São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SALÁRIO

Aumento maior desequilibraria a Previdência, fala presidente; Genoino diz que faltava "consistência" ao PT no passado

Lula defende alta "responsável" do mínimo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em seu programa quinzenal de rádio, o "Café com Presidente", que seria "irresponsabilidade" dar um aumento para o salário mínimo maior do que os R$ 20,00 concedidos pelo governo. Com o reajuste, o salário foi a R$ 260, desde sábado.
O presidente afirmou que o aumento maior desequilibraria as contas da Previdência. "É por isso que nós não podemos dar o salário mínimo que eu, particularmente, gostaria de dar. E tenho certeza de que os ministros Palocci [Fazenda] e o José Dirceu [Casa Civil] gostariam de dar um aumento que pudesse chegar a R$ 300. Agora, fazer isso sabendo que não tem dinheiro, seria total irresponsabilidade nossa."
Após muitas discussões internas, o governo anunciou o novo valor do mínimo na quinta-feira. Depois disso, Lula discursou em quatro eventos públicos -incluindo a Missa do Trabalhador, sábado, em São Bernardo-, mas não falou sobre o reajuste do salário. Optou por discorrer sobre o tema em uma situação livre de interpelações ou de manifestações.
Lula explicou no rádio o impacto negativo que um aumento maior do mínimo teria nas contas da Previdência. Citou o déficit de R$ 31 bilhões e dívidas a receber de R$ 200 bilhões. "Isso faz com que o caixa da Previdência não tenha o dinheiro que nós gostaríamos que tivesse."
O presidente disse ainda que o governo "teve o cuidado" de dar um aumento um pouco maior do que a inflação -1,2%, o mesmo reajuste real de 2003. Uma das promessas de campanha de Lula é dobrar o poder aquisitivo do mínimo até o fim do seu mandado, no dia 31 de dezembro de 2006.
Alguns assessores do presidente já reconhecem que essa promessa não será cumprida. "Nós tivemos o cuidado de dar o reajuste da inflação e um pouquinho a mais, com a preocupação de que, em algum momento, nós vamos criar as condições para recuperar definitivamente o poder aquisitivo do salário mínimo", disse Lula.
O presidente voltou a citar as dívidas herdadas do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). "É importante lembrar que neste ano nós herdamos um esqueleto do governo passado de R$ 12,4 bilhões que não estavam no Orçamento e que nós vamos ter que pagar, porque a Justiça determinou".
O presidente disse ainda que, se o aumento do mínimo valesse apenas para o setor privado, não seria um problema para o governo. "Para os trabalhadores da iniciativa privada, você poderia decretar o mínimo de R$ 400, R$ 450, porque muitas empresas já pagam isso, ou mais do que isso."

Sem consistência
O presidente nacional do PT, José Genoino, afirmou que faltou consistência ao discurso que o partido fazia antes de assumir a Presidência da República, em 2003. "Possivelmente faltou consistência ao que o PT defendia na oposição. No governo, temos que dar mais consistência ao debate. Argumentos que falamos na oposição precisam ser rediscutidos."
Para ele, o partido defendia aumentos maiores dos que os concedidos principalmente por Fernando Henrique Cardoso -que deu reajustes reais médios de 4,7% ao ano- porque não tinha "a responsabilidade de governar".
"Não possuíamos nem dados nem informações suficientes para isso [debate mais consistente]", justificou. Segundo Genoino, o reajuste real de 1,2% neste ano está dentro do limite das possibilidades financeiras do país.
(GABRIELA ATHIAS E RANIER BRAGON)


Texto Anterior: Mudança: Captação dos planos de previdência sobe 47%
Próximo Texto: Ontem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.