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São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

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RECEITA ORTODOXA

"Temos que pressionar os banqueiros que estão em uma situação muito confortável", afirma ministro

Juro é assalto à mão armada, diz Mantega

SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Guido Mantega (Planejamento) voltou a cobrar ontem a redução das taxas de juros dos bancos e das financeiras, dizendo que essas taxas hoje são "um disparate, um assalto a mão armada". O ministro disse ainda que o setor precisa de mais competição.
"Temos que pressionar os senhores banqueiros que estão em uma situação muito confortável. Não há competição." Segundo ele, o governo vai aumentar a concorrência no setor por meio dos bancos públicos e pela regulamentação de novas cooperativas de crédito.
Sobre a manutenção em um nível elevado das taxas de juros básicas, que são definidas pelo Banco Central, Mantega disse: "Vamos esquecer essa questão e começar a pensar no crescimento e no desenvolvimento". O mesmo discurso foi usado pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, na semana passada.
Em texto sobre o Plano Plurianual 2004/2007 distribuído ontem aos congressistas da Comissão Mista de Orçamento, Mantega traça como objetivo do plano um crescimento econômico superior a 5% ao ano.
Antes, o ministro vinha falando em mais de 4% de crescimento anual. Para este ano, a projeção é de apenas 2%.
Na semana passada, antes de visitar a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Mantega já havia criticado as taxas bancárias. O ministro disse que o governo estava fazendo a sua parte e estava na hora de os bancos fazerem a parte deles.
Ontem, provocado pelos congressistas da oposição, Mantega relatou uma conversa que teve com o presidente do Bradesco, Lázaro Brandão. Segundo o ministro, houve uma crítica aos juros praticados pelos bancos.
Brandão teria dito que as taxas eram de 2% a 2,5% ao mês. "Para quem?", teria questionado o ministro, acrescentando que "os juros para capital de giro são de 50% a 60% ao ano", segundo seu relato. A assessoria de Brandão disse à Folha que o banco não comentará as declarações do ministro.
Em outro momento, Mantega afirmou que todos estão preocupados com os juros básicos, mas que as taxas bancárias estariam passando "despercebidas". "E o pessoal está lá faturando", disse.
Segundo ele, o crédito bancário é caro porque os bancos "exageram" nas margens de lucros e nas perspectivas de inadimplência. A Febraban informou, por meio da assessoria de imprensa, que não poderia comentar as declarações do ministro ontem.
Nas discussões sobre o Plano Plurianual, Mantega informou os congressistas que o Brasil tem hoje US$ 5 bilhões em empréstimos aprovados pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) que não são desembolsados. Segundo ele, o problema é a falta de dinheiro para as contrapartidas, ou seja, o elevado nível de endividamento do setor público.


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