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LUÍS NASSIF
As dúvidas sobre a AmBev
Há três dúvidas no mercado sobre a pretensa fusão entre a AmBev e a belga
Interbrew. O controle da AmBev é repartido entre o trio
Jorge Paulo Lemann, Carlos
Sicupira e Marcel Telles e a
Fundação Antonio e Helena
Zerrenner. O trio tem ações de
controle que representam
21,8% do capital da AmBev.
Haverá troca de ações entre
eles e a Interbrew. Os controladores da AmBev saem da
companhia e pulam para o
andar de cima -virando sócios da InterBev, o novo nome
pela qual será conhecida a Interbrew. A InterBev assume o
posto que era deles na AmBev.
Depois, a AmBev irá adquirir a Labatt, empresa canadense controlada em 100% pela Interbrew. A Labatt detém
44% do mercado canadense,
participa em 30% do capital
da segunda cervejaria do México e tem 70% da segunda
maior importadora de cerveja
dos Estados Unidos.
Ontem, as avaliações que
corriam o mercado eram da
seguinte ordem:
1) não houve fusão, mas a
aquisição da AmBev pela Interbrew;
2) o valor a ser pago pela Labatt teria sido excessivo e visaria compensar o prêmio de
controle (o que se paga mais
por ações que dão direito ao
controle de uma empresa) pago ao trio;
3) se o negócio foi tão bom
para os controladores, qual a
razão de a Fundação não ter
vendido sua parte?
De Londres, Marcel Telles
telefona para informar que,
pela troca de ações, a Interbev
vai assumir a posição que hoje
é dos três acionistas. O acordo
de acionistas, compartilhado
com a Fundação, será prorrogado por mais dez anos. Portanto, não haveria mudança
de controle. Em contraparti-
da, na Interbev o trio terá o
controle compartilhado com
as três famílias belgas que hoje controlam a companhia. As
três famílias ficariam com
30%, e eles, com 25% da nova
Interbev, mas com o mesmo
número de votos no conselho.
Haverá um contrato de acionistas válido por 20 anos e eles
estarão lá, defendendo as cores do Brasil.
O que analistas do mercado
sustentam é que no próprio
press release a AmBev informa que os minoritários (donos de ação com direito a voto, mas que não participam do
bloco de controle) terão direito a 80% do valor pago aos
controladores. Essa medida é
exigida pela legislação brasileira apenas no caso de venda
de controle. Como membros
do conselho da Interbev, eles
estarão lá defendendo a lógica
que for mais lucrativa para a
empresa -não necessariamente para o Brasil ou para a
AmBev. É a mesma lógica que
motivou as críticas à tentativa
de fusão entre a Corus e a
CSN.
Em relação ao preço, no
mercado de cerveja o valor da
empresa é um múltiplo do
Ebitda (geração de caixa).
Com base no Ebitda do ano
passado, o mercado apostava
em um múltiplo de 8; deu 12.
Os cálculos da AmBev são em
cima do Ebitda previsto para
2004. Pelas suas contas, é 10,1.
Se o negócio é tão bom, por
que a Fundação não entrou?
Presidente da Fundação, Victorio De Marchi informa que,
se investisse em ativos no exterior, a Fundação poderia perder a imunidade tributária.
Analistas de mercado sustentam que não existe essa perda
da imunidade.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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