São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2004

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COMÉRCIO MUNDIAL

Documento ameaça "isolar" os países que não concordarem

EUA insistem em Alca abrangente

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Os EUA continuarão perseguindo uma Alca (Área de Livre Comércio das Américas) mais abrangente possível, apesar da "resistência" de países como o Brasil, e agora ameaçam abertamente impor retaliações comerciais à China caso o país não acelere a abertura de seu mercado.
Em documento enviado ontem ao Congresso dos EUA, o USTr (United States Trade Representative), órgão máximo de comércio, reforça a chamada "doutrina Bush" de "políticas agressivas" na área comercial e ameaça com "isolamento" os países que não se alinharem às ambições norte-americanas.
"Por meio de uma agenda comercial ambiciosa, os EUA estão empenhados em garantir todos os benefícios da abertura de mercados para as famílias, fazendeiros, trabalhadores e consumidores norte-americanos", diz Robert Zoellick, representante comercial dos EUA, no documento enviado ao Congresso.
Em relação à Alca, a "Agenda Comercial da Presidência" para 2004 insiste na obtenção de vários pontos com os quais o Brasil já mostrou total discordância com as ambições norte-americanas.
O documento deixa claro que o USTr perseguirá acordos ""com todos os países envolvidos" em áreas como investimentos, compras governamentais, serviços e propriedade intelectual.
A posição brasileira tem sido a de deixar essas áreas de fora à medida que os norte-americanos não aceitam negociar na Alca o fim de seus subsídios agrícolas e políticas antidumping que barram o acesso de empresas brasileiras aos EUA.
"Algumas delegações [que negociam a Alca] vêm questionando esses princípios e objetivos, propondo que a Alca fique concentrada apenas no acesso a mercados (...). A Alca deve ser abrangente e incluir um conjunto comum de direitos e obrigações a ser aplicado para todos os países em todas as áreas que estão sendo negociadas", diz o documento.
Zoellick reafirma a disposição dos EUA de procurar acordos bilaterais e multilaterais com outros países participantes da Alca que quiserem "ir além".
O documento reforça que os EUA também pretendem aumentar em 2004 a ofensiva para garantir o respeito ao direito de propriedade intelectual.
Anualmente, o Brasil é citado negativamente e de modo amplo em relatório do USTr que acusa o país de ser "leniente" com a pirataria e de desrespeitar patentes.
A mensagem ao Congresso afirma ainda que a administração Bush considera ""ampla e muito adequada" a proposta dos EUA feita aos negociadores da Alca em fevereiro de 2003.
Na ocasião, o Brasil e o Mercosul reagiram negativamente ao serem colocados "no final da fila" dos países que serão beneficiados com a abertura do mercado dos EUA caso a Alca seja criada.

China
O documento do USTr também faz uma ameaça clara à China e afirma que o país "desacelerou" em 2003 o "compromisso" de abrir seu mercado a produtos norte-americanos.
"A China deve aumentar o nível de abertura de seu mercado e tratar os produtos dos EUA de forma justa se quiser continuar mantendo o acesso que dispõe hoje ao mercado norte-americano."


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