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REUNIÃO DO BID
Presidente boliviano diz que direito de propriedade será respeitado; os dois países terão reunião em 10 dias
Petrobras não perderá ativos, diz Morales
MARCELO BILLI
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
O governo boliviano não expropriará nem confiscará ativos da
Petrobras nem de nenhuma empresa no país, disse o presidente
Evo Morales em Belo Horizonte,
onde participou da abertura da
reunião do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Antes de discursar na cerimônia
de abertura, Morales e alguns de
seus ministros reuniram-se com o
presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e autoridades brasileiras. Brasileiros e bolivianos
conseguiram acertar uma visita
das autoridades bolivianas ao
Brasil em, no máximo, dez dias.
Em entrevista no final da manhã, Morales disse que o interesse
boliviano é encontrar meios de
"exercer o direito de propriedade
sobre os recursos naturais". Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula e um dos
participantes do encontro, disse
que as negociações estavam "um
pouco paralisadas" e devem deslanchar agora. "Há uma opinião
amplamente compartilhada de
que todas as condições para um
acordo estão colocadas", disse.
"Não vamos expropriar nem
confiscar o direto de propriedade.
Vamos respeitar as empresas e
suas indústrias", disse Morales,
eleito em dezembro com plataforma eleitoral em que prometia nacionalizar as reservas de gás e aumentar o preço de exportação do
produto, duas medidas que, dependendo da forma de implementação, conflitam com os interesses da Petrobras.
A Petrobras já injetou, desde
1996, US$ 1,5 bilhão na Bolívia,
além de US$ 2 bilhões para trazer
o gás ao Brasil. Ela explora os dois
principais campos de gás do país e
tem duas refinarias, entre outros.
É a maior empresa na Bolívia e
responde por 15% do PIB do país.
Apesar das cordialidades mútuas, o primeiro presidente boliviano de origem indígena deixou
claro que não será uma negociação fácil. "Somos um país pequeno, mas com muitos recursos naturais, que jamais foram explorados em benefício de seu povo.
Não é possível que as empresas
sejam saqueadoras de recursos
naturais sem levar em conta os interesses da população."
Morales disse que conta com a
ajuda internacional para fazer o
que ele chama de "revolução cultural, social e econômica" na Bolívia, mas diz que o país precisa de
"sócios, não de patrões". As negociações entre Brasil e Bolívia no
caso do gás, argumenta o presidente, precisam "beneficiar a população dos dois países".
Morales não descartou um encontro com Lula nas próximas semanas. "Oxalá [tenhamos] uma
reunião de presidentes."
Garcia disse que nem o governo
brasileiro nem a Petrobras se
opõem à nacionalização das reservas de gás. "A Petrobras não
tem nenhum problema. Até porque é o mesmo estatuto que o gás
e o petróleo têm aqui no Brasil. Isso, para nós, não consiste em nenhuma dificuldade", disse Garcia.
A lei de nacionalização das reservas do gás foi aprovada no ano
passado, mesmo antes de Morales
ser eleito. Mas, até agora, não está
claro o tipo de contrato que o governo estabelecerá com as empresas que exploram as reservas.
O ministro de Hidrocarbonetos
da Bolívia, Andrés Solíz Rada,
quer elevar para até 70% a tributação sobre o gás natural produzido
em megacampos. A proposta afetaria diretamente a Petrobras e
contraria a nova Lei de Hidrocarbonetos, que já aumentou os tributos de 18% para 50%.
O receio da Petrobras é que a
empresa seja transformada meramente em uma prestadora de serviços e seja remunerada só pelo
serviço de extrair o gás, hipótese
que pareceu ter se tornado mais
provável nas últimas semanas.
Morales, no entanto, não fez comentários sobre isso. Gabrielli insistiu domingo que "a Petrobras
não é uma empresa de serviços".
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