São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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INCIDENTE INTERNACIONAL

Batlle culpa imobilismo e corrupção do governo argentino pelo prolongamento da crise no país

Uruguaio vê bando de ladrões na Argentina

France Presse - 29.jan.02
Os presidentes da Argentina, Eduardo Duhalde, e do Uruguai, Jorge Batlle, em Buenos Aires


JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O presidente do Uruguai, Jorge Batlle, desencadeou um incidente internacional ontem ao afirmar que as autoridades argentinas são "um bando de ladrões". Ele culpou a corrupção e o imobilismo do governo pelo prolongamento da crise argentina e disse que se os políticos "deixassem de roubar por dois anos, as coisas melhorariam".
Em entrevista ao canal de TV Bloomberg, Batlle mostrou-se visivelmente irritado e gritou e insultou várias vezes os repórteres enquanto golpeava com socos a mesa de seu escritório.
A irritação do presidente veio à tona quando perguntado sobre as semelhanças entre a crise argentina e a uruguaia. Aos gritos, o presidente disparou: "Não compare o Uruguai com a Argentina. Ou você é um completo ignorante da realidade dos dois países? Compare o Uruguai com o Chile e com o Brasil, mas não com a Argentina."
Segundo ele, a diferença de tratamento dispensada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) aos dois países pode exemplificar suas diferenças. Enquanto o Uruguai conseguiu rapidamente um empréstimo de US$ 1,5 bilhão no mês passado, os argentinos negociam a liberação de uma ajuda financeira do Fundo há cinco meses sem resultados.

Contágio
Para Batlle, o país sofreu o contágio da crise argentina, que derrubou as exportações uruguaias ao país vizinho em 70%. Ele responsabilizou a crise argentina e a desvalorização cambial brasileira pelos quatro anos de recessão da economia uruguaia, a fuga dos depósitos bancários enfrentada nos últimos meses, a queda das reservas internacionais do Banco Central pela metade e a redução da nota uruguaia pelas agências de classificação de risco. Por esses motivos, o país teria sido obrigado a pedir ajuda ao FMI.
Depois das justificativas, Batlle voltou a ser incisivo nos ataques à Argentina. "Quem conhece a administração do país, sabe a classe, o volume e a magnitude de corrupção que há na Argentina." Além disso, disparou contra a imobilidade do governo. "Em vez de mirar as coisas do país a sério, olham para os lados, ficam procurando quem é culpado por não ajudá-los. E não se dão conta que devem ajudar a si mesmos e que o idioma que falam não existe mais no mundo."
Depois, perguntado se não deveria expor suas divergências diretamente às lideranças argentinas, Batlle disse que não há como exigir nada do presidente Eduardo Duhalde, "que não tem força política, não tem respaldo, não sabe aonde vai".
No final da tarde, mais calmo, Batlle convocou a imprensa para se retratar, disse que estava nervoso pela "agressividade dos jornalistas" e que "a Argentina é uma grande Nação".
Mesmo assim, as críticas de Battle não foram bem-recebidas na Argentina. No entanto, o governo não havia tomado uma decisão sobre a resposta que seria dada ao presidente uruguaio até o fechamento dessa edição.



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