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Fazenda de SP faz "freio de arrumação"
Secretaria contingencia verbas e reavalia despesas e licitações a fim de conter gastos e elevar caixa para investimentos
Novo secretário diz que não dará trégua a sonegadores e que criará uma estratégia de desenvolvimento para o Estado de São Paulo
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE DINHEIRO
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Secretaria da Fazenda do
Estado de São Paulo prepara
medidas para elevar a arrecadação de impostos e os investimentos no Estado. São ações
para combater as fraudes fiscais, o comércio de produtos
falsificados e a inadimplência.
Para ter mais recursos em
caixa, optou também por implementar o que chama de
"freio de arrumação". Isso significa contingenciar gastos de
maneira que a secretaria olhe
melhor o seu orçamento e redefina as suas prioridades.
"Há um programa de redução de despesas e de incremento de receita que permite ter
maior folga orçamentária para
fazer investimentos. O Estado
não existe só para se manter. Se
deixar, a máquina consome todos os recursos na sua manutenção", afirma Mauro Ricardo
Machado Costa, secretário da
Fazenda do governo José Serra
(PSDB).
Costa diz que o governo paulista cortou 15% dos cargos de
comissão e está fazendo recadastramento de servidores para identificar onde eles estão,
quanto ganham e o que fazem.
"Também estamos reavaliando
e renegociando as licitações em
curso e os contratos em vigor."
As parcerias com a Receita
Federal e a Polícia Federal para
combater o comércio de produtos ilegais, segundo informa,
serão mantidas e haverá maior
utilização da chamada inteligência fiscal e policial por meio
do cruzamento de informações
de vários órgãos.
"Não vamos dar trégua aos
sonegadores. Vamos priorizar
as ações no atacado, nas unidades de distribuição." O governo
paulista não fez estudo para saber o tamanho da sonegação
fiscal do Estado. "Mas temos
certeza de que não é pequena."
Leia trechos de entrevista
concedida à Folha na quinta.
FOLHA - O governo paulista tem
planos para redução da carga tributária estadual?
MAURO RICARDO MACHADO COSTA -
O Estado de São Paulo tem reduzido ano a ano a sua carga tributária, em especial em benefício da pequena e da média empresa e no caso de produtos da
cesta básica, e pretende continuar com essa estratégia dentro de um projeto de desenvolvimento do Estado. Para isso, o
governador José Serra criou a
Secretaria de Desenvolvimento
para pensar o Estado como um
todo e ver como é possível tornar as empresas mais competitivas. Há várias ações que podem ser implementadas, como
a melhoria da infra-estrutura,
da educação, da saúde, das estradas, dos portos e dos aeroportos, além de incentivos fiscais. Tudo será usado dentro de
um projeto de desenvolvimento do Estado.
FOLHA - Projetos para desenvolvimento do Estado já estão definidos?
COSTA - Começamos a estruturar a área de desenvolvimento
do Estado, que não existia. Antigamente, havia uma secretaria que só tinha o nome de Desenvolvimento Econômico,
Ciência e Tecnologia. Na realidade, ela não promovia ações
de desenvolvimento econômico. Retiramos todas as outras
atividades dessa secretaria e
deixamos só a atividade de desenvolvimento econômico. A
redução de impostos é um dos
instrumentos a serem utilizados, mas não será o único.
FOLHA - O incentivo fiscal não é
uma forma de atrair investimentos
e desenvolvimento para o Estado?
COSTA - Não necessariamente,
porque, muitas vezes, o que se
precisa é de infra-estrutura,
que, às vezes, vale mais do que o
incentivo fiscal. Por isso cito a
importância do Rodoanel, do
Metrô para tornar o Estado
mais competitivo.
FOLHA - O Estado trabalha com
perspectiva de elevar a arrecadação
de impostos?
