São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Bananas e "investment grade'


México tem "investment grade", economia mais aberta, livre comércio com os EUA, juro menor etc. Mas não cresce

AINDA NÃO passou a onda constrangedora de bajulação colonizada e provinciana, de submissão intelectual à propaganda de um grupo de interesse (mercados financeiros) e outras vergonheiras que se seguiram à melhoria da nota de crédito do país. O que merecia rápido e pragmático "salut" tornou-se festa na taba, embora os silvícolas pareçam não entender direito o espelhinho e o facão que ganharam. Isto posto, é bom insistir numa historinha sobre "investment grade" e os "tres hermanos" da América Latina (historinha, pois estamos no reino das metáforas do servilismo infantilizado, tais como "o Brasil tem de fazer a lição de casa", né?).
Desde 1994, o crescimento acumulado do PIB de Argentina, Brasil e México é quase o mesmo (vide gráfico). Por que 1994? É algo arbitrário, mas em 1994 o Brasil adotou o real e o México entrou no Nafta. A Argentina era a queridinha do mercado mundial e de seus agentes, por ter dolarizado a economia. Entre 1999 e 2002, viveria uma depressão, queda de mais de 20% do PIB.
Em 2000, o México seria grau de investimento. Depois de 2000, cresceu menos que Brasil e Argentina. Agora, em 2008, a taxa básica de juros mexicana é metade da brasileira (em 2000, era indecência parecida com a nossa). A economia do México é mais aberta: menor que a brasileira, exporta o dobro. Tem livre comércio com os Estados Unidos. Mas as fábricas americanas vão para a China.
O Brasil, ainda que com sua lentidão paquidérmica e jeitinhos, colocou relativa ordem nas contas públicas e externas, derrubou a inflação e teve a sorte de ver o mundo crescer. Mas o que de resto existia de bom na economia brasileira era coisa que havia se montado até os anos 1980.
Enfim, nem Argentina, nem Brasil, nem México criaram um padrão de desenvolvimento próprio; não criaram um motor autônomo de dinamismo econômico, como China e Coréia. Continuam a serem levados ou afogados pelas marés da economia e das idéias dominantes mundiais.
Resumo da opereta: 1) Grau de investimento não tem implicações necessariamente positivas, é até ridículo ter de dizê-lo; 2) "Reformas" nem sempre (e nem todas) redundam em melhorias econômicas; 3) Juros menores não levam necessariamente a mais crescimento; 4) Países não atraem investimentos porque são "investment grade". Será interessante investir no Brasil se o país crescer, se tiver infra-estrutura, ciência e tecnologia e se o dinheiro do investidor não for levado por inflação, impostos e leis malucas; 5) Governos que gastam demais e inflação não fazem bem a economia alguma, como se sabe desde o Império Romano, pelo menos. Mas não há muitas "receitas" além disso. China e Coréia do Sul deram bananas para quem lhes mandava fazer a "lição de casa". E deram no que deram.

vinit@uol.com.br


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