São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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Intervenção reproduz confronto PSDB versus PT

WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A intervenção do governo na Previ reproduziu, no comando do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a disputa que o PSDB e o PT vêm travando nas eleições presidenciais deste ano.
O PSDB controla o Ministério da Previdência Social (responsável pelo setor de complementações de aposentadorias) e o Banco do Brasil (patrocinador da Previ). Mas manda apenas pela metade no fundo de pensão. Os tucanos dividem, meio a meio, a diretoria da Previ com três representantes ligados ao PT e eleitos pelos funcionários: Sérgio Rosa, Erik Persson e Henrique Pizzolato.
Com a intervenção, o governo pretende obrigar a Previ a cumprir a legislação que dará novamente ao banco -portanto ao PSDB- o controle sobre as decisões do fundo de pensão.
Decisões sobre um patrimônio de R$ 38 bilhões, investido em setores como construção civil, siderurgia, aviação e telefonia. A contabilidade da Previ também inclui 310 assentos em conselhos de 94 empresas, que pagam cerca de R$ 10 mil por reunião.
"Em ano eleitoral, o governo não deixaria de usar mais esse dinheiro [os R$ 38 bilhões" em favor dos amigos dele. Isso foi um golpe sujo", disse João Vaccari Neto, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, ligado ao PT.
Segundo ele, a intervenção decretou a quebra de um acordo firmado em 1997, pelo qual a Previ parcelaria até 2026 uma dívida de R$ 5,5 bilhões do Banco do Brasil em troca de maior participação dos funcionários na gestão do fundo.
"É uma leviandade afirmar uma coisa dessas. Não passou pela nossa cabeça nenhum tipo de pensamento eleitoreiro. Quem pensa nisso é o PT, que elege diretores engajados. Há uma lei geral que não está sendo cumprida pela Previ. E só", reagiu o deputado federal Márcio Fortes (PSDB-RJ), secretário-geral do partido.

Escândalos
Entre partidos e facções, o fundo de pensão -criado em 1904 para garantir a aposentadoria dos funcionários do Banco do Brasil- teve seu nome envolvido com vários escândalos nos últimos anos.
Em 1992, a Previ pertencia à área de influência do famoso "esquema PP", investigado pela CPI que levou ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Liderado pelo então secretário de Assuntos Estratégicos, Pedro Paulo Leoni Ramos (o PP), um grupo de executivos teria obtido vantagens em negociações financeiras de fundos de pensão.
Depois, já no governo Fernando Henrique Cardoso, vieram as suspeitas de tráfico de influência que teriam levado a Previ a se aliar aos empresários Carlos Jereissati (La Fonte) e Atilano de Oms Sobrinho (Inepar) e à empreiteira Andrade Gutierrez no consórcio que levaria a Telemar, durante a privatização do Sistema Telebrás, em 1998.
Foram essas negociações, algumas delas gravadas por um grampo telefônico, que revelaram a atuação "no limite da irresponsabilidade" do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa de campanha do presidenciável tucano José Serra. Foi o ex-diretor que orientou os investimentos da Previ no leilão da Telebrás.


Colaborou Leonardo Souza, da Sucursal de Brasília


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