DA REPORTAGEM LOCAL

Há três anos, o médico veterinário João Carlos Nocera decidiu tentar em sua fazenda em Nhecolândia, no Pantanal sul-mato-grossense, uma alternativa à complicada produção de javali. Para isso, cruzou o animal de origem européia com um suíno selvagem da região, o porco monteiro. Estava criado o javonteiro.
A cruzamento superou as expectativas do criador, que decidiu desenvolver um projeto para a criação comercial do animal. O animal realmente é mais fácil de manejar, não por ser dócil, mas por se adaptar melhor a áreas cercadas. Além disso, segundo Nocera, sua carne é menos gordurosa e tem menos colesterol que a do de porco comum, apesar de manter o gosto forte do suíno europeu.
Os aspectos nutricionais da carne do javonteiro estão sendo estudados pelo Ital (Instituto de Tecnologia de Alimentos de Campinas). O objetivo é certificar que realmente a carne do animal é menos gordurosa e mais "saudável" que a dos porcos comuns.
De acordo com a coordenadora do Centro de Tecnologia de Carnes do Ital, Luciana Miyagusku, o estudo sobre a carne do javonteiro está perto de ser finalizado. "Aparentemente, essa carne realmente é pouco gordurosa", diz.
Desde 2000, a Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), de Campo Grande (MS), dá assistência ao projeto e, em junho, deve iniciar pesquisas nutricionais e de mercado sobre o javonteiro. Segundo o coordenador do projeto, professor Medson Janer da Silva, o interesse da universidade é transformar o javonteiro em uma alternativa viável aos pequenos produtores do Estado.
O custo de produção do javonteiro, segundo Nocera, é de cerca de R$ 3,70 por quilo. Para o professor, esse custo pode ser reduzido ainda mais, para R$ 2,50/kg. O custo de produção de um quilo de carne de javali é de R$ 5,00.

Impedimento legal
O grande empecilho à disseminação do javonteiro, segundo Nocera, é uma lei federal que impede que mais produtores de javalis ou de cruzamentos de javalis se instalem no país. Considerado uma praga, o javali foi proibido após alguns animais, fugidos de fazendas na Argentina, destruírem plantações no Sul. Apenas quem já criava os animais antes da lei, em 1998, têm permissão para continuar criando.
"Para iniciar uma criação, o interessado teria que comprar a permissão para criar esses animais com sangue de javali de criadores já estabelecidos."
Para tentar driblar essa dificuldade, a meta de Nocera é transformar o javonteiro em uma raça distinta da do javali. "Isso, porém, depende da aprovação do Ibama", diz. (JOSÉ SERGIO OSSE)


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