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LUÍS NASSIF
Os sofismas do Copom
Há dois sofismas recorrentes
nesse falso macroeconomismo que passou a dominar o país
nas últimas décadas. Um deles é
o uso do manjadíssimo "em todo
lugar que deu certo é assim". O
Brasil deve manter o livre fluxo
de capitais e não interferir no
mercado de câmbio por conta
dessa universalização de políticas. Não adianta estudiosos periodicamente esclarecerem que
BCs do mundo todo atuam sobre
a volatilidade cambial e que países que deram certo não têm vulnerabilidade externa como a do
Brasil, portanto não são realidades comparáveis. Sai o artigo desmentindo o bordão, passa um
tempo e volta-se com a mesma
cantilena.
A segunda arma de retórica é
tomar o todo pela parte ou não
relativizar as informações utilizadas no raciocínio. A última ata
do Copom é um primor de sofisma. Manteve-se a taxa de juros
inalterada porque houve dissídios em que os reajustes se basearam na inflação passada, ou seja,
voltou-se com a indexação. Assim, só isso! Basta afirmar que
houve dissídios indexados para
encontrar a justificativa para a
manutenção dos juros.
A edição de segunda-feira da
Folha dimensionou de maneira
competente o tamanho da encrenca. O percentual de reajustes
indexados foi baixo e a massa de
salários está caindo. Devidamente dimensionado, o álibi não
existe.
Compare-se essa análise com
as informações de que se vale um
Greenspan para tomar suas decisões, consultando indicadores de
atividades de todos os setores da
economia.
O BC perdeu o "timing" da redução dos juros. Em um certo
momento, insistiu nos juros altos, recebeu críticas, mas ainda
se estava em uma zona de palpites -entre os que apostavam
que a atividade econômica estava derretendo e os que precisam
ver o defunto na mesa da UTI
para acreditar. Essa era a legitimação técnica para o BC resistir
às pressões políticas.
Agora, a cada dia que passa, o
BC vai perdendo legitimidade
técnica. E, quanto mais perde legitimidade técnica, mais fortalecidas ficam as críticas políticas.
No dia em que baixar os juros, a
leitura do mercado será a de que
o banco foi derrotado. E quanto
mais demorar para baixar piores
serão as consequências sobre o
segundo semestre.
Essa política monetária imprudente está provocando uma
transferência brutal de renda para o setor financeiro. Há bancos
escondendo lucros, com receio de
comprometer sua própria imagem, em um país afundado em
crise.
O PT que emergiu das eleições
é um partido pragmático. Por tal
entenda-se: um partido que deixa de lado velhas convicções e
preconceitos, em busca de resultados: governabilidade e fortalecimento político. Essa política
monetária incompetente está
corroendo a base de apoio do PT.
No segundo semestre, à medida
que a atividade econômica continuar afundando, que o saldo
comercial cair (se o dólar foi
mantido desvalorizado) e que a
dívida pública explodir ainda
mais e que finalmente cair a ficha da opinião pública de que
não havia legitimação técnica
nessa política do BC, o que irá
acontecer com o governo Lula
em relação aos bancos e à própria política monetária?
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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