|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JORGE GERDAU JOHANNPETER
Davos, uma angústia bem-vinda
Os participantes elegeram o aquecimento global como o
fator que provavelmente
mais impactará o mundo
|
INQUIETAÇÃO e esperança. Essas
sensações permearam os debates do Fórum Econômico Mundial, realizado há poucos dias em
Davos. Assistidas por mais de 2.000
participantes, as discussões foram
verdadeiros embates na busca de
soluções para os grandes desafios da
humanidade -o aquecimento global, as práticas de comércio e a globalização-, considerando as desigualdades sociais e as mudanças na
dinâmica do poder econômico impulsionadas pelo crescimento da
China e da Índia.
No entanto, Davos foi além de
uma ampla discussão sobre as perspectivas da economia mundial. O
Fórum estimulou nas lideranças
mundiais a capacidade de redimensionar os impactos de suas políticas
no mundo em que vivemos, de
imensas disparidades e níveis de
competição cada vez mais acirrados.
Esse crescimento da competitividade global também pôde ser observado pelo esforço dos países presentes
em reforçar suas qualificações para
atrair novos investimentos, a exemplo do Brasil, com a criação do PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento). Especialmente para os países em desenvolvimento, o encontro em Davos foi positivo ao estimular a retomada das negociações da
Rodada Doha, suspensas há meses.
Esse esforço para reduzir barreiras e subsídios comerciais iniciado
em 2001 poderá, no futuro, ampliar
a inserção do Brasil no comércio internacional, principalmente a partir
da abertura de mercados agrícolas
nos Estados Unidos e na Europa. Os
subsídios, além de prejudicar diretamente os mercados que o praticam, influenciam na formação dos
preços internacionais das commodities e impactam negativamente os
países em desenvolvimento.
Mas, sem dúvida, a preocupação
com o ambiente foi um dos grandes
destaques nesta edição do Fórum.
Divididos em pequenos grupos de
trabalho, os participantes elegeram
o aquecimento global como o fator
que provavelmente mais impactará
o mundo no futuro, superando temas como a emergência de novos
mercados. O impacto da ausência de
um consenso para conter o processo
de aquecimento global, o qual pode
resultar em um acréscimo em média de 3C na temperatura em 2100,
é uma bomba-relógio que os governos e as lideranças devem urgentemente se preocupar em desarmar.
Profundas alterações sociais, políticas e econômicas vão decorrer desse
processo de alinhamento e mobilização.
As soluções para os problemas globais são absolutamente complexas. Exigem mudanças comportamentais enormes, o que naturalmente pode suscitar pessimismo e
críticas por agentes da sociedade.
Críticas são fundamentais para contribuir na busca de soluções efetivas,
mas perdem seu sentido quando buscam objetivos individuais e imediatistas e restringem-se a uma visão pessimista.
Em Davos, apesar da complexidade dos temas, os participantes mantiveram-se confiantes em que existem alternativas viáveis para esses desafios. A mudança do cenário global depende principalmente da capacidade de indignação das lideranças, sejam governamentais, empresariais, políticas, acadêmicas ou sindicais. São elas que têm condições de mobilizar as pessoas e transformar boas idéias em atitudes concretas.
JORGE GERDAU JOHANNPETER , 70, é presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial.
jorge.gerdau@gerdau.com.br
Texto Anterior: 130 mil benefícios podem ser fraudulentos Próximo Texto: Fazenda de SP faz "freio de arrumação" Índice
|