São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2010

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Operários da Odebrecht pressionam Chávez

Trabalhadores se queixam na Venezuela de que atraso no pagamento de obra estatal levou à demissão de 1.400 pessoas

Odebrecht confirma "saldo pendente" de US$ 200 mi em obra de ponte, mas diz que situação é normal; país vive crise após queda do petróleo

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Sindicatos ligados a trabalhadores da construtora Odebrecht estão pressionando o governo venezuelano a pagar uma suposta dívida de US$ 267 milhões com a empresa brasileira. Segundo eles, o atraso provocou a demissão de 1.400 da obra de uma gigantesca ponte sobre o rio Orinoco (leste do país), com 11 km de extensão.
"Se o governo não dá os recursos, a Odebrecht não pode manter a capacidade de trabalho, tem de despedir. Nos últimos dois, três meses, a obra vem sendo feita pelos recursos da própria empresa", disse o sindicalista Gabriel Caña.
Ontem, Caña e outros oito sindicalistas estiveram na Assembleia Nacional em busca de apoio para serem recebidos pelo ministro de Obras Públicas, Diosdado Cabello. Uma deputada se comprometeu a negociar o encontro.
Os sindicalistas afirmam que 1.400 trabalhadores já perderam o emprego desde o segundo semestre do ano passado, devido ao atraso nas obras. Atualmente, a construção da ponte empregaria 1.100 funcionários. Segundo Caña, outros 500 devem ser dispensados.
"Como representantes dos trabalhadores, estamos obrigados a protegê-los e também a colaborar com a empresa para que o Estado repasse os seus recursos", disse Caña à Folha.
O diretor administrativo e financeiro da Odebrecht na Venezuela, Jose Claudio Daltro, confirmou que o governo venezuelano tem um "saldo pendente" de cerca de US$ 200 milhões com a empresa referente à ponte no Orinoco, mas que faz parte do "ciclo normal de recebimento de recursos".
Segundo Daltro, as outras obras da empresa no país, como a ampliação do metrô de Caracas, "mantêm o fluxo normal de recebimento". Ele avalia que a situação financeira do Estado venezuelano é sólida e que o atraso na ponte é um problema de "operacionalidade".
Sobre os funcionários demitidos, o diretor da Odebrecht afirma que foram dispensados cerca de 450, cujos contratos temporários de trabalho não foram renovados porque "os recursos para este ano ainda não foram assegurados".
Afetada pela queda no faturamento no preço de petróleo após a crise financeira de 2008, a Venezuela registrou uma retração de 3,3% do PIB no ano passado. A retomada do crescimento deste ano tem sido prejudicada por uma crise energética, que levou o governo Hugo Chávez a adotar duras medidas de racionamento.
Várias empresas têm reclamado de atrasos nos pagamentos do Estado. Ontem, a Reuters revelou que 76 empresas do setor petroleiro nacionalizadas em maio de 2009 até agora não foram indenizadas.
Aparentemente sem dinheiro para pagar pela nacionalização, a PDVSA está estudando a criação de empresas mistas em lugar de uma nacionalização completa. Desde o primeiro semestre do ano passado, a estatal petroleira acumulou uma dívida de US$ 8,1 bilhões.


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