COSTA - Sim, com certeza. Há
uma meta de estabilidade, mas
dá para incrementar. Uma das
formas de aumentar a receita
tributária é implementar ações
para redução das fraudes fiscais, da pirataria, da sonegação
de impostos e da inadimplência. Estamos preparando uma
série de medidas nesse sentido
e em vários setores. Minha sugestão é que os contribuintes
cumpram direitinho suas obrigações tributárias, pois não daremos trégua aos sonegadores.
FOLHA - Após várias blitze de fiscais e policiais em shoppings populares em 2005 e 2006, esses estabelecimentos operam hoje normalmente e até com mais produtos ilegais. É possível acabar com isso?
COSTA - É possível minimizar
isso. A fronteira do Brasil é
muito grande. O que é preciso é
atacar os pontos de entrada
desses produtos no país, identificar as rotas e os centros de
distribuição. Por isso, entendemos que é preciso utilizar a inteligência fiscal e policial e
priorizar as ações no atacado,
não no varejo. Muitas vezes, as
mercadorias ficam em apartamentos, não em depósitos, o
que torna muito difícil a identificação dos fraudadores.
FOLHA - Como está o caixa do governo paulista?
COSTA - O caixa está bem. Há
vinculações constitucionais em
que não podemos mexer, como
os recursos para saúde e educação. Mas o plano é cortar gastos
para fazer mais investimentos.
Cortamos 15% de cargos de comissão, estamos fazendo recadastramento de servidores, renegociando todas as licitações em curso e os contratos em vigor e levantando todos os haveres e dívidas do Tesouro do Estado. Fizemos o contingenciamento das despesas de custeio
e investimentos para que possamos fazer o que chamamos
de freio de arrumação.
FOLHA - Quanto a anistia a devedores de ICMS rendeu aos cofres do
Estado no final de 2006?
COSTA - A anistia a devedores
de ICMS [que durou de outubro a dezembro do ano passado] rendeu R$ 1,5 bilhão. Desse
valor, 75% ficaram com o governo do Estado, e 25%, com os
municípios. Esses recursos têm
destinações específicas constitucionais e legais -30% dos recursos vão para a educação;
12%, para a saúde, e 13%, para o
pagamento da dívida, por
exemplo. De cada R$ 1 arrecadado, o Estado fica, na realidade, com R$ 0,06, mantidas as
desvinculações e as destinações obrigatórias.
FOLHA - A Fazenda paulista pretende dar continuidade ao programa de anistia a devedores de ICMS?
COSTA - O programa de anistia
foi feito para um período e
aprovado pelo Confaz [Conselho Nacional de Política Fazendária, que representa os secretários estaduais da Fazenda] a fim de minimizar os problemas
de caixa dos governos que estavam saindo. Mas esses contribuintes que se beneficiam da
anistia não podem ter uma situação mais vantajosa do que
aqueles que estão em dia com
as suas obrigações tributárias.
Senão, você desestimula o
cumprimento regular dessas
obrigações.
FOLHA - O governador Serra é conhecido por ser centralizador. Como
é trabalhar com ele?
COSTA - Minha relação com ele
é muito boa, com muita liberdade. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o governador Serra não é centralizador naquilo que ele tem confiança e
sabe que está certo. Naquilo
que não acontece da forma como ele gostaria, ou seja, quando
as coisas não estão sendo executadas a contento, ele acompanha mais de perto para ajudar na solução de entraves para atingir os objetivos estabelecidos. Ele sempre me deu muita
liberdade para agir [Costa conhece Serra há 12 anos e já trabalhou com ele nos ministérios
do Planejamento e da Saúde e
na Prefeitura de São Paulo].
FOLHA - Serra telefona para o sr. no
meio da noite?
COSTA - Serra telefona porque
ele tem pressa em resolver os
problemas, quando se lembra
de algum assunto ou alguém
conta algo para ele que precisa
ser passado imediatamente para outra pessoa. Ele liga porque
fica com receio de esquecer.
Mas, agora, com a revolução
tecnológica, ele passa e-mail.
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