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PREVIDÊNCIA
Ministro da Previdência nomeia interventor; Previ teria descumprido lei sobre número de diretores; diretor vai à Justiça
Governo intervém no fundo de pensão do BB
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Previdência Social decretou ontem intervenção
no maior fundo de pensão da América Latina: a Previ, entidade
dos funcionários do Banco do Brasil. Todos os diretores e os integrantes dos conselhos deliberativo e fiscal foram afastados, e o
fundo passou a ser administrado
pelo ex-secretário-adjunto de
Previdência Complementar Carlos Eduardo Esteves Lima.
Em nota, o ministério afirmou
que a Previ descumpriu a lei 108,
que trata das relações entre fundos de pensão e empresas estatais.
A medida foi considerada um ato
político por representantes dos
participantes. O ministro da Previdência, José Cechin, se recusou
a comentar a intervenção.
Ainda ontem, o ex-diretor eleito
da Previ Henrique Pizzolato entrou com mandado de segurança
no Superior Tribunal de Justiça
para suspender a intervenção. O
pedido está sendo examinado pela ministra Eliana Calmon, que
prometeu decisão para hoje.
A disputa pelo controle da Previ, que era administrada de maneira compartilhada por diretores
indicados pelo banco e eleitos pelos seus participantes, opõe o
PSDB e o PT, partido ao qual são
ligados os diretores eleitos.
Pela lei 108, desde o último dia
30 os fundos de pensão patrocinados por estatais deveriam adaptar
seus estatutos. Os principais pontos a serem adequados eram a
composição paritária dos conselhos deliberativo e fiscal e a criação do voto de minerva. Os dois
itens não foram respeitados pela
Previ - único dos 93 fundos ligados a estatais que não enviou à Secretaria de Previdência Complementar proposta de adequação
do estatuto.
Para se enquadrar à lei, a Previ
deveria reduzir a seis os integrantes do conselho deliberativo
(atualmente são sete). Três deles
representariam os participantes e
três, o Banco do Brasil. No caso de
impasse, o voto de minerva seria
da patrocinadora. Na prática, isso
daria ao banco controle sobre as
decisões tomadas na entidade.
No conselho fiscal, a nova composição contaria com dois representantes da patrocinadora e dois
eleitos pelos participantes (hoje
os eleitos são três). O voto de qualidade seria dos participantes.
Intervenção anunciada
A possibilidade de intervenção
na Previ vem sendo anunciada
pelo ministro Cechin desde o início de abril. Na época, disputas internas na entidade já indicavam
que o processo de adequação do
estatuto seria tumultuado.
Os diretores eleitos pelos participantes da entidade são contra o
voto de minerva no conselho deliberativo. Argumentam que isso
seria um retrocesso no modelo de
gestão da entidade.
Desde 97, a Previ é administrada de forma compartilhada entre
participantes e patrocinadora. O
mecanismo foi acordado entre o
banco e os representantes dos
participantes, numa tentativa de
evitar o uso político da Previ.
Com a instituição do voto de
minerva, o temor dos diretores
eleitos é a volta de critérios políticos na tomada de decisões. Sem
consenso interno, a diretoria da
Previ não alterou o estatuto conforme o estabelecido pela lei.
O impasse também impediu a
realização de eleições para parte
dos integrantes do conselho deliberativo, cujos mandatos terminaram no último dia 31.
A nota técnica assinada pelo secretário de Previdência Complementar, José Roberto Savóia, e
que levou à intervenção na entidade relata que "foram realizadas
várias correspondências da Secretaria de Previdência Complementar à Previ e ao Banco do Brasil,
com o intuito de orientar e fazer
cumprir a legislação em vigor".
Escolha
Inicialmente, a intervenção vai
durar 60 dias, mas poderá ser
prorrogada. O interventor terá a
tarefa de adequar o estatuto, convocar eleições para o conselho e
empossar os eleitos.
O ministério informou que a escolha de Esteves Lima foi técnica.
Ele foi secretário-adjunto de Previdência Complementar entre julho de 98 e novembro de 2000 -
gestão do ex-ministro e senador
Waldeck Ornélas na Previdência.
Nesse período, participou da elaboração dos projetos de lei complementar que hoje regulamentam o setor.
Até a semana passada ocupava a
mesma função no DNER (Departamento Nacional de Estradas de
Rodagem).
Com a intervenção, os bens dos diretores e integrantes dos conselhos se tornam indisponíveis.
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