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Brasil admite aceitar cotas para exportar à Argentina
Acordo seria saída para o Planalto evitar medidas protecionistas unilaterais do país vizinho
Limite para a compra
de produtos brasileiros atingiria eletrodomésticos, têxteis e calçados; barreira
à China é a contrapartida
LETÍCIA SANDER
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A escalada protecionista da
Argentina, que causou resistência do empresariado brasileiro e certo grau de mal-estar
no Itamaraty, pode levar à retomada do uso de cotas de exportação, sistema que já vigorou
com força em tempos de crise
no comércio bilateral.
Espécie de comércio com limite de vendas de acordo com a
demanda local, a implantação
das cotas é uma das saídas em
estudo para regular o comércio
com o Brasil, sobretudo nos setores de linha branca (como geladeiras), têxteis e calçados, todos afetados pela adoção de licenças não-automáticas e outros mecanismos restritivos às
importações brasileiras.
"Isso está sendo discutido internamente no governo, e
eventualmente pode ser adotado", afirmou o ministro Miguel
Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).
A medida deverá ser discutida com o governo argentino,
terceiro maior parceiro comercial do Brasil, em reunião no dia
12 em Buenos Aires.
O sistema de cotas determina
o quanto o país poderá exportar
para a Argentina, calculado como um percentual do total consumido no mercado local. A
Folha apurou que o sistema em
estudo desta vez é o que estipula uma "autolimitação": os empresários dos setores são chamados para conversar e decidiriam entre si quais os limites a
serem exportados, como um
acordo privado. Os governos
dos países seriam mediadores.
Se aceitar essa limitação, o
Brasil quer a garantia dos argentinos de que o mercado vizinho não será tomado de produtos chineses. O objetivo dessa
concessão é estimular uma defesa comercial conjunta.
Mesmo contrário a amarras
no comércio bilateral, o governo brasileiro vê nas cotas uma
possibilidade de entendimento, que poderia evitar medidas
unilaterais do governo argentino (pressionado pelos empresários e com popularidade em
queda) e, ao mesmo tempo,
contemplar parte das exigências do vizinho sem maiores
prejuízos para a indústria local.
O secretário de Comércio
Exterior, Welber Barral, ressaltou a importância de um entendimento: "A Argentina é um
parceiro fundamental".
A possível adoção de cotas
ocorre após a decisão do Planalto de ajudar o governo
Kirchner, em crise econômica
aguda, com queda nas exportações e nas receitas, conflito
com agricultores, falta de acesso ao crédito externo e o fim do
canal de financiamento da Venezuela, empobrecida pela
queda no preço do petróleo.
Empresários
Para empresários brasileiros,
a adoção de cotas de exportação
pode ser uma solução temporária uma vez que o pior dos mundos seria sair do mercado argentino. Deixar de exportar,
mesmo que por um curto período de tempo, significa perder o cliente e depois gastar recursos em promoção comercial
para reconquistá-lo. Hoje, por
exemplo, Brasil e Argentina já
têm uma espécie de comércio
controlado no setor de carros.
Com prejuízos se acumulando, empresários brasileiros que
vendem para a Argentina ouvidos pela Folha não demonstraram contrariedade com as cotas, mas ressaltaram que o
"drama" atual vai além disso.
Rafael Schefer, diretor do
grupo West Coast (calçadista),
disse ter 45 mil pares de sapatos prontos e encaixotados na
fábrica, à espera da expedição
de licença para entrar no mercado argentino. "Prometem
entregar licença em 60 dias e
ela chega em 150 dias." Ele calcula o prejuízo em U$ 1 milhão.
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