São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2010

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ANÁLISE

Crescimento de serviços não é pontual

RAFAEL BACCIOTTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em março, o avanço da ocupação ocorreu em um ritmo mais brando (0,2% em março ante 0,9% em fevereiro, com ajuste sazonal). Entre os principais setores de atividade, que são aqueles que concentram a maior parcela de trabalhadores em relação ao total de pessoas ocupadas, observou-se, de fato, algum arrefecimento.
A ocupação na indústria de transformação, por exemplo, que detém 16,3% do total, permaneceu estável, após registrar crescimento de 1,4% em fevereiro, em termos dessazonalizados. No comércio, que detém a maior parcela de ocupados em relação ao total (18,7%), a queda em março foi de 0,8%, ante alta de mesma magnitude em fevereiro.
O setor de "serviços prestados às empresas, aluguéis, atividades imobiliárias e intermediação financeira" (15,8% do total), por outro lado, correspondeu com uma alta de 2,8% na mesma comparação.
O comportamento verificado na última divulgação não é pontual. Há uma tendência evidente de que a indústria de transformação concentre cada vez menos em relação ao total de ocupados, ao passo que a importância do setor de serviços ganha cada vez mais força.
A importância dos serviços no dinamismo da economia brasileira ficou claro ao longo da última crise. O desempenho do PIB brasileiro em 2009, apesar da ligeira retração, foi em certa medida positivo relativamente às demais economias.
Na abertura pelo lado da oferta, a indústria mostrou queda de 5,5%, ao passo que o PIB de serviços avançou 2,6% e impediu um recuo ainda mais expressivo do PIB no ano. A demanda doméstica serviu de blindagem à economia nacional, sobretudo com a sustentação do nível de renda.
Por se tratar de setor que não é comercializado com o setor externo, a dinâmica dos serviços é menos volátil do que aquela apresentada pelo setor industrial, que sofreu grande impacto nos períodos de crise, tanto em 2002 como em 2009.
Olhando os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho), a participação dos serviços na criação de vagas formais na economia é muito mais constante.
Vale destacar que o processo de recontratação na indústria é lento. A recuperação do emprego ocorre de forma defasada em relação ao incremento da produção. Além disso, a recuperação da produção pode acontecer via alta de produtividade e, dessa forma, parte da perda dos empregos industriais pode não se recuperar totalmente.


RAFAEL BACCIOTTI é analista da Tendências Consultoria.


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