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Operários da Odebrecht pressionam Chávez
Trabalhadores se queixam na Venezuela de que atraso no pagamento de obra estatal levou à demissão de 1.400 pessoas
Odebrecht confirma "saldo pendente" de US$ 200 mi em obra de ponte, mas diz que situação é normal; país vive crise após queda do petróleo
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Sindicatos ligados a trabalhadores da construtora Odebrecht estão pressionando o
governo venezuelano a pagar
uma suposta dívida de US$ 267
milhões com a empresa brasileira. Segundo eles, o atraso
provocou a demissão de 1.400
da obra de uma gigantesca ponte sobre o rio Orinoco (leste do
país), com 11 km de extensão.
"Se o governo não dá os recursos, a Odebrecht não pode
manter a capacidade de trabalho, tem de despedir. Nos últimos dois, três meses, a obra
vem sendo feita pelos recursos
da própria empresa", disse o
sindicalista Gabriel Caña.
Ontem, Caña e outros oito
sindicalistas estiveram na Assembleia Nacional em busca de
apoio para serem recebidos pelo ministro de Obras Públicas,
Diosdado Cabello. Uma deputada se comprometeu a negociar o encontro.
Os sindicalistas afirmam que
1.400 trabalhadores já perderam o emprego desde o segundo semestre do ano passado,
devido ao atraso nas obras.
Atualmente, a construção da
ponte empregaria 1.100 funcionários. Segundo Caña, outros
500 devem ser dispensados.
"Como representantes dos
trabalhadores, estamos obrigados a protegê-los e também a
colaborar com a empresa para
que o Estado repasse os seus recursos", disse Caña à Folha.
O diretor administrativo e financeiro da Odebrecht na Venezuela, Jose Claudio Daltro,
confirmou que o governo venezuelano tem um "saldo pendente" de cerca de US$ 200 milhões com a empresa referente
à ponte no Orinoco, mas que
faz parte do "ciclo normal de
recebimento de recursos".
Segundo Daltro, as outras
obras da empresa no país, como a ampliação do metrô de
Caracas, "mantêm o fluxo normal de recebimento". Ele avalia que a situação financeira do
Estado venezuelano é sólida e
que o atraso na ponte é um problema de "operacionalidade".
Sobre os funcionários demitidos, o diretor da Odebrecht
afirma que foram dispensados
cerca de 450, cujos contratos
temporários de trabalho não
foram renovados porque "os
recursos para este ano ainda
não foram assegurados".
Afetada pela queda no faturamento no preço de petróleo
após a crise financeira de 2008,
a Venezuela registrou uma retração de 3,3% do PIB no ano
passado. A retomada do crescimento deste ano tem sido prejudicada por uma crise energética, que levou o governo Hugo
Chávez a adotar duras medidas
de racionamento.
Várias empresas têm reclamado de atrasos nos pagamentos do Estado. Ontem, a Reuters revelou que 76 empresas
do setor petroleiro nacionalizadas em maio de 2009 até
agora não foram indenizadas.
Aparentemente sem dinheiro para pagar pela nacionalização, a PDVSA está estudando a
criação de empresas mistas em
lugar de uma nacionalização
completa. Desde o primeiro semestre do ano passado, a estatal petroleira acumulou uma
dívida de US$ 8,1 bilhões.
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