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"FASE DOIS"
Presidente diz que brasileiro compra uma geladeira a prazo e paga duas por causa do custo de financiamento
Lula quer usar banco oficial para baixar juro
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ameaçou ontem usar os bancos oficiais -como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil- para forçar tanto a expansão
do mercado de crédito ao consumidor no país como a queda das
taxas de juros.
A idéia é que os bancos oficiais
abram mão de uma parte de seus
"spreads" e cobrem juros menores -"spread" é a diferença entre
a taxa de juros paga pelo banco ao
captar recursos no mercado e a
que ele recebe ao emprestar o dinheiro aos clientes.
A ameaça foi feita durante encontro realizado ontem à tarde
em São Paulo entre o presidente e
empresários do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial).
Lula voltou a afirmar que o
grande problema dos juros no
país não são os 26,5% da taxa Selic
(a taxa de juros básica da economia), e sim os cobrados pelos
bancos privados. Segundo dados
do Banco Central, em abril os
consumidores pagaram 178,5%
ao ano nos juros do cheque especial. Na média, os juros da economia real chegaram a 58% ao ano
no primeiro trimestre deste ano.
"Se os bancos cobrassem a taxa
Selic, haveria fila até a Lua de gente para tomar empréstimo", disse
Lula. De acordo com o que a Folha apurou com alguns dos empresários presentes, Lula afirmou
que a idéia de usar bancos oficiais
para forçar a baixa dos juros é
apenas uma das medidas estudadas para expandir a oferta de crédito para os consumidores e as
empresas.
Lula estava acompanhado dos
ministros Antonio Palocci Filho
(Fazenda), Luiz Dulci (secretário-geral da Presidência), Marco Aurélio Garcia (assessor para assuntos internacionais) e Oded Grajew
(assessor especial), entre outros.
Os empresários presentes ao
encontro eram Ivoncy Ioschpe,
presidente do Iedi; Eugênio
Staub, da Gradiente; Paulo Cunha, do Grupo Ultra; Josué Gomes da Silva, da Coteminas e filho
do vice-presidente José Alencar; e
Fernão Bracher, ex-banqueiro.
Lula disse que o governo estuda
uma forma de os bancos oficiais
criarem linhas de crédito ao consumidor com juros menores do
que os cobrados no mercado.
Segundo o presidente, o crédito
no Brasil é pequeno porque não
há demanda devido ao nível das
taxas de juros. Como exemplo,
disse que, em razão do custo de financiamento, o brasileiro paga o
preço de duas geladeiras para
comprar somente uma.
No encontro, os empresários
defenderam que o Brasil adote
um câmbio competitivo (dólar alto) para aumentar as exportações
e reduzir o passivo externo do
país. O Brasil, na opinião do Iedi,
precisa adotar uma política de
megassuperávits comerciais
constantes para reduzir seu endividamento externo.
Os empresários também defenderam uma política industrial para reduzir os gargalos que existem
nas cadeias produtivas do país.
Esforço
Se o presidente Lula realmente
levar até o fim a sua ameaça de
usar os bancos oficiais para ajudar na queda das taxas de juros,
terá de fazer um grande esforço.
A Caixa Econômica Federal e o
Banco do Brasil cobram juros no
mesmo patamar dos bancos comerciais. Segundo dados do Procon/SP de maio, na categoria empréstimo pessoal, por exemplo, a
taxa cobrada pelo Banco do Brasil
é de 5,9% ao mês e a da CEF é de
6,25% ao mês.
Esses índices estão na faixa das
outras instituições, pois ainda segundo o Procon, a maior taxa
nessa categoria é a do Itaú, de
6,95% ao mês, e a mais baixa é a
da Nossa Caixa, de 4,75%.
Na categoria cheque especial, o
Banco do Brasil cobra taxas mensais de 9% e a CEF, de 9,2%. Nessa
categoria, a maior taxa, segundo o
Procon, é cobrada pelo BCN, de
10,4% ao mês, e a menor é da Nossa Caixa, de 8,85% ao mês.
Os juros cobrados pelos bancos
têm efeito direto sobre seus lucros. Ontem, o Banco Central informou que os ganhos das instituições no primeiro trimestre
cresceram 18,7% em relação ao
mesmo período do ano passado.
Segundo as números apresentados ontem pelo Banco Central, o
lucro acumulado de 164 instituições financeiras que atuam no
país chegou a R$ 4,8 bilhões no
período.
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