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Especialistas sugerem mudar meta
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Central deveria afrouxar a política monetária e abandonar o centro da meta de inflação deste ano, de 5,5%, na avaliação de um número cada vez
maior de especialistas, para evitar
custo excessivo para a economia.
Outros analistas defendem uma
mudança nos parâmetros que definem o regime.
O diretor do Itaú e ex-diretor de
Política Econômica do BC Sérgio
Werlang defende que, já na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) deste mês, o BC cogite mirar uma inflação de 6% a
6,5%, alvo que estaria ainda dentro da margem de tolerância de
2,5 pontos percentuais acima ou
abaixo da meta. "A banda [margem de tolerância] está aí para ser
usada. O sistema não precisa ser
cego", disse Werlang.
Para o ex-ministro e deputado
Delfim Netto (PP-SP), "o Banco
Central tem tido uma preocupação exagerada" em relação ao recente aumento de preços. Na ata
da última reunião do Copom, o
BC escreveu que havia "uma probabilidade concreta de que a inflação volte a se desviar da trajetória de metas, o que requer cautela
adicional da política monetária".
"Houve um pouco de terror até
do BC [na ata]", disse Delfim. Em
sua opinião, o BC "pode e deve"
usar a margem de tolerância.
Na opinião de Werlang, tudo indica que o aumento de preços visto no começo deste ano se deveu a
choques de oferta -e não ao aumento de demanda.
Ele cita os produtos agrícolas e
as commodities. Os preços dos
primeiros subiram por causa das
fortes chuvas. Os do segundo grupo aumentaram lá fora, entre outros fatores, por conta da maior
demanda chinesa.
"Se o BC constatar que os aumentos foram causados por choques de oferta, deveria utilizar a
banda e evitar um custo excessivo
para a economia", disse Werlang.
Em seus cálculos, não mirar um
alvo acima da meta poderia representar impacto negativo no PIB
de 0,5 ponto percentual. Se buscar
a meta de 6,5% representasse
crescer 4%, manter os esforços
para perseguir os 5,5% significaria expansão do PIB de 3,5%.
Para o economista da Tendências Consultoria Edward Amadeo, o BC vai usar a margem de
tolerância se confirmar, mais
adiante, que a inflação ultrapassará o centro da meta.
Outros economistas defendem
uma mudança no próprio regime
de metas. Acreditam que o BC poderia, por exemplo, abandonar o
índice "cheio" de inflação e perseguir apenas o seu "núcleo" -que
exclui efeitos temporários de alta
e baixa de alguns preços.
"Quase todos os países que
usam o regime de metas perseguem o "núcleo". O problema do
índice "cheio" é que ele confunde
os efeitos de choques temporários
com a volta do processo inflacionário", afirma João Luiz Máscolo,
professor do Ibmec.
Para Alexandre Maia, economista-chefe da Gap Asset Management, provavelmente mudanças no regime de metas deverão
ocorrer apenas no próximo ano.
Segundo ele, uma possibilidade é
que o BC flexibilize o período em
que a meta é perseguida -hoje,
de um ano fechado.
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