São Paulo, quarta-feira, 04 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil admite aceitar cotas para exportar à Argentina

Acordo seria saída para o Planalto evitar medidas protecionistas unilaterais do país vizinho

Limite para a compra de produtos brasileiros atingiria eletrodomésticos, têxteis e calçados; barreira à China é a contrapartida


LETÍCIA SANDER
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A escalada protecionista da Argentina, que causou resistência do empresariado brasileiro e certo grau de mal-estar no Itamaraty, pode levar à retomada do uso de cotas de exportação, sistema que já vigorou com força em tempos de crise no comércio bilateral.
Espécie de comércio com limite de vendas de acordo com a demanda local, a implantação das cotas é uma das saídas em estudo para regular o comércio com o Brasil, sobretudo nos setores de linha branca (como geladeiras), têxteis e calçados, todos afetados pela adoção de licenças não-automáticas e outros mecanismos restritivos às importações brasileiras.
"Isso está sendo discutido internamente no governo, e eventualmente pode ser adotado", afirmou o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).
A medida deverá ser discutida com o governo argentino, terceiro maior parceiro comercial do Brasil, em reunião no dia 12 em Buenos Aires.
O sistema de cotas determina o quanto o país poderá exportar para a Argentina, calculado como um percentual do total consumido no mercado local. A Folha apurou que o sistema em estudo desta vez é o que estipula uma "autolimitação": os empresários dos setores são chamados para conversar e decidiriam entre si quais os limites a serem exportados, como um acordo privado. Os governos dos países seriam mediadores.
Se aceitar essa limitação, o Brasil quer a garantia dos argentinos de que o mercado vizinho não será tomado de produtos chineses. O objetivo dessa concessão é estimular uma defesa comercial conjunta.
Mesmo contrário a amarras no comércio bilateral, o governo brasileiro vê nas cotas uma possibilidade de entendimento, que poderia evitar medidas unilaterais do governo argentino (pressionado pelos empresários e com popularidade em queda) e, ao mesmo tempo, contemplar parte das exigências do vizinho sem maiores prejuízos para a indústria local.
O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, ressaltou a importância de um entendimento: "A Argentina é um parceiro fundamental".
A possível adoção de cotas ocorre após a decisão do Planalto de ajudar o governo Kirchner, em crise econômica aguda, com queda nas exportações e nas receitas, conflito com agricultores, falta de acesso ao crédito externo e o fim do canal de financiamento da Venezuela, empobrecida pela queda no preço do petróleo.

Empresários
Para empresários brasileiros, a adoção de cotas de exportação pode ser uma solução temporária uma vez que o pior dos mundos seria sair do mercado argentino. Deixar de exportar, mesmo que por um curto período de tempo, significa perder o cliente e depois gastar recursos em promoção comercial para reconquistá-lo. Hoje, por exemplo, Brasil e Argentina já têm uma espécie de comércio controlado no setor de carros.
Com prejuízos se acumulando, empresários brasileiros que vendem para a Argentina ouvidos pela Folha não demonstraram contrariedade com as cotas, mas ressaltaram que o "drama" atual vai além disso.
Rafael Schefer, diretor do grupo West Coast (calçadista), disse ter 45 mil pares de sapatos prontos e encaixotados na fábrica, à espera da expedição de licença para entrar no mercado argentino. "Prometem entregar licença em 60 dias e ela chega em 150 dias." Ele calcula o prejuízo em U$ 1 milhão.


Texto Anterior: Venda de supermercados cresce 6,5% em janeiro
Próximo Texto: Saiba mais: Retração já assombra o país vizinho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.