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Bernanke critica o socorro à AIG
Presidente do BC dos EUA diz, a senadores, ter ficado com "muita raiva" da ajuda dada à seguradora
Apesar disso, ele disse que o governo não podia deixar a AIG quebrar, sob risco de comprometer ainda mais o sistema financeiro mundial
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Em depoimento no Congresso, o secretário do Tesouro dos
Estados Unidos, Timothy
Geithner, não descartou novos
pacotes de socorro para o setor
financeiro. Já o presidente do
Fed, Ben Bernanke, disse que
os bancos nos EUA são viáveis,
negou que venham funcionando como "zumbis" e afirmou
que, nesta crise, o que o deixou
com "mais raiva" foi o socorro
dado à seguradora AIG.
Com prejuízo de quase US$
100 bilhões acumulado em
2008, a AIG foi estatizada em
setembro passado e já recebeu
US$ 180 bilhões em ajuda federal, dos quais US$ 30 bilhões foram anunciados anteontem.
"Apesar do elevado custo até
aqui, talvez nosso esforço para
estabilizar o sistema custe ainda mais", disse Geithner no
Congresso, onde foi apresentar
esclarecimentos sobre o novo
Orçamento dos EUA, que prevê
gastos de US$ 3,5 trilhões para
o próximo ano fiscal, que começa em outubro.
Horas antes, em depoimento
a senadores, Bernanke também
afirmou que "provavelmente"
o sistema financeiro precisará
receber novas injeções de dinheiro público, mas descartou
que os bancos estejam se tornando inviáveis.
"Não creio que os grandes
bancos no país estejam atuando hoje como instituições
"zumbis". Todos estão emprestando e todos são viáveis", afirmou Bernanke. Os chamados
bancos "zumbis" são uma referência a instituições japonesas
na década de 1990, que praticamente ficaram sem operar no
mercado de crédito durante a
longa estagnação econômica.
Bernanke reconheceu, no
entanto, que muitos bancos só
estão operando porque foram
resgatados com dinheiro do
contribuinte norte-americano.
"Mas, sem um razoável grau de
estabilidade financeira, uma
recuperação sustentável não
vai ocorrer", disse.
Bernanke foi especialmente
enfático em relação ao socorro
dado à seguradora AIG. O presidente do Fed disse ter ficado
com "muita raiva" do episódio,
mas que o governo não podia
deixar a empresa quebrar, sob o
risco de comprometer ainda
mais seriamente todo o sistema
financeiro mundial e o mercado de seguros.
Bernanke acusou a AIG de se
aproveitar de "falhas regulatórias" para atuar como um "hedge fund", negócio que nada tem
a ver com a sua atividade principal. "Eles fizeram muitas
apostas irresponsáveis", disse.
"Se existe um único episódio
nesses 18 meses que me deixou
com mais raiva, não posso pensar em outro que não a AIG. A
empresa se aproveitou de grandes falhas no nosso sistema regulatório, sua divisão de produtos financeiro ficou sem nenhuma supervisão e passou a
atuar com um "hedge fund" grudado a uma grande e estável
empresa de seguros", disse.
Durante o boom do mercado
imobiliário nos EUA, a AIG
"emprestou", em troca de comissões, sua chancela "triple
A" para papéis emitidos por
bancos e lastreados em dívidas
imobiliárias. Assim, a empresa
acabou se tornando responsável direta por grande parte das
perdas que vieram depois.
A AIG também atuou no
mercado de "credit-default
swaps" (CDS), instrumento financeiro que funciona como
uma espécie de seguro para
perdas de investidores. Como
os CDS não eram regulados pelas autoridades, a AIG não fez
provisões para eventuais perdas, que foram gigantescas,
comprometendo todo o lado
saudável de seu negócio.
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