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Importado derruba venda de máquinas
Empresários afirmam que compra de bens de consumo do exterior diminui apetite por novos investimentos no país
Abimaq contesta ata do
Copom que relatou alta no
consumo de equipamentos
em 2006; economista
defende as importações
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao contrário do esperado, o
consumo total de máquinas e
equipamentos no Brasil caiu
em 2006. O recuo foi de 0,6%,
levando em conta a produção
destinada ao mercado interno
mais as importações.
Isso significa que as empresas brasileiras investiram menos para aumentar a produção,
revertendo a tendência dos últimos seis anos.
Para Newton de Mello, presidente da Abimaq, que reúne os
fabricantes do setor, o maior
responsável por isso foi o forte
aumento nas importações
-não de máquinas, mas de produtos acabados feitos em máquinas fora do Brasil.
Mello contesta afirmação da
ata do Copom do Banco Central da semana passada, segundo a qual houve alta no consumo de máquinas em 2006.
De acordo com os resultados
do PIB até o terceiro trimestre
(o PIB do ano sai no fim deste
mês), os investimentos no setor produtivo, chamados de
FBCF (formação bruta de capital fixo), acumularam alta de
6% no ano passado. Mas a construção civil tem peso de 60% no
cálculo da FBCF, o que não significa consumo de máquinas.
Mello diz que o resultado do
ano desencadeou pesquisa entre os 1.200 associados da Abimaq para saber o que eles têm
importado em substituição a
produtos internos -como correias ou bombas hidráulicas.
"A idéia da pesquisa veio ao
me barbear. Notei que o creme,
antes nacional, agora vem da
Argentina. O fósforo da minha
casa no interior, da África do
Sul", diz Mello. Em 2006, seu
setor demitiu 4.301 pessoas.
Na AMF-Industécnica, subsidiária de empresa alemã que
fabrica peças para máquinas, a
importação de componentes
antes produzidos no Brasil passou a representar 10% do faturamento em 2006, diz Carlos
Nogueira, presidente da AMF.
Já a Sandretto vem sofrendo
diretamente com o aumento
das importações de produtos
acabados. A empresa faz máquinas para injetar plásticos
(embalagens ou bacias, por
exemplo), e muitos de seus
clientes que fabricavam esses
produtos no país agora perdem
mercado para os importados.
A área têxtil está entre as
mais afetadas pelas importações e revela como o PIB do setor "vaza" para fora. No ano
passado, a produção física têxtil
caiu 5%. Mas as vendas no varejo foram no caminho contrário:
subiram 7%. A diferença foi
abastecida com importados.
"A situação do setor é a seguinte: exportamos algodão como commodity a um bom preço e importamos roupa pronta
da China em valores irrisórios",
afirma Rafael Cervone, presidente do Sinditêxtil.
É comum ouvir empresários
nacionais reclamando das importações. Afinal, elas tiram
mercado deles e os obrigam a
investir mais para se tornarem
mais competitivos.
"A única razão que leva um
país a exportar é poder importar. Poder comprar bens e tecnologia de fora para se tornar
mais competitivo", afirma Celso Toledo, da MCM.
Em uma pesquisa realizada
pelo FMI (Fundo Monetário
Internacional) em 2004, o Brasil apareceu como penúltimo
em uma lista dos 84 maiores
importadores, só à frente do
Japão. As compras brasileiras
de fora representavam apenas
13% do PIB, contra 32% no México e 40% na Coréia do Sul.
No cenário atual, porém,
apesar de o crescimento em volume das importações estar
mais acelerado do que o das exportações, o dólar se mantém
abaixo de R$ 2,20 por causa dos
juros e dos preços das commodities vendidas para fora.
Para Sérgio Vale, economista
da MB Associados, o "vazamento" do PIB continuará em 2007.
A consultoria estima que as importações aumentarão 10,5%
neste ano, e as exportações,
4,3%. O "vazamento" chegaria
a 0,8%, e o PIB, a 2,8%. Sem o
"vazamento", o Brasil poderia
crescer 3,6% neste ano.
Para o economista-chefe do
HSBC, Alexandre Bassoli, a
"perda" de PIB via setor externo não é necessariamente
ruim. "O Brasil parece não ter
capacidade produtiva para
crescer mais de 4%. Se não houvesse o "vazamento", talvez tivéssemos ainda um juro maior
para segurar um consumo que
foi atendido pelos importados",
afirma.
(FERNANDO CANZIAN)
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