São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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VENDAS EXTERNAS

Exportação do produto depende de importação de grãos melhores e investimento de empresas comerciais

Café mais elaborado é meta de exportação do Brasil

THIERRY OGIER
DO "FINANCIAL TIMES"

Nas áreas montanhosas de Minas Gerais, os grãos de café amadurecem lentamente cerca de mil metros acima do nível do mar. A colheita ali acontece mais tarde do que em outras regiões, porque o sol não é tão forte. Em compensação, o café suave cultivado ali é muitas vezes de altíssima qualidade e os produtores em geral conseguem melhor preço por ele.
Ainda assim, com os cafeicultores brasileiros colhendo uma safra gigante de 40 milhões de sacas neste ano, o setor se volta cada vez mais para atividades que vão além da venda de grãos verdes, cujos preços continuam deprimidos.
O projeto mestre de exportação de café torrado de alta qualidade está sendo levado com novo vigor. Mas isso significa mudar a atitude em um país que vem exportando grãos de café como commodity há mais de 200 anos.
"Não faz sentido que o maior produtor de café e exportador de grãos do mundo venda no exterior o equivalente a apenas 40 mil sacas de café torrado", diz Luiz Moricochi, ex-diretor do Instituto de Agronomia, em São Paulo.
Carlos Brando, consultor de marketing que promove o café brasileiro, resume a estrutura do mercado: três países (Brasil, Vietnã e Colômbia) respondem por mais de 50% das exportações mundiais de café verde e três companhias multinacionais de (Nestlé, Kraft Foods e Sara Lee) respondem por mais de 50% das importações mundiais de café.
Países que não cultivam café, como Alemanha e Itália, são no momento as duas maiores plataformas de reexportação. "Precisamos capturar uma parcela desse mercado de reexportação e adicionar valor localmente", diz ele.
Algumas iniciativas já foram lançadas. Mas acredita-se que o plano, que tem o apoio do governo brasileiro, só se materializará quando algumas das principais empresas comerciais forem convencidas a lhe emprestar apoio.
"A Sara Lee teria os recursos tecnológicos perfeitos para que atingíssemos o mercado de exportações", diz Moricochi.
Mas a empresa vê a idéia como uma perspectiva distante. "Faria sentido produzir [café torrado" localmente para exportação. Mas isso tem de ser uma visão para o futuro", diz Maurílio Lobo Filho, presidente da divisão brasileira de café da Sara Lee.
A empresa compra mais de 15% da safra brasileira de café e exporta apenas café verde. Ela adquiriu diversas torrefações locais nos últimos três anos. As cinco marcas que ela controla hoje têm 25% do mercado doméstico de café.
A Sara Lee também está promovendo o café gourmet das montanhas de Minas Gerais e uma região próxima conhecida como Mogiana, no Estado de São Paulo. Manu Melotte, diretor de marketing de café, diz que o foco atual está todo no Brasil, mas ele não descarta a exploração de oportunidades de exportação.
"Nossos produtos provavelmente serão encontrados em algumas lojas que vendem café sofisticado em San Francisco ou Nova York, onde existe mais demanda por esse tipo de produto", diz.
Diversas questões de negócios precisam ser resolvidas antes que a Sara Lee ou outras empresas possam avançar e produzir uma mistura para distribuição mundial. "Não se pode exportar sem importar", diz Milton Dallari, um dos fornecedores dos novos cafés para gourmets da Sara Lee.
No entanto, muitos dos cafeicultores locais, que já têm dificuldades com produção excessiva e preços baixos, continuam resistindo à idéia de importar grãos de outras partes do mundo a fim de reexportar variedades mais consumidas na Europa ou nos EUA.


Tradução de Paulo Migliacci


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