São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997.

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Telecom ainda depende de novas regras

GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas

Os Estados Unidos anunciaram na semana passada uma ofensiva global em defesa da propriedade intelectual. Os primeiros alvos denunciados pela representante norte-americana para questões de comércio, Charlene Barshefsky, foram a Dinamarca, a Suécia, a Irlanda e o Equador. A briga na Organização Mundial do Comércio (OMC) poderá incluir ainda Grécia e Luxemburgo.
Sob a sigla ``Trips'' (``Agreement on Trade Related Intellectual Property Rights'', ou ``Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectual no Comércio'') esconde-se uma área de fronteira na regulamentação da economia global.
Numa época em que o mais comum é falarem em ``desregulamentação'', nos mercados mais dinâmicos do planeta discute-se a ``re-regulamentação'', ou seja, a criação de novas regras.
Em áreas como telecomunicações, as regras do jogo, os jogadores e o objetivo das disputas ainda estão em formação ou reforma.
Um exemplo de injunções políticas no setor de telecomunicações foi a decisão do governo francês de adiar por pelo menos um mês a privatização parcial da France Telecom por causa das eleições.
Os EUA andaram reclamando da lentidão na desregulamentação do setor de telecomunicações da Alemanha. É possível também uma reclamação formal dos EUA contra os alemães na OMC.
Mas nem tudo fica sob as asas da OMC. Um exemplo é o território movediço da Internet. Na última sexta-feira 80 organizações, reunidas sob os auspícios da ``International Telecommunications Union'' (ITU) e da ``World Intellectual Property Organization'' (WIPO), assinaram ou prometeram assinar um memorando sobre como os domínios da Internet são distribuídos e administrados.
Um ``domínio'' é um endereço que permite localizar cada página publicada na rede mundial. Foram aprovados mais sete gTLDs (``generic Top Level Domains''): .firm, .web, .arts, .rec, .nom e .info, além dos atuais .com, .org, e .net.
Mas o acordo anunciado na semana passada prevê pelo menos 28 novas empresas autorizadas a registrar endereços. Detalhe: o acordo foi imediatamente bombardeado pelos EUA e pela União Européia. A regulamentação na Internet está apenas começando.
Maracutaias
Os problemas não ocorrem apenas nessa fronteira ainda charmosa em que se transformou a Internet.
O Departamento de Justiça dos EUA está dirigindo seus canhões contra o sistema de licitação de telefonia celular gerenciado nos últimos anos pela Federal Communications Commission (FCC), o órgão que regulamenta as telecomunicações nos EUA.
Desde 1995 foram arrecadados mais de US$ 20 bilhões com leilões de licenças para ``serviços de comunicação pessoal''. O Departamento de Justiça suspeita de maracutaias.
O mesmo Departamento de Justiça anunciou que não vai colocar obstáculos à fusão entre a Bell Atlantic e a Nynex, um negócio de US$ 22 bilhões que dá origem a um colosso das telecomunicações.
A fusão, ainda sob exame da FCC, foi anunciada há um ano. Em jogo, o lucrativo mercado de Nova York.
Conclusão: o mundo inteiro está sujeito ao que o conselheiro para novas políticas tecnológicas da FCC, Kevin Werbach, chamou de ``tornado digital''.

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