UOL


São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"FASE DOIS"

Presidente diz que brasileiro compra uma geladeira a prazo e paga duas por causa do custo de financiamento

Lula quer usar banco oficial para baixar juro

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ameaçou ontem usar os bancos oficiais -como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil- para forçar tanto a expansão do mercado de crédito ao consumidor no país como a queda das taxas de juros.
A idéia é que os bancos oficiais abram mão de uma parte de seus "spreads" e cobrem juros menores -"spread" é a diferença entre a taxa de juros paga pelo banco ao captar recursos no mercado e a que ele recebe ao emprestar o dinheiro aos clientes.
A ameaça foi feita durante encontro realizado ontem à tarde em São Paulo entre o presidente e empresários do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Lula voltou a afirmar que o grande problema dos juros no país não são os 26,5% da taxa Selic (a taxa de juros básica da economia), e sim os cobrados pelos bancos privados. Segundo dados do Banco Central, em abril os consumidores pagaram 178,5% ao ano nos juros do cheque especial. Na média, os juros da economia real chegaram a 58% ao ano no primeiro trimestre deste ano.
"Se os bancos cobrassem a taxa Selic, haveria fila até a Lua de gente para tomar empréstimo", disse Lula. De acordo com o que a Folha apurou com alguns dos empresários presentes, Lula afirmou que a idéia de usar bancos oficiais para forçar a baixa dos juros é apenas uma das medidas estudadas para expandir a oferta de crédito para os consumidores e as empresas.
Lula estava acompanhado dos ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda), Luiz Dulci (secretário-geral da Presidência), Marco Aurélio Garcia (assessor para assuntos internacionais) e Oded Grajew (assessor especial), entre outros.
Os empresários presentes ao encontro eram Ivoncy Ioschpe, presidente do Iedi; Eugênio Staub, da Gradiente; Paulo Cunha, do Grupo Ultra; Josué Gomes da Silva, da Coteminas e filho do vice-presidente José Alencar; e Fernão Bracher, ex-banqueiro.
Lula disse que o governo estuda uma forma de os bancos oficiais criarem linhas de crédito ao consumidor com juros menores do que os cobrados no mercado.
Segundo o presidente, o crédito no Brasil é pequeno porque não há demanda devido ao nível das taxas de juros. Como exemplo, disse que, em razão do custo de financiamento, o brasileiro paga o preço de duas geladeiras para comprar somente uma.
No encontro, os empresários defenderam que o Brasil adote um câmbio competitivo (dólar alto) para aumentar as exportações e reduzir o passivo externo do país. O Brasil, na opinião do Iedi, precisa adotar uma política de megassuperávits comerciais constantes para reduzir seu endividamento externo.
Os empresários também defenderam uma política industrial para reduzir os gargalos que existem nas cadeias produtivas do país.

Esforço
Se o presidente Lula realmente levar até o fim a sua ameaça de usar os bancos oficiais para ajudar na queda das taxas de juros, terá de fazer um grande esforço.
A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil cobram juros no mesmo patamar dos bancos comerciais. Segundo dados do Procon/SP de maio, na categoria empréstimo pessoal, por exemplo, a taxa cobrada pelo Banco do Brasil é de 5,9% ao mês e a da CEF é de 6,25% ao mês.
Esses índices estão na faixa das outras instituições, pois ainda segundo o Procon, a maior taxa nessa categoria é a do Itaú, de 6,95% ao mês, e a mais baixa é a da Nossa Caixa, de 4,75%.
Na categoria cheque especial, o Banco do Brasil cobra taxas mensais de 9% e a CEF, de 9,2%. Nessa categoria, a maior taxa, segundo o Procon, é cobrada pelo BCN, de 10,4% ao mês, e a menor é da Nossa Caixa, de 8,85% ao mês.
Os juros cobrados pelos bancos têm efeito direto sobre seus lucros. Ontem, o Banco Central informou que os ganhos das instituições no primeiro trimestre cresceram 18,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
Segundo as números apresentados ontem pelo Banco Central, o lucro acumulado de 164 instituições financeiras que atuam no país chegou a R$ 4,8 bilhões no período.


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Empresário nega que taxa tenha sido discutida
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.