São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2010

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Investidor mantém ceticismo sobre Grécia

Apesar de pacote de 110 bilhões, permanecem dúvidas sobre capacidade de Atenas promover cortes no Orçamento

Títulos da Grécia têm recuperação apenas modesta, e euro recua; França e Alemanha pressionam Parlamentos a aprovar pacote

Louisa Gouliamaki - 28.abr.10/France Presse
Funcionário da Bolsa de Atenas; apesar de pacote recorde de ajuda da UE e do FMI, mercado ainda vê incerteza sobre crise grega

DA REDAÇÃO

Enquanto a chanceler alemã, Angela Merkel, fazia uma "blitz midiática" para tentar convencer os alemães de que a ajuda à Grécia era "a única forma de garantir a estabilidade do euro", investidores seguiram céticos em relação à eficácia do pacote de 110 bilhões.
A ajuda foi anunciada anteontem por FMI e União Europeia para salvar a economia grega de um colapso.
Há dúvidas também sobre a capacidade de Atenas de realizar os prometidos cortes no Orçamento, parte do acordo para receber o dinheiro. O plano de arrocho -que prevê reduções salariais e aumento de impostos- foi o estopim para manifestações e greves nos últimos dias, que devem continuar hoje (atingindo o setor aéreo e os hospitais públicos).
Para mostrar que o resgate recebe a celeridade devida, o gabinete de governo da Alemanha aprovou ontem a contribuição do país: 22,4 bilhões (R$ 51 bilhões) durante os próximos três anos.
A medida ainda precisa da aprovação do Parlamento. "A razão para essa lei é um último recurso, uma situação de emergência, na qual a Grécia não tem mais acesso aos mercados financeiros, e há um impacto na estabilidade do euro", afirmou Merkel.
A França planeja emprestar até 16,8 bilhões aos gregos ao longo dos próximos três anos. Em sessão para alterar o Orçamento francês -e permitir a liberação do aporte-, a ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, afirmou que a Europa "não tem outra escolha". Dos 110 bilhões, 80 bilhões virão da UE; o resto, do FMI.
O diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, informou ontem que a instituição deve aprovar sua parcela até o fim de semana.
Em contraste com a euforia na recepção a pacotes anteriores do FMI, o rendimento dos títulos da Grécia caiu apenas ligeiramente com relação aos títulos alemães considerados como referência do mercado.
Eles recuaram aos níveis registrados dez dias atrás, antes do pânico quanto à possibilidade de calote grego (o que ampliaria o rombo nas contas dos bancos europeus e poderia infectar outros endividados, como Portugal e Espanha).
"Há pouca convicção de que essa seja uma solução rápida. A sustentabilidade de longo prazo desse nível de austeridade deve ser aberta a questionamento", disse Tony Morriss, estrategista sênior de câmbio do ANZ Bank em Sydney.

Convencimento
"Não parece que o mercado está convencido ainda. É isso o que o euro diz. O acordo ainda tem que passar pelos parlamentares e isso vai ser difícil", afirmou um operador europeu de câmbio. O euro caiu ontem a US$ 1,319 e acumula desvalorização de 12% desde dezembro.
Ontem, a Grécia também recebeu um empurrão do BCE (Banco Central Europeu), que comunicou que vai suspender o requisito de uma classificação mínima de qualidade de crédito para os ativos do governo grego usados em suas operações de sustentação de liquidez.
O apoio tem o objetivo de garantir que os esforços internacionais não sejam solapados por uma crise bancária ou novos rebaixamentos de classificação de crédito.


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