já estão plenamente exploradas. Atualmente, são pescadas 4.000 toneladas da espécie, mas a tendência é a de queda, na avaliação do professor Paulo Costa, da UNI-Rio.
Para o secretário especial da Pesca, José Fritsch, porém, a pesca na ZEE e nos mares livres ainda são fonte de recursos para o Brasil, principalmente a captura de atuns (não estudados pelo Revizee). "O que falta é uma estrutura e uma coordenação mais modernas", diz. Fritsch também afirma que a secretaria está aberta a escutar todos os setores envolvidos com a pesca no Brasil.

Costa extensa e limitada
Possuir uma costa de cerca de 8.000 km não significa produção excepcional de pescado.
Esse afirmação é endossada por Carmen-Rossi Wogtsschowski, do Instituto Oceanográfico da USP. "Nas regiões que vão dos 100 m aos 600 m de profundidade, temos mais de 180 espécies e algumas de valor econômico elevado. Mas a quantidade é pequena."
Essa limitação é característica do litoral brasileiro. Na costa do mar do Norte, por exemplo, a situação é inversa -há pouca diversidade, mas os cardumes de espécies de alto valor comercial, como o arenque, são abundantes.


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