São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2004

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LUÍS NASSIF

As dúvidas sobre a AmBev

Há três dúvidas no mercado sobre a pretensa fusão entre a AmBev e a belga Interbrew. O controle da AmBev é repartido entre o trio Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles e a Fundação Antonio e Helena Zerrenner. O trio tem ações de controle que representam 21,8% do capital da AmBev.
Haverá troca de ações entre eles e a Interbrew. Os controladores da AmBev saem da companhia e pulam para o andar de cima -virando sócios da InterBev, o novo nome pela qual será conhecida a Interbrew. A InterBev assume o posto que era deles na AmBev.
Depois, a AmBev irá adquirir a Labatt, empresa canadense controlada em 100% pela Interbrew. A Labatt detém 44% do mercado canadense, participa em 30% do capital da segunda cervejaria do México e tem 70% da segunda maior importadora de cerveja dos Estados Unidos.
Ontem, as avaliações que corriam o mercado eram da seguinte ordem:
1) não houve fusão, mas a aquisição da AmBev pela Interbrew;
2) o valor a ser pago pela Labatt teria sido excessivo e visaria compensar o prêmio de controle (o que se paga mais por ações que dão direito ao controle de uma empresa) pago ao trio;
3) se o negócio foi tão bom para os controladores, qual a razão de a Fundação não ter vendido sua parte?
De Londres, Marcel Telles telefona para informar que, pela troca de ações, a Interbev vai assumir a posição que hoje é dos três acionistas. O acordo de acionistas, compartilhado com a Fundação, será prorrogado por mais dez anos. Portanto, não haveria mudança de controle. Em contraparti- da, na Interbev o trio terá o controle compartilhado com as três famílias belgas que hoje controlam a companhia. As três famílias ficariam com 30%, e eles, com 25% da nova Interbev, mas com o mesmo número de votos no conselho. Haverá um contrato de acionistas válido por 20 anos e eles estarão lá, defendendo as cores do Brasil.
O que analistas do mercado sustentam é que no próprio press release a AmBev informa que os minoritários (donos de ação com direito a voto, mas que não participam do bloco de controle) terão direito a 80% do valor pago aos controladores. Essa medida é exigida pela legislação brasileira apenas no caso de venda de controle. Como membros do conselho da Interbev, eles estarão lá defendendo a lógica que for mais lucrativa para a empresa -não necessariamente para o Brasil ou para a AmBev. É a mesma lógica que motivou as críticas à tentativa de fusão entre a Corus e a CSN.
Em relação ao preço, no mercado de cerveja o valor da empresa é um múltiplo do Ebitda (geração de caixa). Com base no Ebitda do ano passado, o mercado apostava em um múltiplo de 8; deu 12. Os cálculos da AmBev são em cima do Ebitda previsto para 2004. Pelas suas contas, é 10,1.
Se o negócio é tão bom, por que a Fundação não entrou? Presidente da Fundação, Victorio De Marchi informa que, se investisse em ativos no exterior, a Fundação poderia perder a imunidade tributária. Analistas de mercado sustentam que não existe essa perda da imunidade.

E-mail -
Luisnassif@uol.com.br

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