São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007

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JORGE GERDAU JOHANNPETER

Davos, uma angústia bem-vinda


Os participantes elegeram o aquecimento global como o fator que provavelmente mais impactará o mundo

INQUIETAÇÃO e esperança. Essas sensações permearam os debates do Fórum Econômico Mundial, realizado há poucos dias em Davos. Assistidas por mais de 2.000 participantes, as discussões foram verdadeiros embates na busca de soluções para os grandes desafios da humanidade -o aquecimento global, as práticas de comércio e a globalização-, considerando as desigualdades sociais e as mudanças na dinâmica do poder econômico impulsionadas pelo crescimento da China e da Índia.
No entanto, Davos foi além de uma ampla discussão sobre as perspectivas da economia mundial. O Fórum estimulou nas lideranças mundiais a capacidade de redimensionar os impactos de suas políticas no mundo em que vivemos, de imensas disparidades e níveis de competição cada vez mais acirrados.
Esse crescimento da competitividade global também pôde ser observado pelo esforço dos países presentes em reforçar suas qualificações para atrair novos investimentos, a exemplo do Brasil, com a criação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Especialmente para os países em desenvolvimento, o encontro em Davos foi positivo ao estimular a retomada das negociações da Rodada Doha, suspensas há meses.
Esse esforço para reduzir barreiras e subsídios comerciais iniciado em 2001 poderá, no futuro, ampliar a inserção do Brasil no comércio internacional, principalmente a partir da abertura de mercados agrícolas nos Estados Unidos e na Europa. Os subsídios, além de prejudicar diretamente os mercados que o praticam, influenciam na formação dos preços internacionais das commodities e impactam negativamente os países em desenvolvimento.
Mas, sem dúvida, a preocupação com o ambiente foi um dos grandes destaques nesta edição do Fórum.
Divididos em pequenos grupos de trabalho, os participantes elegeram o aquecimento global como o fator que provavelmente mais impactará o mundo no futuro, superando temas como a emergência de novos mercados. O impacto da ausência de um consenso para conter o processo de aquecimento global, o qual pode resultar em um acréscimo em média de 3C na temperatura em 2100, é uma bomba-relógio que os governos e as lideranças devem urgentemente se preocupar em desarmar.
Profundas alterações sociais, políticas e econômicas vão decorrer desse processo de alinhamento e mobilização.
As soluções para os problemas globais são absolutamente complexas. Exigem mudanças comportamentais enormes, o que naturalmente pode suscitar pessimismo e críticas por agentes da sociedade.
Críticas são fundamentais para contribuir na busca de soluções efetivas, mas perdem seu sentido quando buscam objetivos individuais e imediatistas e restringem-se a uma visão pessimista.
Em Davos, apesar da complexidade dos temas, os participantes mantiveram-se confiantes em que existem alternativas viáveis para esses desafios. A mudança do cenário global depende principalmente da capacidade de indignação das lideranças, sejam governamentais, empresariais, políticas, acadêmicas ou sindicais. São elas que têm condições de mobilizar as pessoas e transformar boas idéias em atitudes concretas.


JORGE GERDAU JOHANNPETER , 70, é presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial.

jorge.gerdau@gerdau.com.br


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