São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Importado derruba venda de máquinas

Empresários afirmam que compra de bens de consumo do exterior diminui apetite por novos investimentos no país

Abimaq contesta ata do Copom que relatou alta no consumo de equipamentos em 2006; economista defende as importações

DA REPORTAGEM LOCAL

Ao contrário do esperado, o consumo total de máquinas e equipamentos no Brasil caiu em 2006. O recuo foi de 0,6%, levando em conta a produção destinada ao mercado interno mais as importações.
Isso significa que as empresas brasileiras investiram menos para aumentar a produção, revertendo a tendência dos últimos seis anos.
Para Newton de Mello, presidente da Abimaq, que reúne os fabricantes do setor, o maior responsável por isso foi o forte aumento nas importações -não de máquinas, mas de produtos acabados feitos em máquinas fora do Brasil.
Mello contesta afirmação da ata do Copom do Banco Central da semana passada, segundo a qual houve alta no consumo de máquinas em 2006.
De acordo com os resultados do PIB até o terceiro trimestre (o PIB do ano sai no fim deste mês), os investimentos no setor produtivo, chamados de FBCF (formação bruta de capital fixo), acumularam alta de 6% no ano passado. Mas a construção civil tem peso de 60% no cálculo da FBCF, o que não significa consumo de máquinas.
Mello diz que o resultado do ano desencadeou pesquisa entre os 1.200 associados da Abimaq para saber o que eles têm importado em substituição a produtos internos -como correias ou bombas hidráulicas.
"A idéia da pesquisa veio ao me barbear. Notei que o creme, antes nacional, agora vem da Argentina. O fósforo da minha casa no interior, da África do Sul", diz Mello. Em 2006, seu setor demitiu 4.301 pessoas.
Na AMF-Industécnica, subsidiária de empresa alemã que fabrica peças para máquinas, a importação de componentes antes produzidos no Brasil passou a representar 10% do faturamento em 2006, diz Carlos Nogueira, presidente da AMF.
Já a Sandretto vem sofrendo diretamente com o aumento das importações de produtos acabados. A empresa faz máquinas para injetar plásticos (embalagens ou bacias, por exemplo), e muitos de seus clientes que fabricavam esses produtos no país agora perdem mercado para os importados.
A área têxtil está entre as mais afetadas pelas importações e revela como o PIB do setor "vaza" para fora. No ano passado, a produção física têxtil caiu 5%. Mas as vendas no varejo foram no caminho contrário: subiram 7%. A diferença foi abastecida com importados.
"A situação do setor é a seguinte: exportamos algodão como commodity a um bom preço e importamos roupa pronta da China em valores irrisórios", afirma Rafael Cervone, presidente do Sinditêxtil.
É comum ouvir empresários nacionais reclamando das importações. Afinal, elas tiram mercado deles e os obrigam a investir mais para se tornarem mais competitivos.
"A única razão que leva um país a exportar é poder importar. Poder comprar bens e tecnologia de fora para se tornar mais competitivo", afirma Celso Toledo, da MCM.
Em uma pesquisa realizada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em 2004, o Brasil apareceu como penúltimo em uma lista dos 84 maiores importadores, só à frente do Japão. As compras brasileiras de fora representavam apenas 13% do PIB, contra 32% no México e 40% na Coréia do Sul.
No cenário atual, porém, apesar de o crescimento em volume das importações estar mais acelerado do que o das exportações, o dólar se mantém abaixo de R$ 2,20 por causa dos juros e dos preços das commodities vendidas para fora.
Para Sérgio Vale, economista da MB Associados, o "vazamento" do PIB continuará em 2007. A consultoria estima que as importações aumentarão 10,5% neste ano, e as exportações, 4,3%. O "vazamento" chegaria a 0,8%, e o PIB, a 2,8%. Sem o "vazamento", o Brasil poderia crescer 3,6% neste ano.
Para o economista-chefe do HSBC, Alexandre Bassoli, a "perda" de PIB via setor externo não é necessariamente ruim. "O Brasil parece não ter capacidade produtiva para crescer mais de 4%. Se não houvesse o "vazamento", talvez tivéssemos ainda um juro maior para segurar um consumo que foi atendido pelos importados", afirma. (FERNANDO CANZIAN)


Texto Anterior: Rubens Ricupero: A insurreição da bondade
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.