São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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Produtores lamentam e festejam chuva

DO ENVIADO ESPECIAL A SOBRADINHO

Da mesma forma que os demais proprietários de culturas irrigadas da região de Juazeiro e Petrolina, os da fazenda Ouro Verde, no município de Casa Nova (BA) e pertencente à Vinícola Miolo, têm muito a lamentar pelo excesso de chuvas do verão.
Segundo estimativa da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco), as perdas chegaram a 40% das culturas de uva e a 25% das de manga, os dois principais produtos da região, que é a maior exportadora de frutas do país.
Mas, para as propriedades que, como a Ouro Verde, estão às margens do lago de Sobradinho, há uma compensação. A água para irrigação, que estava sendo captada a 4 km de distância, está agora no limite da propriedade. Segundo Ivair Toniolo, 40, gerente administrativo da fazenda, só isso representa redução de 40% no custo de produção das uvas viníferas que a Miolo cultiva no vale.

Lata na cabeça
Ser dono de um sistema de bombeamento de água é um privilégio de poucos entre os que vivem às margens do lago de Sobradinho. Cícera Pedrina, 34, o marido, Valdemir Barbosa, 40, e os quatro filhos usam mesmo é a lata d'água para regar a pequena plantação de frutas e legumes que têm perto do paredão da represa.
Até dezembro do ano passado, com o lago vazio, eles estavam percorrendo 1 km com a lata cheia na cabeça para aguar as plantas. Agora, a água está praticamente dentro da plantação. Barbosa trata de reformar uma velha canoa para defender mais uns trocados na pescaria.
O casal e os quatro filhos vivem no sítio em que Barbosa é caseiro, ganhando R$ 200 por mês. O sítio tem bomba para puxar água. Na rocinha aguada com uma lata eles colhem melão, melancia, caju, pepino e hortaliças. "Era um sacrifício molhar as plantas. Agora ficou uma beleza", disse Pedrina.
Por enquanto, o lago não está para peixe. Francisco Gabriel, 57, pescador profissional, amargava na última terça-feira cinco dias sem fisgar uma curimatá ou um piau. Enquanto faz biscates, ele se mostra esperançoso de que, quando o nível do lago estabilizar, o peixe volte farto. (CS)


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