São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Especialistas sugerem mudar meta

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central deveria afrouxar a política monetária e abandonar o centro da meta de inflação deste ano, de 5,5%, na avaliação de um número cada vez maior de especialistas, para evitar custo excessivo para a economia. Outros analistas defendem uma mudança nos parâmetros que definem o regime.
O diretor do Itaú e ex-diretor de Política Econômica do BC Sérgio Werlang defende que, já na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) deste mês, o BC cogite mirar uma inflação de 6% a 6,5%, alvo que estaria ainda dentro da margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais acima ou abaixo da meta. "A banda [margem de tolerância] está aí para ser usada. O sistema não precisa ser cego", disse Werlang.
Para o ex-ministro e deputado Delfim Netto (PP-SP), "o Banco Central tem tido uma preocupação exagerada" em relação ao recente aumento de preços. Na ata da última reunião do Copom, o BC escreveu que havia "uma probabilidade concreta de que a inflação volte a se desviar da trajetória de metas, o que requer cautela adicional da política monetária".
"Houve um pouco de terror até do BC [na ata]", disse Delfim. Em sua opinião, o BC "pode e deve" usar a margem de tolerância.
Na opinião de Werlang, tudo indica que o aumento de preços visto no começo deste ano se deveu a choques de oferta -e não ao aumento de demanda.
Ele cita os produtos agrícolas e as commodities. Os preços dos primeiros subiram por causa das fortes chuvas. Os do segundo grupo aumentaram lá fora, entre outros fatores, por conta da maior demanda chinesa.
"Se o BC constatar que os aumentos foram causados por choques de oferta, deveria utilizar a banda e evitar um custo excessivo para a economia", disse Werlang.
Em seus cálculos, não mirar um alvo acima da meta poderia representar impacto negativo no PIB de 0,5 ponto percentual. Se buscar a meta de 6,5% representasse crescer 4%, manter os esforços para perseguir os 5,5% significaria expansão do PIB de 3,5%.
Para o economista da Tendências Consultoria Edward Amadeo, o BC vai usar a margem de tolerância se confirmar, mais adiante, que a inflação ultrapassará o centro da meta.
Outros economistas defendem uma mudança no próprio regime de metas. Acreditam que o BC poderia, por exemplo, abandonar o índice "cheio" de inflação e perseguir apenas o seu "núcleo" -que exclui efeitos temporários de alta e baixa de alguns preços.
"Quase todos os países que usam o regime de metas perseguem o "núcleo". O problema do índice "cheio" é que ele confunde os efeitos de choques temporários com a volta do processo inflacionário", afirma João Luiz Máscolo, professor do Ibmec.
Para Alexandre Maia, economista-chefe da Gap Asset Management, provavelmente mudanças no regime de metas deverão ocorrer apenas no próximo ano. Segundo ele, uma possibilidade é que o BC flexibilize o período em que a meta é perseguida -hoje, de um ano fechado.


Texto Anterior: Dragão controlado: Inflação cai mais do que o previsto em SP
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.