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LUÍS NASSIF
Uma política ruinosa
O avanço institucional e econômico do país exige honestidade dos críticos, na
avaliação dos avanços obtidos nos últimos anos, mas visão crítica de todos, sobre os equívocos cometidos pelo governo FHC, para não ficar escravo dos próprios erros.
No segundo semestre de 1994, a então equipe econômica transformou a política cambial em bandeira para se manter no poder. Na tentativa de torpedear a indicação de José Serra, a então equipe econômica espalhava aos quatro ventos que a mudança da política cambial explodiria o país.
Os argumentos ganharam vida própria, apesar de o próprio
"pai" do Real, Pérsio Arida, estar trabalhando na revisão da
política cambial até a sua queda, em abril de 1995. O não-reconhecimento do erro cometido
deu sobrevida ao erro.
Está se repetindo o mesmo erro com a questão fiscal do governo FHC. O primeiro passo para
uma avaliação isenta é considerar o que deveria ser o objetivo
de uma política fiscal: a melhoria das condições econômicas e
sociais do país, e não o mero
equilíbrio das contas públicas,
que é meio, não fim. E esses objetivos não foram alcançados,
muito pelo contrário.
A primeira falácia é considerar que a dívida pública cresceu
em razão do reconhecimento de
esqueletos fiscais de outras instâncias administrativas, e não
por conta da combinação juros-câmbio do período.
As taxas de juros praticadas
não afetaram apenas os títulos
federais novos, mas todo o estoque de passivos da economia
-públicos (em todas as esferas)
e privados. É só avaliar o que
era a dívida de São Paulo no
início do governo Mário Covas e
quando ocorreu a incorporação
dos esqueletos, um aumento extraordinário, mesmo com a obtenção dos superávits primários
pelo governo paulista. É só avaliar o que ocorreu com o FCVS.
Em um exemplo hipotético, a
dívida pula de 10 para 50 por
conta dos juros. Aí o governo federal assume os 50 e joga todo
esse montante na conta dos esqueletos fiscais incorporados à
divida da União. Ora, desse total, há 40 que foram resultado
direto da política monetária em
vigor e não são considerados como tal.
Mais que isso. Políticas monetária e cambial têm efeito direto
sobre a economia e um efeito
não menos relevante sobre as
expectativas dos agentes públicos e privados. A falsa euforia
criada pela apreciação do câmbio induziu a maioria dos agentes econômicos a apostar na
manutenção das taxas de crescimento do primeiro ano do Real.
As grandes empresas fizeram
superinvestimentos (vide setor
automobilístico), as pequenas se
endividaram e o setor público
aumentou as despesas, confiando no aumento auto-sustentado
da atividade econômica.
Todos dançaram. O setor público se inviabilizou com os níveis de arrecadação então existentes, devido às dificuldades legais para comprimir despesas.
Em vão o então ministro do
Planejamento, José Serra, tentou convencer FHC e a equipe
econômica a modificar os indexadores de passivos públicos,
desatrelando-os das taxas de
mercado.
A segunda falácia é a de que, a
partir de 1999, a administração
pública passou a praticar políticas fiscais saudáveis. A Lei de
Responsabilidade Fiscal é avanço relevante, obrigando os governantes a se ater ao que arrecadam. Só que o equilíbrio fiscal
foi feito em cima de uma derrama fiscal sem precedentes, afetando insumos básicos da economia, como telecomunicações
e energia elétrica. O "milagre
fiscal" brasileiro, no âmbito dos
Estados, deu-se em cima do aumento do ICMS sobre energia e
eletricidade, insumos básicos da
economia. No âmbito da União,
em cima de novas fontes de arrecadação.
O Estado se fortaleceu neste
período, mas a nação murchou.
Quebradeira, inadimplência,
aumento do desemprego, queda
de renda, incapacidade de retomar o crescimento -essas são
as consequências dessa política
desastrosa.
A bandeira relevante não é mais a do equilíbrio fiscal, e sim do equilíbrio fiscal com controle de despesas e limites para aumento de tributos, além da criação de indicadores que monitorem a aplicação dos recursos.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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