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OPINIÃO ECONÔMICA
O relançamento da economia: atiçando o debate
ANTONIO BARROS DE CASTRO
As decisões privadas quanto ao ingresso em novas atividades e até mesmo aquelas relativas à ampliação de setores preexistentes foram, no Brasil, profundamente influenciadas por
políticas públicas, entre 1950 e
1980. Esse tipo de interferência
veio a ser, contudo, drasticamente reduzido, pelo menos no que
toca a iniciativas do governo federal, durante os anos 80 e 90.
Presentemente, a visão segundo
a qual os poderes públicos devem
empenhar-se em direcionar a
acumulação de capitais para determinados setores em que a estrutura industrial brasileira apresenta serias deficiências (ou esgotamento da capacidade instalada) vai se tornando a idéia central da nova política industrial.
Como no passado, o objetivo imediato seria o alívio das dificuldades a que estão submetidas as
contas externas do país.
Quero fazer algumas ponderações acerca desse tema, cuja importância é difícil exagerar.
Primeiramente não cabe dúvida de que o extraordinário sucesso de algumas experiências em
que os poderes públicos amplamente interferiram na orientação
das decisões privadas (sendo a
Coréia do Sul o mais notório caso) e o espetacular fracasso de experiências em que se tentou a
construção ou a reconstrução da
economia praticamente sem Estado e políticas públicas (como na
Rússia) mudaram os termos do
debate.
Segundo, uma coisa é defender
a implantação ou mesmo a expansão de setores, a partir de recursos e políticas públicas, numa
economia em que a estrutura industrial está sendo montada (como a Coréia do Sul dos anos 1960
e 1970). Outra é tentar a implantação de novas atividades, numa
economia já bastante diversificada. Sobretudo em se tratando de
economias abertas -e, pior ainda, ante a existência de ampla capacidade ociosa (nesses mesmos
setores), no mundo como um todo.
A principal razão pela qual a
questão muda, quando já existe
um tecido industrial diversificado, é a possível existência de muitas oportunidades de negócio latentes, quando muito semipercebidas. Em tal quadro é possível
-a partir de um quadro macroeconômico entendido como estável- que o estímulo a iniciativas
ousadas e criativas dê partida a
um surto de decisões capaz de relançar a economia. Os resultados
daí para a frente obtidos se encarregariam de reorientar, amplamente, o uso dos recursos na economia. Para tanto, parece ser, no
entanto, indispensável contar
com uma série de instrumentos
de apoio às decisões voltadas para
a exploração das novas possibilidades. A minirreforma tributária
votada pelo Congresso em dezembro de 2002 e ainda não regulamentada contém alguns elementos favoráveis ao avanço nessa direção.
Em tempo: a extraordinária renovação das empresas industriais
brasileiras nos anos 90 é uma prova contundente da existência de
possibilidades insuspeitadas de
evolução, a partir de recursos e
saberes, em grande medida, preexistentes. Face a considerações
desse tipo, o "pessimismo exportador" (premissa maior do brutal
esforço de substituição de importações prevalecente de 1950 a
1980) pertence ao passado e não
tem por que ser revivido. E, sobretudo, é preciso admitir que, numa
economia amplamente diversificada e patentemente dotada de
uma capacidade de mudar, políticas "leves", de mera "animação" de decisões, podem levar a grandes resultados.
Antonio Barros de Castro, 65, professor titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), escreve às quartas a cada 15 dias, nesta coluna.
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