São Paulo, quarta-feira, 04 de abril de 2007

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Slim negocia para controlar Telecom Italia em um ano

Contrato em negociação com Pirelli tem cláusula que garantiria venda do controle

Governo italiano pressiona bancos italianos para que adquiram a operadora; preço das ações continua em alta no mercado


JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O contrato que a Pirelli negocia com a mexicana América Móvil e a americana AT&T para a venda da holding controladora da Telecom Italia, a Olimpia, prevê a venda futura aos novos sócios das ações que permanecerem com os italianos.
Segundo a Folha apurou junto a pessoas próximas à negociação, as conversas incluem uma cláusula específica sobre esse compromisso, chamada "put". A intenção é que seja exercida um ano após a assinatura do negócio.
No último domingo, a América Móvil informou que quer comprar da Pirelli um terço das ações da Olimpia e que outro terço seria adquirido pela AT&T. A América, do empresário Carlos Slim, controla no Brasil a Embratel (longa distância) e a Claro (telefonia móvel). Participa ainda do bloco de controle da Net. A AT&T não atua no Brasil e tem 8,9% da América Móvil.
Já a Telecom Italia, quinta maior operadora da Europa, controla no Brasil a TIM (móvel) e tem parte na Brasil Telecom (fixa).
Se a venda da Olimpia for concretizada, daria a Slim um poder de fogo sem precedentes no Brasil por causa dos ativos que já tem no setor de telecomunicações do país.

Queda-de-braço
A situação da Telecom Italia em Milão é pouco confortável e bastante diferente dos braços nacionais, cujos resultados aferidos têm sido bons.
A matriz deve 39,5 bilhões e é acusada pelo Ministério Público italiano de ter mantido um esquema de espionagem que monitorou mais de 2.000 pessoas, inclusive no Brasil.
A Telecom Italia tem sido bombardeada pela mídia italiana e entrou em embate com o primeiro-ministro Romano Prodi, desafeto do maior acionista da operadora, Marco Tronchetti Provera.
Prodi e sua coalizão de centro-esquerda não querem estrangeiros dominando a maior tele italiana. Ministros, parlamentares e sindicalistas foram mobilizados para minar a entrada de Slim ou de qualquer outro sócio não-italiano na empresa. Mas terão de enfrentar o lobby norte-americano, que atua pela AT&T.
A esperança dos italianos é que um consórcio local, encabeçado pelo banco Intesa San Paolo, compre a Telecom Italia. Até o começo da noite de ontem, na havia definição.
Os bancos italianos só concordam em pagar 2,65 por ação. A Pirelli quer 3. Slim ofereceu 2,82. Nas Bolsas, as ações chegam a 2,37.
Tamanha movimentação levantou a suspeita de que Provera esteja manobrando com Slim para aumentar artificialmente o valor das ações e, dessa feita, arrancar mais dinheiro dos banqueiros italianos.
Em dezembro, Slim fez oferta de US$ 10 bilhões pela TIM Brasil e pela TIM argentina.
Agora, com a AT&T, fez um lance de US$ 7 bilhões por cerca de 12% da Telecom Italia.
Provera é conhecido por sua agressividade nos negócios. Ele tenta capitalizar a Telecom Italia desde o ano passado. Na lista de possíveis investidores, passaram o empresário australiano-americano Rudolph Murdoch, o fundo Blackstone, o grupo indiano Hinduja, o russo Sistema e a espanhola Telefónica. Até agora, nenhum negócio foi fechado.

Brasil
Em meio a essa movimentação, os sócios da Telecom Italia na Brasil Telecom buscam resolver o conflito que envolve a empresa desde 2001.
No último final de semana, em Milão, ocorreram conversas sobre uma possível venda da fatia italiana na Brasil Telecom para os fundos de pensão e o Citigroup.
O governo brasileiro faria gosto no negócio. Interlocutores ouvidos pela Folha acreditam que isso facilitaria a criação de um eixo nacional de telecomunicações, a partir de uma fusão futura entre a Telemar e a Brasil Telecom.
As duas teles brasileiras querem o negócio -afinal, a composição acionária é similar: fundos de pensão e Citigroup juntos têm boa parte das duas empresas.
Os fundos de pensão ofereceram US$ 450 milhões pela fatia da Telecom Italia na Brasil Telecom. Conforme a Folha apurou com europeus ligados à operadora, o valor discutido nos últimos dias está "um pouco abaixo" desse montante.


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