São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2010

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Emprego industrial cede espaço aos serviços

Ocupação no setor fabril cresceu apenas 10,5% no intervalo de 7 anos; em serviços prestados às empresas, alta foi de 40%, diz IBGE

Para especialista, avanço do emprego na prestação de atividades às empresas deu impulso à formalização do mercado de trabalho no país

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Em plena expansão do mercado de trabalho no governo Lula, o emprego no setor industrial cresceu abaixo da média, cedendo espaço ao ramo de serviços prestados a empresas.
Na transformação em curso, o setor em alta agrega firmas típicas do movimento de terceirização (como limpeza, assistência técnica, alocação de mão de obra e informática).
É o que revela levantamento feito pela Folha a partir de dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Entre os três primeiros meses de 2003 e o mesmo período de 2010, o emprego cresceu 18,4% -uma expansão de 3,4 milhões de pessoas.
Na indústria, porém, o avanço foi de apenas 10,5%, ante alta de 39,9% do setores de serviços prestados a empresas.
Enquanto o ramo de serviços voltados às empresas gerou 960 mil postos de trabalho, a indústria criou pouco mais de um terço desse total: 337 mil vagas em oito anos.
Para Cimar Azeredo Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, a terceirização cresceu principalmente em companhias de serviços prestados às empresas, especializadas em atividades "meio", que não estão ligadas diretamente à especialização da empresa que as contrata. São exemplos as firmas de assistência técnica e manutenção.
A indústria, diz, foi e é o setor da economia que mais demanda esses tipos de serviço e transfere, assim, postos de trabalho para o ramo de serviços prestados às empresas.
Fábio Romão, economista da LCA, concorda que a expansão das atividades terceirizadas de limpeza, segurança e outras que não são o foco principal das companhias afetou mais a indústria. "Sem dúvida, os serviços absorveram o maior contingente de pessoas que perderam seus empregos na indústria", diz Romão.
É o caso de Gilmar Conceição, 39. Até o ano passado, ele trabalhava na linha de produção de pneus da Michelin em Campo Grande, zona oeste do Rio. Perdeu o emprego com o fim do contrato temporário, mas agora é auxiliar de limpeza num escritório.
"Até que não foi ruim. O salário é quase o mesmo e eu trabalho mais perto", diz.

Emprego e qualificação
Para Pereira, do IBGE, a alta do emprego no setor de serviços prestados às empresas permitiu a expansão de várias categorias profissionais e impulsionou a formalização do mercado de trabalho metropolitano nos últimos anos.
Nas seis regiões pesquisadas pelo IBGE, o emprego com carteira passou de 41% no primeiro trimestre de 2003 para 46% em igual período de 2010.
Segundo Romão, da LCA, o crescimento do emprego nos serviços, principalmente nas metrópoles, guarda também uma "forte correlação" com o aumento do número de pessoas com ensino superior e com maior qualificação.
É que tal realidade leva ao consequente crescimento do número de profissionais liberais, que "vendem" seus serviços às empresas de todas as naturezas, especialmente a industrial. Nessa categoria estão as pessoas que prestam consultoria em várias áreas -da de comunicação à jurídica.
Recentemente, muitas empresas -e indústrias- passaram a terceirizar alguns serviços administrativos, incluindo contínuos e secretárias.
Tudo isso colaborou para essa transformação do mercado de trabalho e a perda de peso da indústria no emprego metropolitano, que caiu 18% nos três meses iniciais de 2003 para 16% no mesmo período de 2010. Por outro lado, a ocupação em serviços destinados às empresas subiu de 13% para 16% no bolo total de empregados no mesmo intervalo de tempo.
Para Lauro Ramos, especialista em mercado de trabalho do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a migração da indústria para o setor de serviços ainda acontece, mas é "mais branda" do que nos anos 90. A nova pesquisa de emprego do IBGE, porém, só tem dados para um ano completo a partir de 2003.
Ele diz, porém, que inicialmente os terceirizados ganhavam menos do que em seus empregos originais, mas cresceu "o poder de barganha dos trabalhadores com o maior aquecimento do mercado de trabalho" nos últimos anos, o que atenuou esse problema.


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