São Paulo, quarta-feira, 04 de março de 2009

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Bernanke critica o socorro à AIG

Presidente do BC dos EUA diz, a senadores, ter ficado com "muita raiva" da ajuda dada à seguradora

Apesar disso, ele disse que o governo não podia deixar a AIG quebrar, sob risco de comprometer ainda mais o sistema financeiro mundial


FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Em depoimento no Congresso, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, não descartou novos pacotes de socorro para o setor financeiro. Já o presidente do Fed, Ben Bernanke, disse que os bancos nos EUA são viáveis, negou que venham funcionando como "zumbis" e afirmou que, nesta crise, o que o deixou com "mais raiva" foi o socorro dado à seguradora AIG.
Com prejuízo de quase US$ 100 bilhões acumulado em 2008, a AIG foi estatizada em setembro passado e já recebeu US$ 180 bilhões em ajuda federal, dos quais US$ 30 bilhões foram anunciados anteontem.
"Apesar do elevado custo até aqui, talvez nosso esforço para estabilizar o sistema custe ainda mais", disse Geithner no Congresso, onde foi apresentar esclarecimentos sobre o novo Orçamento dos EUA, que prevê gastos de US$ 3,5 trilhões para o próximo ano fiscal, que começa em outubro.
Horas antes, em depoimento a senadores, Bernanke também afirmou que "provavelmente" o sistema financeiro precisará receber novas injeções de dinheiro público, mas descartou que os bancos estejam se tornando inviáveis.
"Não creio que os grandes bancos no país estejam atuando hoje como instituições "zumbis". Todos estão emprestando e todos são viáveis", afirmou Bernanke. Os chamados bancos "zumbis" são uma referência a instituições japonesas na década de 1990, que praticamente ficaram sem operar no mercado de crédito durante a longa estagnação econômica.
Bernanke reconheceu, no entanto, que muitos bancos só estão operando porque foram resgatados com dinheiro do contribuinte norte-americano. "Mas, sem um razoável grau de estabilidade financeira, uma recuperação sustentável não vai ocorrer", disse.
Bernanke foi especialmente enfático em relação ao socorro dado à seguradora AIG. O presidente do Fed disse ter ficado com "muita raiva" do episódio, mas que o governo não podia deixar a empresa quebrar, sob o risco de comprometer ainda mais seriamente todo o sistema financeiro mundial e o mercado de seguros.
Bernanke acusou a AIG de se aproveitar de "falhas regulatórias" para atuar como um "hedge fund", negócio que nada tem a ver com a sua atividade principal. "Eles fizeram muitas apostas irresponsáveis", disse.
"Se existe um único episódio nesses 18 meses que me deixou com mais raiva, não posso pensar em outro que não a AIG. A empresa se aproveitou de grandes falhas no nosso sistema regulatório, sua divisão de produtos financeiro ficou sem nenhuma supervisão e passou a atuar com um "hedge fund" grudado a uma grande e estável empresa de seguros", disse.
Durante o boom do mercado imobiliário nos EUA, a AIG "emprestou", em troca de comissões, sua chancela "triple A" para papéis emitidos por bancos e lastreados em dívidas imobiliárias. Assim, a empresa acabou se tornando responsável direta por grande parte das perdas que vieram depois.
A AIG também atuou no mercado de "credit-default swaps" (CDS), instrumento financeiro que funciona como uma espécie de seguro para perdas de investidores. Como os CDS não eram regulados pelas autoridades, a AIG não fez provisões para eventuais perdas, que foram gigantescas, comprometendo todo o lado saudável de seu negócio.


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