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Opção por título seca crédito bancário
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase um terço -27%- dos
recursos que os bancos detêm e
que poderiam se transformar em
operações de crédito para as empresas e consumidores brasileiros
é aplicado em títulos públicos. Para empréstimos e financiamentos,
sobra apenas outro terço, cerca de
29%. O resultado: o Brasil é um
dos mercados em que os bancos
menos emprestam dinheiro para
o setor privado.
Comprar um título público é sinônimo de emprestar para o governo, que paga hoje 26,5% de juros ao ano. É uma operação de risco baixo. Além disso, é mais fácil
financiar um grande devedor que
tem R$ 644 bilhões em títulos na
praça do que gerenciar milhares
de pequenas e médias operações.
"É um lucro mais ou menos fácil. Os bancos não precisam sequer disputar clientes", diz Miguel de Oliveira, da Anefac, associação de executivos de finanças.
Exigências
Parte dos recursos vai obrigatoriamente para as mãos do governo. Os bancos precisam cumprir
exigências de liquidez -ou seja,
ter ativos que podem, rapidamente, ser transformados em moeda- e um dos papéis mais líquidos são os títulos do governo.
Algumas operações de captação, como a poupança, também
exigem que parte dos recursos seja aplicada em títulos da dívida
pública. Ou seja, a própria regulação do setor financeiro obriga os
bancos a aplicarem parte do dinheiro que arrecadam em títulos.
Mas, diante de uma economia
estagnada, com índices de inadimplência crescentes e renda em
queda, as instituições preferem
deixar os recursos de que dispõem em títulos, e a proporção do
ativo que poderia virar crédito fica ainda menor.
"Parte deste tipo de aplicação é
uma decisão dos bancos, mas parte ocorre por conta das normas a
que eles estão sujeitos. Na prática,
o governo garante a procura e
bons preços para os seus títulos",
diz Alfredo Penteado Moraes, vice-presidente da Andima (Associação Nacional das Instituições
do Mercado Financeiro).
O governo, explica Moraes, acaba competindo com empresas e
consumidores pelos recursos dos
bancos. E leva vantagem. Como é
um grande devedor e oferece um
ativo relativamente seguro, abocanha boa parte das carteiras das
instituições. O resultado é que o
dinheiro disponível para crédito é
escasso e, portanto, o preço de
crédito -os juros pagos pelos
empréstimos-, alto.
"Apesar de todo o debate sobre
crédito e sobre a necessidade de
elevar o volume de crédito, a
questão acaba se resumindo a
preço", diz Moraes. Ele explica:
como os juros são altos, seja porque sobra pouco dinheiro para o
setor privado, ou porque o Banco
Central mantém a taxa básica da
economia em níveis elevados,
poucas pessoas ou empresas se
aventuram a recorrer ao crédito.
"Quem faria algum investimento com dinheiro de banco no Brasil? Ninguém. Que tipo de operação pode render mais do que os
juros cobrados pelas instituições?,
questiona Moares.
Oliveira, da Anefac, concorda.
Mas faz a ressalva de que parte
dos juros elevados viram lucro fácil para os bancos. Do "spread
bancário" -a diferença entre as
taxas a que os bancos captam dinheiro e as taxas a que eles o emprestam-, 40%, diz, correspondem à margem de lucro das instituições.
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