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VENDAS EXTERNAS
Exportação do produto depende de importação de grãos melhores e investimento de empresas comerciais
Café mais elaborado é meta de exportação do Brasil
THIERRY OGIER
DO "FINANCIAL TIMES"
Nas áreas montanhosas de Minas Gerais, os grãos de café amadurecem lentamente cerca de mil metros acima do nível do mar. A colheita ali acontece mais tarde do
que em outras regiões, porque o sol não é tão forte. Em compensação, o café suave cultivado ali é muitas vezes de altíssima qualidade e os produtores em geral conseguem melhor preço por ele.
Ainda assim, com os cafeicultores brasileiros colhendo uma safra gigante de 40 milhões de sacas
neste ano, o setor se volta cada vez
mais para atividades que vão além
da venda de grãos verdes, cujos
preços continuam deprimidos.
O projeto mestre de exportação
de café torrado de alta qualidade
está sendo levado com novo vigor. Mas isso significa mudar a
atitude em um país que vem exportando grãos de café como
commodity há mais de 200 anos.
"Não faz sentido que o maior
produtor de café e exportador de
grãos do mundo venda no exterior o equivalente a apenas 40 mil
sacas de café torrado", diz Luiz
Moricochi, ex-diretor do Instituto
de Agronomia, em São Paulo.
Carlos Brando, consultor de
marketing que promove o café
brasileiro, resume a estrutura do
mercado: três países (Brasil, Vietnã e Colômbia) respondem por
mais de 50% das exportações
mundiais de café verde e três
companhias multinacionais de
(Nestlé, Kraft Foods e Sara Lee)
respondem por mais de 50% das
importações mundiais de café.
Países que não cultivam café,
como Alemanha e Itália, são no
momento as duas maiores plataformas de reexportação. "Precisamos capturar uma parcela desse
mercado de reexportação e adicionar valor localmente", diz ele.
Algumas iniciativas já foram
lançadas. Mas acredita-se que o
plano, que tem o apoio do governo brasileiro, só se materializará
quando algumas das principais
empresas comerciais forem convencidas a lhe emprestar apoio.
"A Sara Lee teria os recursos
tecnológicos perfeitos para que
atingíssemos o mercado de exportações", diz Moricochi.
Mas a empresa vê a idéia como
uma perspectiva distante. "Faria
sentido produzir [café torrado"
localmente para exportação. Mas
isso tem de ser uma visão para o
futuro", diz Maurílio Lobo Filho,
presidente da divisão brasileira de
café da Sara Lee.
A empresa compra mais de 15%
da safra brasileira de café e exporta apenas café verde. Ela adquiriu
diversas torrefações locais nos últimos três anos. As cinco marcas
que ela controla hoje têm 25% do
mercado doméstico de café.
A Sara Lee também está promovendo o café gourmet das montanhas de Minas Gerais e uma região próxima conhecida como
Mogiana, no Estado de São Paulo.
Manu Melotte, diretor de marketing de café, diz que o foco atual
está todo no Brasil, mas ele não
descarta a exploração de oportunidades de exportação.
"Nossos produtos provavelmente serão encontrados em algumas lojas que vendem café sofisticado em San Francisco ou Nova York, onde existe mais demanda por esse tipo de produto", diz.
Diversas questões de negócios
precisam ser resolvidas antes que
a Sara Lee ou outras empresas
possam avançar e produzir uma mistura para distribuição mundial. "Não se pode exportar sem importar", diz Milton Dallari, um dos fornecedores dos novos cafés
para gourmets da Sara Lee.
No entanto, muitos dos cafeicultores locais, que já têm dificuldades com produção excessiva e preços baixos, continuam resistindo à idéia de importar grãos de outras partes do mundo a fim de reexportar variedades mais consumidas na Europa ou nos EUA.
Tradução de Paulo Migliacci
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