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Emprego industrial cede espaço aos serviços
Ocupação no setor fabril cresceu apenas 10,5% no intervalo de 7 anos; em serviços prestados às empresas, alta foi de 40%, diz IBGE
Para especialista, avanço do
emprego na prestação de
atividades às empresas deu
impulso à formalização do
mercado de trabalho no país
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Em plena expansão do mercado de trabalho no governo
Lula, o emprego no setor industrial cresceu abaixo da média,
cedendo espaço ao ramo de serviços prestados a empresas.
Na transformação em curso,
o setor em alta agrega firmas típicas do movimento de terceirização (como limpeza, assistência técnica, alocação de mão
de obra e informática).
É o que revela levantamento
feito pela Folha a partir de dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Entre os três primeiros
meses de 2003 e o mesmo período de 2010, o emprego cresceu 18,4% -uma expansão de
3,4 milhões de pessoas.
Na indústria, porém, o avanço foi de apenas 10,5%, ante alta de 39,9% do setores de serviços prestados a empresas.
Enquanto o ramo de serviços
voltados às empresas gerou
960 mil postos de trabalho, a
indústria criou pouco mais de
um terço desse total: 337 mil
vagas em oito anos.
Para Cimar Azeredo Pereira,
gerente da Pesquisa Mensal de
Emprego do IBGE, a terceirização cresceu principalmente em
companhias de serviços prestados às empresas, especializadas em atividades "meio", que
não estão ligadas diretamente à
especialização da empresa que
as contrata. São exemplos as
firmas de assistência técnica e
manutenção.
A indústria, diz, foi e é o setor
da economia que mais demanda esses tipos de serviço e
transfere, assim, postos de trabalho para o ramo de serviços
prestados às empresas.
Fábio Romão, economista da
LCA, concorda que a expansão
das atividades terceirizadas de
limpeza, segurança e outras
que não são o foco principal das
companhias afetou mais a indústria. "Sem dúvida, os serviços absorveram o maior contingente de pessoas que perderam seus empregos na indústria", diz Romão.
É o caso de Gilmar Conceição, 39. Até o ano passado, ele
trabalhava na linha de produção de pneus da Michelin em
Campo Grande, zona oeste do
Rio. Perdeu o emprego com o
fim do contrato temporário,
mas agora é auxiliar de limpeza
num escritório.
"Até que não foi ruim. O salário é quase o mesmo e eu trabalho mais perto", diz.
Emprego e qualificação
Para Pereira, do IBGE, a alta
do emprego no setor de serviços prestados às empresas permitiu a expansão de várias categorias profissionais e impulsionou a formalização do mercado
de trabalho metropolitano nos
últimos anos.
Nas seis regiões pesquisadas
pelo IBGE, o emprego com carteira passou de 41% no primeiro trimestre de 2003 para 46%
em igual período de 2010.
Segundo Romão, da LCA, o
crescimento do emprego nos
serviços, principalmente nas
metrópoles, guarda também
uma "forte correlação" com o
aumento do número de pessoas
com ensino superior e com
maior qualificação.
É que tal realidade leva ao
consequente crescimento do
número de profissionais liberais, que "vendem" seus serviços às empresas de todas as naturezas, especialmente a industrial. Nessa categoria estão as
pessoas que prestam consultoria em várias áreas -da de comunicação à jurídica.
Recentemente, muitas empresas -e indústrias- passaram a terceirizar alguns serviços administrativos, incluindo
contínuos e secretárias.
Tudo isso colaborou para essa transformação do mercado
de trabalho e a perda de peso da
indústria no emprego metropolitano, que caiu 18% nos três
meses iniciais de 2003 para
16% no mesmo período de
2010. Por outro lado, a ocupação em serviços destinados às
empresas subiu de 13% para
16% no bolo total de empregados no mesmo intervalo de
tempo.
Para Lauro Ramos, especialista em mercado de trabalho
do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), a migração da indústria para o setor de
serviços ainda acontece, mas é
"mais branda" do que nos anos
90. A nova pesquisa de emprego do IBGE, porém, só tem dados para um ano completo a
partir de 2003.
Ele diz, porém, que inicialmente os terceirizados ganhavam menos do que em seus empregos originais, mas cresceu
"o poder de barganha dos trabalhadores com o maior aquecimento do mercado de trabalho" nos últimos anos, o que
atenuou esse problema.
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